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RÉMOND, René. As Eleições in: RÉMOND, René. Por uma história política: Rio de Janeiro: Ed. UFRJ/Ed. FGV, 1996.

Qual a importância do estudo das Eleições no campo da História Política? Quais foram os primeiros estudos? Quais as principais problemáticas tratadas? Quais as novas possibilidades de abordagem na historiografia política?

A relação da História com as Eleições, o papel dos historiadores no estudo sobre o fato eleitoral, como se estabeleceu este campo na França a partir da instituição da República, as principais obras, os principais temas, são algumas questões que René Remónd se pretende a refletir neste texto. Em suas palavras: ‘(…) avaliar a contribuição da dimensão histórica ao estudo das eleições e à compreensão dos comportamentos eleitorais.’ (Rémond, 1996, p.37)

Para tanto, a primeira discussão apresentada pelo autor é relativa a seus pressupostos quanto ao que diz respeito ao que seria o historiador. Segundo o autor historiador seria aquele que pertence manifestamente à corporação dos historiadores, fazendo jus as suas instituições, pelo diplomas que obtiveram, mas que mesmo a demasiada importância das distinções corporativas, na revisão apresentada sobre a relação entre os estudos sobre eleições e a História, o autor seria injusto se restringisse a apresentação de obras apenas a especialistas comprovados.

A partir desta consideração, o autor mostra que o primeiro tema que chamou atenção de trabalhos históricos sobre eleições na França, foi a análise dos resultados dos sufrágios universais para avaliar a composição de forças no poder. Neste caso o livro citado é de François Goguel sobre partidos políticos na Terceira República cujas relações de força foram analisadas entre dois grandes blocos, o da Ordem e o do Movimento.

O autor procede, então, uma análise da antiguidade e continuidade do fenômeno eleitoral para avaliar o que foi que causou o interesse dos historiadores para o fenômeno. O primeiro ponto chamado atenção pelo autor foi o papel decisivo que as eleições tinham no regime a partir do reconhecimento da opinião pública como a responsável pela legitimação do poder. Além disto, o fenômeno seria responsável por uma periodização da vida política na medida em que analisado de acordo com a existência ou não dos pleitos.

Deste interesse geral, doravante veio análises mais especializadas, onde o principal tema fora: ‘acompanhar de perto a cronologia das consultas eleitorais, por sufrágio restrito e universal, discriminando seus resultados na distribuição das cadeiras na Câmara dos Deputados ou no corpo legislativo, e calculando as conseqüências sobre a relação de forças e a estabilidade das instituições.’ (Rémond, 1996, p.39)

Nesse sentido, os estudos ainda estavam voltados às eleições e sua relação com o poder instituído; como estas se relacionavam com o funcionamento do poder? Assim os estudos se centravam, sobretudo, nas conseqüências, o que elas modificavam depois no equilíbrio de forças no poder, são exemplos de problemas: ‘A relação entre maioria e oposição, a composição dos governos e até mesmo, ocasionalmente, o funcionamento das instituições ou a duração dos regimes. (Rémond, 1996, p.40)

Segundo o autor, esta perspectiva foi alterada na medida em que entraram em cena as eleições como um objeto revelador do ‘espírito’ da opinião publica. Um interesse pelo o que ela representava em termos de correntes e tendências tanto quanto o que resultava das eleições. Cita então o trabalho de André Siegried, sobre a divisão geográfica das opiniões na França a partir da análise das eleições, o que se chamou então de ‘temperamento político regional’. Nesta esteira segue-se o trabalho de Seignobos a partir de uma análise detalhada da distribuição da direita e da esquerda por região. Ao que o autor caracterizou que a historia das consultas eleitorais que daí em diante passou a confundir-se com o que se caracterizou como a geografia eleitoral. Assim a análise das eleições tinha como centro a estabilidade, esta na perspectiva de mudanças com o objetivo de investigar as causas profundas destas permanências que constituíram um grande desafio para aqueles historiadores.

Caracterizado este primeiro momento o autor passa a falar de uma nova geração de Historiadores: A geração dos anos 50 na França, que foi caracterizada por Rémond pelo estudo do Estado focado a partir da análise de Departamentos; além de não se restringir apenas a dimensão política, buscando encontrar nas estruturas sociais e econômicas a chave da evolução política. Entretanto, mesmo deixando o fenômeno político com centro da explicação, este grupo teve como mérito a ampliação dos estudos a partir da produção de dados setorizados. Descendo a análise, às vezes, aos níveis municipais que seriam então uma novidade na época. Afirma Rémond que buscavam uma relação entre comportamentos eleitorais e outro tipos de atores. Percebe-se, pois, já uma intenção de identificar as circunstâncias do voto.

O autor prossegue sua apresentação mostrando, um deslocamento desta perspectiva que coloca de novo no centro da discussão a amplitude do fenômeno eleitoral que não estaria reduzido a explicação por meio de uma causa única. Concluindo que: ‘As mesmas causas geram, segundo as regiões analisadas, efeitos contrários, enquanto, uma mesma orientação política pode muito bem aparecer, em duas regiões distintas, como conseqüência de atores opostos. De todas as correlações consideradas e observadas, a mais estável continua sendo entre as opiniões políticas e crenças religiosas: se ela não é explicativa, ao menos tem uma virtude vaticinadora (Rémond, 1996, p.43) Uma consideração importante de Rémond sobre a explicação dos comportamentos políticos, verificada a partir da análise das eleições por esta perspectiva de estudo dos Departamentos, é que a explicação deve ser procurada no passado, no passado mais remoto. A pergunta que se então é: ‘A maioria desses trabalhos – será porque se inscrevem no quadro geográfico de departamentos onde o peso do eleitorado rural é superior ao das cidades? – se dedica à permanência dos comportamentos políticos e à estabilidade dos votos. (Rémond, 1996, p.43)

Assim o autor começa a mapear as mudanças a partir dos anos 60, argumentando que esta perspectiva departamental perde o fôlego à medida que cresce em número de pesquisas, devido ao ceticismo quanto à possibilidade de explicação dos comportamentos políticos e que coincide neste momento o eclipse da História política como um todo e o nome de Seignobos desaparece de cena, segundo o autor, um índice indicativo do declínio da História Política.

Depois deste declínio, o retorno da história política vem acompanhado do peso do método quantitativo a partir da depuração e análise de grandes amostras, considerando o papel do político como decisivo em muitos outros domínios. A justificativa do método quatitativo pelo autor estaria quando pergunta-se sobre que fenômeno se presta melhor a uma abordagem estatística e envolve mais indivíduos que a prática eleitoral? (Rémond,1996, p.45)

Deste modo, além destes avanços no que diz respeito ao método amparado em análises estatísticas, o estudo das Eleições pela História, passou ainda a contar com a discussão de outras disciplinas, o interesse pela longa duração, sem perder de seu ponto de vista os procedimentos, a perspectiva e a problemática orientada historicamente. Segundo o autor esta ultima fase ainda não se encerrou restando o entendimento de algumas outras possibilidades de análise. O programa de pesquisa assim descrito por Rémond estaria em refazer a História das Eleições aplicando às eleições do passado os métodos, conceitos e critérios elaborados pela ciência política em suas consultas contemporâneas.

O autor finaliza seu texto, desenvolvendo algumas sugestões diretamente ligadas à história política tentando trazer ao eixo de reflexão dos historiadores, as conseqüências da eleição, o fenômeno eleitoral em si, sugerindo o estudo das eleições para senadores, justificado por ser índice de um lócus de grande intriga da classe política. Ressalta que outro aspecto a ser incluído ao estudo da História das Eleições também seria as campanhas eleitorais. Segundo Rémond: ‘A campanha eleitoral é parte integrante da eleição, é seu primeiro ato. Não apenas a manifestação das preocupações dos eleitores ou a explicação dos programas dos candidatos e dos temas dos partidos é a entrada em operação de estratégias, a interação entre os cálculos dos políticos e os movimentos de opinião. Sobretudo, ela modifica cada dia as intenções e talvez as relações de forças. (Rémond, p.49)

Conceitos políticos: eleições, comportamentos eleitorais, opinião pública, sufrágio universal, legitimação do poder, maioria, oposição, composição dos governos, campanha eleitoral.

René Rémond

RÉMOND, René. Uma História Presente in: RÉMOND, René. Por uma história política: Rio de Janeiro: Ed. UFRJ/Ed. FGV, 1996.

Qual a importância da História Política? Mais especificamente qual a importância que este campo de investigação oferece na contemporaneidade? Quais os principais questionamentos, objetos, métodos da História Política?

O texto de René Rémond reflete sobre o retorno da História Política como um campo profícuo de investigação, levando em consideração os ataques que a mesma sofreu durante o Pós-Guerra por parte da História Social e Econômica, que alegavam a superficialidade da mesma. O autor parte do pressuposto que a História tem como objeto precípuo as mudanças que afetam a sociedade, e que tem por missão propor explicações para elas, não escapando ela própria à mudança. (Rémond, [1988], 1996, p.13) Assim o autor propõe uma história da história dentro de limites, pois esta mesma carrega o rastro das transformações da sociedade para evidenciar a importância da História Política e justificar seu retorno como um campo legítimo do conhecimento historiográfico.

O autor adota uma perspectiva sobre o que significa a emergência de um tema, objeto ou de uma teoria explicativa. Segundo o autor, as descobertas ou modas intelectuais se dão a partir da conjunção de diversos fatores: Tanto sobre o impulso de uma personalidade excepcional, como a partir da irradiação de uma obra mestra ou ainda a convergência destes e outros vários fatores convergentes.  Penso que estas são as formas de manifestação do fenômeno que estariam ligadas, sobretudo, a uma relação dialética entre a própria comunidade científica e a sociedade. Em outras palavras ao que René Rémond se reportou ao fazer a relação entre a história da disciplina e as transformações da sociedade logo acima.

Com efeito, Rémond mostra que a operação de uma moda e uma descoberta implica, muitas vezes, no esquecimento de outro ramo; mesmo salientando que nunca é possível livrar-se efetivamente da herança anterior. Para o caso apresentado pelo autor: ‘Era, pois, provavelmente inevitável que o desenvolvimento da história econômica ou social se fizesse às custas do declínio da história dos fatos políticos, daí em diante lançada num descrédito aparentemente definitivo. (Rémond, [1988], 1996, p.14)

Um fato importante ressaltado pelo autor é que para avaliar as causas, as possibilidades e a significação deste retorno da história política, os autores da coletânea, de qual este texto é o de abertura, utilizaram a perspectiva temporal. Define então um pressuposto epistemológico, ou seja, uma perspectiva para o conhecimento histórico: Trata-se da explicação dessas oscilações dada pela relação entre a realidade observada (Arquivo, passado via testemunho) e o olhar que observa (Teoria, presente via problemáticas).

O que é História Política definida anteriormente, mas que ainda guarda ressonâncias com as pesquisas atuais: É a História do Estado, do poder e das disputas por sua conquista ou conservação, das instituições em que ele se concentrava, das revoluções que o transformavam.

Um dos pontos ressaltados pelo autor para proeminência da História política durante o início da Historiografia moderna, talvez, seria a facilidade de acesso às fontes. Essas informações eram dadas deliberadamente por parte do Estado que deixava vestígios escritos e vasta documentação. Uma das perguntas do historiador, no entanto, é perguntar o por quê? Outra explicação é para o tipo de brilho que o Estado emanava naquela ocasião.

Logo após falar sobre a proeminência que a História Política teve no início da Historiografia, o autor começa a relatar as críticas que o campo passou a sofrer. Estas criticas se situavam, segundo o autor, em uma verdadeira controvérsia sobre a natureza das verdadeiras realidades sociais. Surge assim a perspectiva das longas durações, que deendia que o acontecimento ou os acidentes de conjuntura, ênfase da História Política, não comportavam o âmago da realidade. Daí vem uma questão que atravessa todas as ciências sociais: O individualismo metodológico ou o holismo metodológico. Pois, nas palavras de Rémond:

Seus pressupostos eram que os comportamentos coletivos tinham mais importância para o curso da história que as iniciativas individuais, que os fenômenos registrados numa longa duração eram mais significativos e mais decisivos que os movimentos de fraca amplitude, e que as realidades do trabalho, da produção, das trocas, o estado das técnicas, as mudanças da tecnologia e as relações sociais daí resultantes tinham mais conseqüências, e, portanto, deviam reter maior atenção dos observadores, que os regimes políticos ou as mudanças na identidade dos detentores de um poder cujas decisões, segundo se entendia, só faziam traduzir o estado das forças sociais, ou refletir realidades anteriores às escolhas políticas. (Rémond, (1988), 1996, p.16)

Acompanhado desta crítica, seguiu-se outra com relação à dimensão científica, à perspectiva biográfica e à cronologia dado que o acontecimento tem a ver com a ação dos indivíduos. Além de uma reflexão sobre os verdadeiros atores da história, seus personagens, os governantes ou as multidões e coletivos? Alguns exemplos sobre estas teorias para explicação da sociedade e da ação dos indivíduos, o autor salienta o peso que alguns autores como Marx e Freud tiveram no início do Século XX. Estes autores mostraram que as ações dos indivíduos seriam moldadas por interesses de classe e que a luta de classes seriam o verdadeiro motor da história. Para Freud, colocando em plena luz o papel do inconsciente atribuindo a libido, às pulsões sexuais, grande parte de responsabilidade pelos comportamentos individuais ocultou a ambição e o apetite de poder próprios do político.

René Rémond afirma que as críticas no contexto social tinham a ver com o advento da democracia política e social e do socialismo que voltavam à história para as massas. O autor, então, assim caracteriza as sociedades contemporâneas como relação à política:

Nas sociedades contemporâneas, a política organiza-se em torno do Estado e estrutura-se em função dele: o poder do Estado representa o grau supremo da organização política; é também o principal objeto de competições. Ora, a noção de Estado esta há meio século exposta ao fogo de uma critica que não se contentou como a critica liberal, em denunciar a ameaça que ele podia fazer pesar sobre as liberdades essenciais, mas que lutou contra sua própria realidade, contestando que ela existisse por si mesma. Rompendo com a tradição herdada do direito romano, que erigia o Estado em árbitro soberano acima dos interesses particulares, e contrariando o ensino de teologia, que o tratava como defensor imparcial do bem comum, os críticos modernos proclamam que ele não é nem soberano nem imparcial: é sempre açambarcado e não tem independência efetiva nem existência efetiva. O Estado jamais passa de instrumento da classe dominante; as iniciativas dos poderes públicos, as decisões dos governos são apenas a expressão da relação de forças. Ater-se ao estudo do Estado como se ele encontrasse em si mesmo o seu principio e a sua razão de ser é, portanto, deter-se na aparência das coisas. Em vez de contemplar o reflexo, retomemos à fonte iluminosa: ou seja, vamos de uma vez à raiz das decisões, às estratégias dos grupos de pressão. Eis por que os historiadores e sociólogos se desviaram da observação do Estado. Alain Touraine chegou a dizer com razão que há 30 anos se lançou uma interdição na historiografia e nas ciências sociais ao estudo do Estado. (Rémond, (1988), 1996, p. 20-21)

Destarte, o autor encerra sua apresentação sobre as críticas à História Política para iniciar sua reflexão sobre o (re)surgimento da História Política a partir dos anos 60 ou 70. Perguntando-se se trata de uma moda ou de um aprofundamento do objeto de conhecimento histórico. Afirma o autor que estas transformações são da mesma ordem quando diz respeito à realidade e à percepção que se interelacionam. (Rémond, p. 22) Assim para o retorno do político, demonstra-se que os efeitos da Guerra não são explicados somente por causas econômicas ou momentos de crises quando uma ideologia reservada à, por exemplo, nacionalizar as empresas, como um fenômeno político, tem conseqüências incalculáveis à economia. Outro fato fundamental para o retorno do interesse sobre o político apontado pelo autor foi a ampliação do Estado e, por conseguinte, dos fatos políticos. Deu-se também a crítica da ação política como simples decalque de interesses profissionais, salientando as causas múltiplas que envolvem o fenômeno.

Outros aspectos abordados pelo autor foi o aumento do papel da opinião pública e contestando uma teoria da despolitização, justificada pelo desenvolvimento do jornalismo político próximo da ciência política e o aparecimento do gênero de livro político. Contudo, o autor também menciona o problema do excesso, como o perigo de agora tudo passar a ser político e o ‘Maio de 1968’ como um grande responsável pela recondução do político para o primeiro plano da reflexão.

Dada conjuntura externa René Rémond concentra-se então na tentativa de compreender os fatores internos. Destaca grandes nomes da historiografia política francesa como Charles Seignobos, André Siegfried: O primeiro com suas contribuições nos estudos sobre a diversidade dos ‘temperamentos políticos’ e a antiguidade de seu enraizamento; e, para o segundo, a ‘geografia eleitoral’. Mais contemporaneamente o trabalho de Jean-Jacques Chevallier com e sua abordagem sobre o renascimento das idéias políticas, das instituições, correntes de pensamento e personalidades.

Ainda sobre relativo à historiografia o autor reflete sobre a relação do político como campo de investigação e as contribuições de outras disciplinas.  Um dos exemplos foi a aproximação com a matemática por parte dos historiadores para o processamento de dados estatísticos e a historia quatitativa. Com relação à ciência política um dos temas importantes tratados por ela e que os historiadores se atentaram foi a abstenção, o oposto a participação política. Relativo as instituições freancesas responsáveis por este renascimento do político estariam a VI seção da Ècole Pratique des Hautes Études em Sciences Sociales e A Fondation Nationale des Sciences Politiques.

O político como um importante fenômeno da realidade social estaria atestado por sua generalidade, mesmo considerando o alistamento Militar, o pagamento de impostos, a originalidade da prática eleitoral é ainda o que continua inteiramente livre. (Atentar-se que este caso é para a História Francesa, levando em consideração que no Brasil o voto é obrigatório como previsto pela Constituição de 1988)

Em resposta ao político como um fenômeno breve o autor estabelece uma tipologia com relação a uma temporalidade próprio dos objetos de estudo da História Política como, por exemplo, os dias, para os Golpes de Estado, dias de revolução, decisões ministeriais como a curta duração, uma duração média que teria como exemplo a história dos partidos e, por fim a longa duração com o estudo sobre as ideologias políticas. A definição única segundo o autor é derivada de uma definição estreita do político, se ele não estiver vinculado a outras dimensões da vida coletiva e dos outros aspectos individuais.

O autor concluiu que: ‘Abraçando os grandes números, trabalhando na duração, apoderando-se dos fenômenos mais globais, procurando nas profundezas, da memória coletiva, ou do insconscirnte, as raízes das convicções e as origens dos comportamentos políticos, a história política descreveu uma revolução completa. Como acreditar que seu renascimento possa ser apenas um veranico de maio? (Rémond, (1988), 1996, p. 36)

Conceitos políticos: Política, Estado, poder, democracia, socialismo, massas, governantes, governados, sociedade, ação política, opinião pública, sistemas partidários, abstenção, participação política, fatos políticos, processo eleitoral, comportamento político.

Vertentes da História política: história conceitual do político; culturas políticas; trajetórias e biografias; história das idéias políticas; linguagens políticas; história das palavras e dos conceitos; representações e imaginário político.

Revista de Teoria da História Ano 1, Número 2, dezembro/ 2009 Universidade Federal de Goiás ISSN: 2175-5892

http://www.historia.ufg.br/revistadeteoria/?menu_id=1260975401&pos=esq&site_id=113

Semântica da História nos clássicos evolucionistas da antropologia – séc. XIX e início do XX.
Mestrando João Paulo Aprígio Moreira
Universidade Federal de Goiás
E-mail: absencejp@hotmail.com

RESUMO

O fato de o método histórico ter sido utilizado pelos primeiros antropólogos levou a uma grande confusão dos termos que dizem respeito à História, já que os projetos, da Antropologia enquanto disciplina e da Historiografia, foram fruto de uma mesma cultura histórica ocidental do início do Séc. XIX. Este texto pretende precisar uma semântica do termo história a partir dos clássicos da Antropologia e seus diferentes usos nestas disciplinas, com ênfase na obra Primitive Culture de E. B. Tylor. Para tanto, apresento um contraponto entre o evolucionismo vitoriano e o difusionismo em Etnologia oriundo da matriz alemã da geiteswissenchaft.   Palavras-chaves: antropologia, história, evolucionismo,

Marcus, George. E. & Fischer, Michael. J. 1986. “Ethnography and interpretative anthropology”. In: Anthropology as cultural critique. Chicago & London: The University of Chicago Press, pp. 17-44.

George Marcus Chancellor’s Professor of Anthropology (PhD: Harvard, 1976)

office: Social and Behavioral Sciences Gateway (SBSG) 3566. University Of California

&

MICHAEL M.J. FISCHER

Professor of Anthropology and Science and Technology Studies

Massachussets Institute Of Technology (MIT)

9780226504506

O texto começa fazendo um histórico da antropologia no começo do Séc. XIX citando Edward Tylor, James Frazer e o norte-americano Lewis Henry Morgan.  A ‘armchair’ Ethnology que tinha sua pesquisa embasada via documentos e dados fornecidos por missionários e informantes ‘ qualificados’. Isto do ponto de vista metodológico.  No que diz respeito à teoria fundaram o evolucionismo cultural com uma agenda, estilo e escopo de pesquisa próprio. O principal eixo de investigação seria comparar costumes, hábitos e pensamentos em uma escala evolutiva que partia da selvageria passaria pelos bárbaros até chegar aos civilizados.

A transição critica ocorrida em tal paradigma se deu apenas a partir dos anos 20 do Sec. XX. Os autores associam as mudanças teóricas aos contextos de profissionalização acadêmica que vinha ocorrendo, especialmente, nos Estados Unidos. Assim, neste contexto, a antropologia seguiu um desenvolvimento marginal em relação às outras ciências, pois tornara-se a disciplina responsável pela descrição do exótico e de costumes primitivos. Essa separação da antropologia social e cultural da biologia e dos estudos arqueológicos reveberou-se em alguns problemas como a associação direta desta aos pressupostos teóricos dos primeiros antropólogos ainda no Sec. XIX.

Contudo, ocorreu um fato pelo qual os autores se referem como uma revolução em termos de método com a inauguração da própria etnografia. Segundo os autores: ‘ Ethnography is a research process in which the anthropologist closely observes, records and engages in the daily life of another culture – an experience labeled as the fieldwork method – and then writes accounts of this culture, emphasizing descriptive details‘ [1]. Esse procedimento sendo o primeiro na pesquisa de campo.

Marcus and Fischer afirmam que o legado da antropologia antiga no novo mundo acadêmico e profissional foi a diversidade dos assuntos que a etnografia colocou em questão. Teoricamente os antropólogos apareciam parasitários, pois pesquisavam generalidades  sobre o homem nas bases  especificas de outras culturas a partir do método etnográfico. Essa transição como mostra os autores teve uma longa história. Mas uma coisa é fato: Bronislaw Malinowski e seus Argonautas do Pacífico Ocidental, principalmente, o primeiro capitulo de seu livro onde descreve o método é reconhecidamente o fundador desta nova perspectiva.

O novo campo se configurou a partir dos Estados Unidos nos pressuposto do relativismo cultural e na Inglaterra com o funcionalismo. Menciona-se o avanço descritivo da perspectiva funcionalista e a produção de dados de campo e o relativismo cultural originariamente norte americano como oriundo de perspectivas metodológicas  que facilitaram  a predominância da antropologia no registro da diversidade cultural.

O relativismo cultural teve bastante repercussão no debate publico norte-americano intimamente ligado aos ideais do liberalismo. Este proveu dados empíricos para as questões de cunho ideológico. No entanto, estas idéias que se estabeleceram na década de 50, já nos anos 60 passavam por mudanças. (Penso aqui em comparar este humanismo, ou política teórica com a proposta da antropologia enquanto uma antropologia filosófica como a proposta de C. Lévi-Strauss e seus trabalhos desenvolvidos para a ONU, pensar diretamente o clima do pós-guerra e da Guerra Fria).

São duas as conseqüências desse momento apontadas pelos autores: (a) A primeira a coleta de dados fora dos pressupostos evolucionistas. (b) A outra seria a critica cultural de nós mesmos, não como no passado a artir de um evolucionismo, mas tendo um renovado potencial de desenvolvimento.  Isso teve um significado para a atual crise de representação que coloca a pesquisa etnográfica no centro da reflexão e a etnografia como um produto textual(escrito) do trabalho de campo, ainda que o campo seja uma experiência ele mesmo, afirmam os autores.

Com isto, apresentam dois caminhos para a centralidade da etnografia na discussão da antropologia. (a) Um, a etnografia em termos de um gênero literário e (b) o outro como uma regra de demarcação da prática antropológica.

Do ponto de vista institucional são três as esferas que contemplam a importância da etnografia na carreira dos antropólogos. (a) A primeira o papel da leitura das etnografias clássicas na formação dos antropólogos, trazendo um arsenal de questões que são formuladas em um novo aparato conceitual e de problemas teóricos. Esta perspectiva se ahistoricista, se sobrepõe como trabalhos imutáveis; ainda sim contribuem com um arsenal indispensável para a formação dos antropólogos. Os autores apontam para outra perspectiva a de que deve-se considerar o contexto histórico da produção desencorajando a cristalização destas descrições como uma forma social e cultural eterna.

(b) O segundo ponto salientado pelos autores, ainda no que diz respeito ao caráter institucional, é  a etnografia como um veiculo pessoal e imaginativo e que os antropólogos tem como meio de fazer suas contribuições as discussões teóricas e intelectuais, tanto através de sua própria disciplina como para outros campos. Ressaltam o papel anônimo do etnógrafo e solitário na produção de seus dados, o que não é muito comum nas outras disciplinas. O etnógrafo escreve a partir de uma experiência únicaa afirmam.

(c) O terceiro ponto e o mais importante segundo os autores é a atividade principal de iniciação da carreira do antropólogo e de estabelecimento de sua reputação. Tal atitude leva a uma certa romantização do fato. Não há consenso sobre a natureza da etnografia e os impactos que as criticas da década passada ofereceram. Os autores se perguntam por que essa desatenção com o que tem sido a pratica central da pesquisa em antropologia? Partindo do pressuposto de que há uma relação da questão do método ser peculiar  com a disputa com o positivismo de outras ciências que, no entanto, não exime a própria etnografia dos anos 50 de certo positivismo, mas esta questão teria que ser considerada.

Estabelecendo-se o critério da observação participante como um método qualitativo em oposição ao positivismo metodológico de outras partes da ciência social decorreu uma nova orientação metodológica e o silencio sobre a escrita etnográfica foi quebrado com a crise da representação que mudou o legado da ciência social em geral e isso tem sido bastante precioso para os antropólogos de acordo com os autores.  (Parece haver uma associação da etnografia ao positivismo, a despeito dela ser um método qualitativo)

Nesse sentido, entre a antropologia do Sec. XIX e a do XX, baseada na etnografia, a ambição generalista parece ter seguido dois caminhos segundo os autores: (a) Primeiro, a diferença seria que a etnografia se pautaria em um holismo diferente não para estabelecer generalizações, mas sim para demonstrar outras formas de vida possível a partir da diversidade cultural. Essas idéias têm sido atualmente seriamente criticadas, como eles prometem mostrar.  Então a diferença residiria que a essência desse holismo não estaria em uma representação enciclopédica dos costumes, mas sim na contextualização dos elementos de cada cultura dentro de um sistema coerentemente sistematizado.

(b) Segundo, a dimensão comparativa não estaria orientada por esquemas evolucionistas, e sim por um valor relativo de progresso. (Pensar o caso do Neo-Evolucionismo e de Darcy Ribeiro). Então este parâmetro de comparação estaria subsumido a um campo fechado de acesso do pesquisador e de seus leitores. O debate contemporâneo acerca da relação nós – eles traz a tona como se colocaria esse lado comparativo das etnografias. Os autores fazem então uma associação do estilo literário realista e esta postura de relacionar a parte com o todo. Esta relação estaria denunciada pelo fato de: “In fact, what gives the ethnographer authority and the text a pervasive sense of concrete reality is the writer’s claim to represent a world as only one who has known it firsthand can, which. thus forges an intimate link between ethnographic writing and fieldwork. “[2] A tese dos autores estaria que deste ponto de vista a etnografia produziu um novo tipo de realismo. Uma narrativa que tem similaridades com o texto dos viajantes e exploradores e que o principal motivo é o descobrimento romântico do escritor de pessoas e lugares desconhecidos comunicada para leitores. Só que a etnografia desenvolveu mecanismos para se distanciar das narrativas dos viajantes e dos amadores que foi a salvaguarda da diversidade cultural, de uma antiocidentalização durante o colonialismo.

Os autores fecham o argumento dizendo que: “  The cultures of Word peoples need to be constantly rediscovered as these peoples reinvent them in changing historical circumstances, especially at a time when confident  metanarratives or paradigms are lacking: as we noted, ours in an era of ‘post conditions’ – postmodern, postcolonial, postradicional.”[3] E que isto necessita de novos motivos narrativos. Isto se dá a partir de uma reflexão dos motivos passados que já foram analisadas em obras de Marcus e Clifford em que os autores discutem formas de etnografia experimental.

Afora o realismo do funcionalismo, os autores irão se debruçar na mudança da uma explicação da cultura para os significados e o ‘ponto de vista nativo’, tal qual como nasceu a antropologia interpretativa, assunto que analisarão no tópico subseqüente.

THE EMERGENCE OF INTERPRETATIVE ANTHROPOLOGY

Os autores anunciam as influencias da antropologia interpretativista de meados dos anos 60 e 70 e seu intuito central de captar o ‘ponto de vista nativo’ e elucidar como diferentes construções culturais da realidade afetam a ação social. E instrumentalizou os antropólogos a perguntarem-se sobre a relação entre diferentes sistemas culturais representados nos textos etnográficos e sua relação com o autor. Assim ela atuou em dois níveis nos pressupostos epistemológicos e provendo dados de outros mundos. E a assertiva da vida social como uma negociação de significados. A cultura como um texto frase de Geertz serve para demarcar a fronteira entre uma ciência do comportamento e uma interpretação cultural.

Os autores mencionam os paradigmas funcionalista, estruturalista e intepretativista e o papel que a linguagem assumia na discussão antropológica. Para a antropologia intepretativista haveria um movimento duplo se tratando da tradução de outras culturas. A do dialogo e o da passagem para o texto. Todavia esse debate foi influenciado por autores como Lacan e Gadamer com a questão histórica oferecendo certo tipo de hermenêutica cultural formulada por Geertz. Os autores mencionam alguns conceitos como justaposição e experiência próxima e experiência distante. E apontam que a antropologia interpretativa aparece como uma espécie de relativismo sofisticado a partir dos anos 60. Esse relativismo esta inscrito na problemática da comunicação entre as culturas. E esse discurso de igualdade legitimaria as diferenças de poder que colocariam a revelia um processo global de homogeneização pela qual o ocidente estaria à frente. Contudo, seria um campo complexo e pleno de discussões.

THE REVISION OF INTERPRETATIVE ANTHROPOLOGY

A emergência da antropologia interpretativa é apresentada pelos autores ainda nos anos 60 e foi significativa por mudar o escopo dos estudos das estruturas sociais e ações para o campo simbólico, dos significados e da mentalidade. As outras duas criticas foram ao método etnográfico e ao caráter ahistórico e apolítico do mesmo.

A partir de trabalhos como o de Paul Rabinow a relação com a pesquisa de campo começa a ser questionada. Uma das criticas mostradas pelos autores diz respeito que o contexto que diz respeito a historia e a economia política não estão restrito aos assuntos pesquisados, mas também ao próprio processo de pesquisa. O que se tinha na época era um profundo debate sobre o colonialismo que colocou a critica de Talal Asad bastante proeminente. Esse debate também foi marcado pelo contexto da guerra do Vietnam. Destaca, pois, dois projeto o Project Camelot destinado à América Latina e o Asian Studies Meeting para o sul da Ásia que tinham haver tanto com o processo de insurgência nos golpes de estados ocorridos no contexto de um mundo divido pela guerra fria. Há a menção da influencia dos estudos em economia política nos trabalhos de Eric Wolf, Sidney Mintz e June Nash. Os autores dizem que discutem um possível debate entre esta corrente da economia política e a interpretativa a partir de novas etnografias experimentais.

A principal questão colocada então é a distancia entre o que se coleta na pesquisa de campo e o processo de escrita da etnografia mediado por convenções e artifícios literários. Outro ponto é o papel da etnografia como critica cultural quando retorna e passa a ser lida em casa. Há então uma discussão sobre influencia do liberalismo na questão sobre diferença cultural a partir de pressuposto como a critica ao etnocentrismo e ao racismo, mas ao mesmo tempo reduz as questões dos conflitos como parte inerente de todas as sociedades. Desta perspectiva cultura é uma categoria de resistência e não um conceito que subjaz uma unidade universal.

A autoconsciência do próprio processo de escrita etnográfica e de que a etnografia atinge algo mais além do que um público de especialistas é precisamente isto que caracteriza o modo experimental de etnografias.

THE SPIRIT AND SCOPE OF EXPERIMENTAL ETHNOGRAPHIC WRITTING

Pensar no caso da Lila Abu-Lughod, a relação antropologia e prática militante.  Os autores mencionam a ficcionalidade da obra de Carlos Castaneda como um tipo de experimento etnográfico e sua inovação na escrito e que é este o quadro de se repensar a escrita etnográfica. A definição de uma etnografia experimental estaria na escrita etnográfica que ativa um efeito de inovação. Trata-se de uma reflexão sobre estratégias textuais. Dá o exemplo de Naven do Bateson com uma etnografia experimental. Estas mudanças liberam situações de experimentação. O senso a autoconsciência do caráter experimental da etnografia não significa um experimento em si, no entanto, pode ser uma importante ferramenta para desenvolvimentos da própria teoria.

O perigo do período experimental é certo tipo de etnografia cristalizar-se e torna-se um modelo. Os autores mencionam que é importante a presença do escritor no texto não apenas em nota de rodapé ou em prefácios, mas que seja discutida sua própria experiência em campo. Os períodos experimentais surgem com as crises e segundo os autores este seria um momento de crise.

O atual escopo dos experimentos em etnografia são derivados de revisões da antropologia interpretativista. Então a tarefa dessas experimentações é expandir as fronteiras da escrita etnográfica como gênero narrativo. Outra coisa é o destaque das diferenças culturais e outra a consciência histórica de inserir a etnografia no contexto da economia política. A articulação desses dois espectros leva a critica cultural. Finalizam com: “While sophisticated in representing meaning and symbol system, interpretative approaches can only remain relevant to wider readerships and can only be a convincing response to the perception of compelling global homogenization of cultural diversity IF they can come to terms with the penetration of large-scale political and economic systems that have affected, and even shaped, the cultures of ethnographic subjects almost anywhere in the world.” [4]

Marcar as posições do micro a partir da marcação da diferença cultural oferecida pela antropologia interpretativista, considerar as estratégias textuais como um meio de experimentação e por fim conseguir articular a economia política para dar cabo ao debate. Em suma são essas idéias que os autores defendem.


[1] Marcus and Fischer, 1986, p. 18

[2] Marcus and Fischer, 1986, p.23

[3]Marcus and Fischer, 1986, p.24

[4] Marcus and Fischer, 1986, p.44

Rabinow, Paul. 1986. “Representations are social facts: modernity and post- modernity in anthropology”. In: James Clifford & George Marcus (Ed.). Writing culture- the poetics and politics of ethnography. Los Angeles: University of California Press, pp. 234-261.

Paul Rabinow. University Of California, Berkeley

Special interests: Cultural anthropology, social thought, modernity, biotechnology, global genomics; France.

Anthropology at UC Berkeley

(fonte: http://anthropology.berkeley.edu/)

Paul rabinow

Rabinow começa seu texto citando a crítica de Rorty a empresa da epistemologia. Chamando atenção para o lugar social e histórico de produção de conhecimento dos epistemologos situados na Alemanha do Séc. XIX. Nesse sentido, a critica de Rorty fundamenta o que estaria como projeto na moderna filosofia: a certeza da busca de fundamentos para a razão. Isto faria com que a epistemologia, como a disciplina responsável pela busca das possibilidades e fundamentos da produção do conhecimento, assumisse o papel protagonista do que Rabinow se refere como um melodrama.

À frente do relativismo proposto por Rorty que, não obstante têm suas implicações, Rabinow propõe no texto uma crítica ancorando-se em pressuposto foucaultianos, além de analisar as conseqüências disto para a escrita e representação sobre o outro, trabalho mais especificamente, antropológico. Segundo Rabinow analisando esta virada no conhecimento de Descartes com relação a Aristóteles: A filosofia moderna surgiu com um sujeito conhecedor, dotado de consciência e de seus conteúdos representacionais, tornou-se o problema central para o pensamento, paradigma de todo saber.[1]

Todo um quadro é pintado em que o cerne do argumento é a produção de saber estaria no estudo sobre as possibilidades do conhecimento e sobre a relação das representações e a realidade, bem como do sujeito conhecedor. Tratar-se-ia da própria noção de ciência. Isto levou a filosofia, e aí o argumento de Rorty, somente no iluminismo como juíza da razão e de todo conhecimento possível como colocada pela obra de Kant. Todavia, essa relação da filosofia como uma teoria do conhecimento foi cimentada ao longo do sec. XX. Contudo, Rabinow chama atenção que ela não conseguia, a despeito de suas pretensões arbitrarem diretamente sobre as produções culturais, tal intento. Diz que, provavelmente, nem Einstein, nem Picasso estiveram muito preocupados com o que Husserl vinha desenvolvendo.  O autor nos diz que embora a filosofia ainda tenha departamentos de epistemologia, uma parte dela seguiu em outra direção, o autor cita os trabalhos de Wittgenstein, Heidegger e Dewey.

A inversão ocasionada segundo Rorty por esses autores era de que não se tratava de melhorar as teorias sobre a mente, sobre o conhecimento e sim jogar de outras formas, já que para esses autores o conhecimento não residiria diretamente nas representações. Conclui sua introdução com um problema que se colocou pelo que Rorty chamou de virada hermenêutica, pelo qual se não caberia mais a filosofia o papel de analisar as produções do conhecimento e sim de estabelecer conversações, para que então a filosofia? Observa-se que a critica parte para a historia da filosofia ocidental e sua lógica no sentido de desacreditá-la do ponto de vista de Rorty.

VERDADE VERSUS VERDADE E FALSIDADE

Colocada a questão da desconstrução da epistemologia por parte de Rorty, Rabinow recorre a Ian Hacking que argumenta que esse movimento a pesar de ter seu valor de separar certeza de verdade não rejeito a hipótese de rejeitar a verdade, a razão ou padrões de julgamentos. O argumento é central é dá subsídio ao modelo arqueológico de Foucault para a questão do saber e genealógico para a questão da moral em um argumento que Rabinow apresenta como simples: “O que é em geral tido como ‘verdade’ depende de um evento histórico anterior – ou seja, a emergência de uma maneira de pensar sobre a verdade e falsidade estabeleceu as condições para se considerar, a priori, se uma proposição é capaz de ser verdadeira ou falsa” [2]

Vou fazer um breve aposto para o caso da minha pesquisa situando a questão. Esses autores estavam preocupados com a desconstrução de um conceito de verdade a partir do conhecimento estabelecido pela filosofia moderna. No meu caso, já trato as proposições da sociologia do ‘contato’ como demolidas. Isso significa que a reprodução das condições, ou seja, das formas discursivas que originaram aquele saber no sentido de relativizá-las torna-se uma empresa desnecessária porque já tomo como dadas. Minha pergunta se orienta de outra forma então.

Afora esse breve aposto o autor chama atenção para um fato sutil que ao criticar a lógica o autor não esta tirando-a o caráter de construtora de verdades, o que na filosofia de Rorty seria exatamente do que se trataria. No entanto, trata-se de ressaltar que essa mesma lógica não esgota as possibilidades. Sendo ela funcionando em um domínio próprio. Isso significa dizer que nem todo o relativismo.

A questão da objetividade, por conseguinte, esta intimamente ligada às condições de possibilidades dessas verdades. Assim uma verdade é dependente de um fato histórico e não se reduz a subjetivismo, por ser social e igualmente histórica.  (Pergunta-se no caso do pensamento mitológico como se daria. Talvez a questão nem seja colocada) O que Foucault chama de regimes de verdades como componentes históricos. A critica se dirige, portanto, ao um regime de verdade universalmente válido popperiano. O autor exemplifica com o caso do desconhecimento da estatística pelos gregos o que não inviabilizaria a produção de verdades, apontado que não se trataria de relativismo, mas também não de imperialismo. (Uma pergunta o que é verdade no sentido que Paul Rabinow está colocando. (Traçar o paralelo com Lévi-Strauss.)

É assim que para a discussão Rabinow chama Foucault, pois segundo o autor para Rorty e Hacking faltam categorias com o ‘poder’ e ‘sociedade’ em suas análises sobre os pressupostos da filosofia e sua história. Falta na resposta de Rorty o como se deu essa transformação na filosofia. Resumindo em uma frase forte que também atinge a filosofia de Habermas que: “O conteúdo da conversação, a maneira de trazer à tona a liberdade de tê-la está, no entanto, além do domínio da filosofia.”

Por isso, conclui Rabinow: ‘A conversação entre indivíduos e culturas é possível dentro de contextos moldados e limitados por relações históricas, culturais, políticas e práticas sociais parcialmente discursivas que as constituem. ’ (Pensar se no caso da proposta da Teoria da História de Rüsen sobre a interculturalidade isto está disposto e como é articulada.) (E o caso de Viveiros de Castro se por hipótese o deslocamento efetivo da etnologia seria dar o estatuto de válida concreto estabelecido pelos próprios nativos.) Na definição de Rabinow o pensamento não é nada mais do que um conjunto de praticas historicamente localizável.

O problema, por fim, de tal afirmação é como esta relação ao retornar para a epistemologia é estabelecida sem cair em dicotomias do tipo infra/superestrutura, mencionando que Rorty não está sozinho no tratamento do problema. (No meu artigo aponto a proposta de Thompson que pode aqui ser mais bem trabalhada).

REPRESENTAÇÕES E SOCIEDADE

  • Rabinow não precisa bem esse conceito de representação e incomoda os ouvidos no sentido de que sempre aproximo as discussões da vertente da História Cultural. Pensar um pouco sobre isso. No entanto, tudo indica que trata-se do pensamento em loco, tal como tratado na epistemologia.

O que caso da representação como antecipado é tratado, mas detidamente por Rabinow ao indicar a representação como um atributo da filosofia moderna focada no sujeito moderno, nas representações e na ordem.  Mas o autor destaca a diferença de ênfase de Rorty e Foucault ao indicar que estava centrado à: Uma gama de disparatadas, mas inter-relacionadas práticas sociais e políticas que constituem o mundo moderno, com suas preocupações distintivas quanto à ordem e o sujeito moderno e à verdade. Ao contrário de Rorty que trata as idéias filosóficas como mudanças gratuitas numa conversação ou na filosofia[3] E um ponto central é a associação que por de trás do conceito de ideologia vem associada à própria epistemologia, pois no funda há um nível de realidade. Nesse sentido as idéias não são epifenomenos do que acontece na sociedade. Mostrando que Foucault rejeita todas essas idéia s de ideologias, como se representações não fossem reais.

O projeto Foucaltinano, por conseguinte, não tinha como pretensão a busca de verdade, mas tratava-se da busca dos efeitos de verdade historicamente dentro do discurso. O texto fica claro. E define-se por algumas estratégias, primeiro a critica de Rorty da epistemologia como um saber historicamente construído por nossa civilização, segundo as implicações do pensamento de Foucault no que tange as relações de poder subsumidas nessa construção de verdade.  Um projeto antropológico descartando a necessidade de se entender uma epistemologia do outro e sim um estudo sobre relação quando e como outros povos começaram reinvidicar a epistemologia para os próprios.  Como discursos universalizantes tornaram-se forças sociais. Deve-se evitar essencializações amerindismo não é um remédio para reformismo.

A ESCRITA DE TEXTO ETNOGRÁFICOS: A FANTASIA DA BIBLIOTECA

Rabinow nesta parte do texto vai precisar o projeto de James Clifford e sua reflexão sobre a escrita etnográfica principalmente em seu On ethnographic authority Conduzindo-o para a entrada em mais um regime de verdade, o regime de verdade pós moderno como afirmado por Rabinow. Vejamos por partes o projeto de Clifford tal como descrito por Rabinow a título ilustrativo.

Caracterização da antropologia interpretativa e a da meta-antropologia constituindo-a como objeto de análise.

DO MODERNISMO AO PÓS-MODERNISMO EM ANTROPOLOGIA

Caracterização da Antropologia intepretativista e da meta-etnografia no pós modernismo a partir de alguns pressupostos básicos apontados por Jamenson. Tal como a relação retro e antihistoricista, a textualidade e o esvaziamento dos referenciais. A esquizofrenia dos significantes que por sua vez, assumem o papel de imagens. O que Rabinow coloca é em sua a pergunta de quando estes textos viram discursos.  Ressalta com exemplo os filmes históricos e utiliza a periodização colocada por Jamenson a titulo heurístico.

Aponta finalmente que, o problema da representação dos outros, (isso faz com que a palavra representação aqui assuma um sentido diferente do esboçado na introdução do texto) Fala que a critica é bem-vinda no que respeita um não retorno a modos de representações não reflexivos, mas que, no entanto estas novas etnografias (seriam a proposta de experiências, neste caso narrativas apontadas por Marcus) como representações não devem ser desligadas das práticas sociais.

COMUNIDADES INTERPRETATIVAS, RELAÇÕES DE PODER E ÉTICA

O diagnostico é dado a partir dos trabalhos de Talal Asad e Edward Said, sobre as implicações da antropologia com o imperialismo e o colonialismo. As dimensões das relações macro-politicas foram demonstradas, mas o que Rabinow destaca são as relações micropoliticas entre o antropólogo e seus outros. E coloca neste escopo um conjunto de questões que merecem sempre serem feitas.

Dirige assim mais uma critica a Clifford, dizendo que problematizam a meta representações de nossa própria cultura (os aspectos lingüísticos e estilísticos). Nas palavras de Rabinow a preocupação central do autor é com os tropos lingüísticos da construção do texto etnográfico e não as relações com o outro. (No caso do estuda da teoria da história é interessante este debate sobre situar as micro-politicas no lugar da própria narrativa e os aspectos literários como o faz Hayden White, colega de James Clifford no Programa de Pos Graduação em History of Consciuness na University Of California). O autor atenta-se a sugestão de Jamenson do caráter histórico do surgimento dessas limitações. A saída disso é uma critica ao pos-modernista que pela critica de Jamenson nos capacita a evitar o erro da nostalgia de universalizar e ontologizar uma situação histórica.

O autor situa o campo político ironizando Clifford como não nos anos 50, de uma antropologia dos impérios e sim um campo político acadêmico, coloca o debata da produção da política cultural suscitada por Bourdieu. O autor sugere como campo de estudo da antropologia da antropologia um estudo sobre as micro-práticas da academia.

“Quando as conversas de corredores sobre as pesquisas de campo tornarem-se discursos, isto é, quando estes domínios privilegiados de alguns poucos tornarem-se objetos científicos, certamente aprenderemos bastante”.[4] Conclui a proposta e fala sobre o debate das feministas e de Strathern com a etnografia experimental afirmando que os tropos estão aí agora seus usos que fazem toda a diferença.

ÉTICA E MODERNIDADE

O autor fecha seu texto no comum da discussão sugerida na introdução acerca do problema da verdade. Assim caracteriza as posições de cada corrente na antropologia. A primeira os Antropólogos Interpretativos. O problema epistemológico que os orientam são as práticas interpretativas, tanto por parte dos antropólogos como por parte dos nativos. Tendo como objetivo ultimo a especificação cientifica da diversidade cultural.

O segundo são os críticos presos aos aspectos formais e aos tropos. O perigo político é a museologização do mundo como apontado por Weber. Pela confusão da experiência e o sentido preso a forma.

O terceiro são os sujeitos políticos que tem uma subjetividade política comunitariamente baseada. O perigo político é reificar as relações apontadas no pólo oposto.

O quarto os intelectuais críticos, cosmopolitas. Fora dos três outros o autor se enquadra nesse espectro que tem como fio condutor o que ele chama de um principio ético. Define o cosmopolitismo como um ethos de macrointerdependencias, com uma consciência perspicaz, muitas vezes imposta sobre as pessoas, das fatalidades e particularidades de lugares, sujeitos, trajetórias históricas e destinos.

Relata sua pesquisa no Marrocos e sua posição de estudar os reformadores e sua preocupação com a sujeição muito mais do que a exploração e a dominação, por fim termina com a dimensão política de Foucault colocando-se diretamente como um tributário.

Estrutura do Artigo.

Caracterização do problema, com um mapeamento dos deslocamentos ocorridos no campo filosófico. A proposta de um projeto via sugestão de Foucault para um campo específico, a própria antropologia. Por fim uma reflexão sobre sua própria pesquisa e o ponto política que se subtraí dela.


[1]Rabinow, Paul. 1986. “Representations are social facts: modernity and post- modernity in anthropology”. In: James Clifford & George Marcus (Ed.). Writing culture- the poetics and politics of ethnography. Los Angeles: University of California Press, p.73 (1999)

[2]Rabinow, 1999, p. 29, grifos do autor.

[3] Rabinow, 1999, p. 78, grifos do autor

[4]Rabinow, 1999, p.95.

Clifford, James. 1988. “On ethnographic authority”. In: The predicament of culture- twentieth century ethnography, literature and art. New York: Harvard University Press,514ZKF3EKWL._SS500_-750995

James Clifford começa seu texto com frontispícios de livro de etnógrafos desde o Séc. XVIII até Malinowski no início do século XX para problematizar o lugar do etnógrafo nas descrições que fazem de outros povos. No primeiro caso sobre os ‘selvagens’ ameríndios e, no segundo, com Malinowski sobre os Trobriandeses do leste do pacífico retratando o Kula – ritual de troca central da vida social na melanésia.

Desta feita sobressai uma crítica, esta no sentido reflexivo, do lugar da etnografia moderna em comparação com as outras precedentes, pela qual na primeira a mediação com a experiência etnográfica se dá pelos livros, e na segunda, se destaca o ‘realismo’ e autoridade sobre o relato implícito, construídos a partir de fotos, como no caso do Kula trazendo à escrita etnográfica o que Clifford classifica como: O modo predominante da autoridade do moderno trabalho de campo assinalado por um “You are there… because I was there” (Clifford, 1983, p.22)

O autor no texto propõe uma não exaustiva analise da formação e da ‘quebra’ da autoridade etnográfica nos trabalhos que partem da observação participante, não esgotando todas as tradições dando ênfase apenas a escola francesa, inglesa e americana, de modo que fica os exemplos guiados por tradições anti-positivistas como a oferecida por Wilhelm Dilthey a partir da diferenciação de uma epistemologia de interpretação. Em detrimento ao movimento explicativo preconizado pelas descrições próximas do modelo sugerido pelas ciências naturais que o autor avisa não ser analisada.

O contexto dado para o ‘predicament’ é o de redistribuição do poder colonial ocorrido a partir da década de 50 e os ecos das teorias da cultura radicais dos anos 70 e 80. Em suma, a partir da ascensão de movimentos políticos, um processo de globalização, o discurso antropológico é mobilizado não apenas a partir de uma ideologia ocidental, mas passa a ter que lidar com diferentes autores no debate em um movimento apontado em literatura por Mikhail Bakhtin de ‘heteroglossia’. A ambigüidade de um discurso multivocal coloca para a etnografia o problema da representação do outro e da diversidade cultural, pois a diferença aparece como um efeito de um sincretismo inventado, afirma o autor.

Nas linhas seguintes, analisa-se o trabalho de Edward Said e a questão do orientalismo apontando como foi construído um saber do ocidente sobre o oriente e a crença na positividade deste a despeito de um fundo ‘real’ participativo e que expresse as diferenças do ponto de vista do próprio oriente para subsidiar a crítica que diz que: “These studies suggest that while ethnographic writing cannot entirely, escape the reductionist use of dichotomies and essences, it can at least struggle self-consciously to avoid portraying abstract, a historical ‘others’.” (Clifford, 1983, p.23). Portanto, tem-se a relação intima entre a produção de conhecimento cientifico e a legitimidade da empresa colonial com relação a estes povos configurada por uma relação especifica entre método cientifico e modos de dominação colonial que desconsideram as relações de dominação historicamente construídas.

Outro ponto a ser ressaltado pelo autor na produção das etnografias é a capacidade do método constituir-se com uma experiência e a dificuldade de tradução destas. E surge daí uma critica à crença na possibilidade de tradução ideal como o mito da etnografia moderna. No sentido de não considerar, as contingências, limitações que o próprio campo oferece.
Segundo o autor, os estilos de descrição cultural não estão reduzidos a disciplina antropologia e assumiu diversas formas historicamente modificadas. Mais uma vez ressalta que o entendimento da etnografia como ciência não deve ser desligado das implicações politica-epistemologicas debatidas sobre a representação e escrita sobre os ‘outros’.
A esta parte introdutória do tema o autor precisa a pergunta que se faz e a partir de onde irá procurar suas respostas. Se a etnografia produz interpretações culturais a partir de intensas experiências de pesquisa, como esta experiência é transformada em um texto de autoridade? Como precisamente o encontro das culturas atinge uma relação de poder circunscrita em uma versão adequada ou não de um ‘outro mundo’ produzida por um autor individual?

O autor sugere a hipótese que do começo ao fim o complexo de transformações se dá pela passagem da tradução da experiência na forma textual. Assim uma complexa experiência individual é anunciada por um autor, tal como o caso de Samoa de Margareth Mead, dos Nuer de Evans-Pritchard, We, the tikopia de Raymond Firth entre outros. Assim a investigação se pauta pela discussão da construção histórica do discurso de autoridade inscrito na prática da observação participante ao longo do Sec. XX.

Keywords: observação participante, heteroglossia, ahistoricidade, autoridade, textualidade
Dúvidas: Procurar saber do frontispício do Laufalt e do texto do Michel de Certeau como sugerido na nota de rodapé pelo autor.

Para tanto, o autor estabelece uma cronologia a partir da qual no começo do Séc. XIX, o etnógrafo não gozava do status de melhor intérprete da vida nativa, concorrendo ainda com o relato dos viajantes, especialmente, os missionários e funcionários públicos dos impérios. É importante esse ressalte, porque para o caso brasileiro quando se trata de estudar as representações dos indígenas pela coroa portuguesa; as principais fontes são justamente de missionários como, Padre Antônio Vieira, Padre Anchieta, Manoel da Nóbrega, bem como dos viajantes, neste caso, o próprio Pedro Álvares Cabral e os governantes que aqui a coroa colocou.
A problematização para o caso norte-americano da construção da etnografia se deu a partir dos trabalhos Frank Hamilton Cushing e Margareth Mead. O autor ressalta uma forma particular de autoridade criada (a) uma autoridade cientificamente validada e caudatária de uma experiência única e individual. Apontando, por conseguinte, uma critica de Malinowski com relação a um funcionário do império britânico e sua falta de pericia cientifica para o caso dos Trobriandeses que o mesmo estudava. Disto Clifford conclui que, a partir da metade do sec. XX, o sucesso do trabalho de campo surgiu como uma nova fusão de uma teoria geral e a pesquisa empírica, ou da analise cultural a partir da descrição etnográfica.

Ressalto aqui a constituição de um quadro da formação da autoridade etnográfica a partir do estabelecimento da experiência de campo. Comparam-se trabalhos sobre os trobiendeses a partir de missionários e a própria regra geral que se estabelecerá, segundo o autor, a partir do trabalho de Margareth Mead, Malinowski e Radcliff-Brown. O autor destaca o argumento destes etnógrafos como produção do conhecimento por partes dos seus precursores como sendo sem base de hipóteses cientificas e falta de neutralidade.
Entre os relatos dos viajantes, o autor menciona a forma de pesquisa colocada na Inglaterra no começo do Séc. XX e o papel de Tylor na proposição de maiores critérios na coleta de dados para o estabelecimento da analise antropológica. Contudo, somente com Malinowski que a pesquisa de campo foi realmente estabelecida, sendo o próprio antropólogo que irá a campo coletar os dados. Assim, Clifford menciona a distancia entre os antropólogos como formuladores de grandes teorias da humanidade e o trabalho de descrição-tradução efetuado pela etnografia. “Malinowski gives us the image of the ‘new anthropologist’ – squatting by the campfire; looking, listening, and questioning; recording and interpreting Trobiand life.” (Clifford, 1983, p.28)

Algumas técnicas no texto de Malinowski são analisadas por Clifford como apontadas por Stocking, tais como: utilização de formas narrativas para a construção do texto, voz ativa no ‘presente etnográfico’, dramatizações da participação do autor na vida dos Trobriandeses, técnicas que colocam a experiência do autor como a experiência do leitor como se ele estivesse lá. Estes seriam os critérios de excelência na pesquisa de campo etnográfico, a produção de uma narrativa simultaneamente sobre a vida de um povo e o do trabalho de campo como critério científico que dá validade a observação participante. De modo que se anuncia uma poderosa metodologia cientifica bem como um novo gênero literário a própria etnografia baseada na observação participante.

São seis os pontos ressaltados pelo autor que caracterizam diretamente este estilo: Primeiro o convívio com os nativos, segundo a questão do conhecimento da língua nativa, com uma provocação de Lowie para o argumento de Mead, quando afirma que traduzir o romance de Proust não equivale a ter conhecimento sobre os franceses. Terceiro, no poder da observação, os fatos etnográficos como objetivos passiveis de serem gravados, tais como comportamentos, rituais. Concluindo que depois de Malinowski há predileção à interpretação dos dados feita pelo etnógrafo em detrimento a observação interessada das autoridades. Quarto a capacidade de generalização oferecida pelo conhecimento teórico; para o caso de Rivers o método genealógico; e, no caso de Radcliffe-Brown, o conhecimento das estruturas sociais e que possibilitaria a comparação. Em quinto, o procedimento metodológico funcionalista de partes assumindo a função do todo, como no caso de se estudar um ritual especifico na explicação das instituições econômicas – Kula.
Sexto, o todo representado de maneira sincrônica. Descartando a leitura de grandes processos no tempo que a metodologia inviabilizaria. Malinowski e Radcliff-Brown reprovam a abordagem diacrônica fazendo criticas ao método difusionista da ‘historia conjectural’.

Keywords: ‘presente etnográfico’, observação participante, funcionalismo, metonímia, sincronia, diacronia.
Dica: Observar a constituição de uma metodologia de pesquisa e a crítica ao estabelecimento do critério ‘cientifico’ como possibilidade de verdade única. Meta-etnografia e crítica aos pressupostos da disciplina.

Depois de situar estes seis pontos caracterizando a metodologia da observação participante, o autor passa a analisar o trabalho de Evans Pritchard como uma espécie de milagre devido as circunstancias em que foi feito. E a critica de Evans-Pritchard ao estilo casual e fortuito da coleta de dados de Malinowski no sentido de que os dados só são conectados a teoria e que isto diferiria seu trabalho, com relação ao autor, na medida em que toma este fato conscientemente.
Segundo Clifford, a observação participante é paradoxal, uma relação entre o dentro e o fora, no sentido em que é reformulada em termos hermenêuticos como uma dialética de experiência e da interpretação. De uma tradição que remonta de Wilhelm Dilthey a Max Weber e na antropologia a Clifford Geertz da análise do símbolo ao significado. Aponta que o trabalho de tradução e de interpretação dos dados foi relegado para segundo plano na relação entre a experiência e a interpretação, no caso da observação participante e a consideração da autoridade etnográfica. Pois o trabalho de campo é centrado na experiência e aponta que as condições de produção do texto é quase nunca revelada.

A separação da experiência e da interpretação é central no argumento de Clifford, pois nela residiria a construção da autoridade etnográfica. O autor precisa o conceito de experiência a partir da noção de verstehen de Wilhelm Dilthey e chama atenção para diferença deste no caso da antropologia. Outra opção para o entendimento da experiência como procedimento metodológico é a proposta de conhecimento conjectural proposta por Carlo Ginzburg.
A grande contradição nesse conceito de experiência, no caso da antropologia, segundo Clifford, seria colocada pelo fato de que é esta experiência que garante a autoridade etnográfica: Segundo o autor: “Experience evoques a participatory presence, a sensitive contact with the world to be understood, a rapport with its people, a concreteness of perception. I also suggests a cumulative, deepening knowledge (“ her tem years’ experience of New Guinea’). The senses work together to authorize an ethnographer’s real but ineffable feel or flair for “his” or “her” people. It is worth nothing, however, that this “Word”, when conceived as an experiential creation, is subjective, not dialogical or subjective. The ethnographer accumulates personal knowledge of the Field (the possessive form my people has until recently been familiarity used in anthropological circles, but the phrase in effect signifies “my experience”) Clifford, 1983, p.37)

Keywords: experiência, interpretação, autoridade etnográfica, subjetividade
Dica: Observar a fundamentação de Dilthey com relação à experiência, o método oferecido por Carlo Ginzburg e a relação com a ambigüidade da palavra experiência.

A crítica a esta relação com a experiência se dá, primeiramente, a partir da antropologia interpretativista que parte da pergunta de como o objeto “cultural” é inventado e tratado como significativos além de remontar a metodologia ao caráter hermenêutico da interpretação das culturas como um texto a maneira da filologia. A idéia vem de Paul Ricouer (1973) e depois sistematizada em antropologia por Geertz (1973). Textualização é o pré-requisito para a interpretação ao que Dilthey chama de “expressões fixadas”
O autor passa para uma definição clássica de discurso segundo Beneviste e aponta a critica de Ricoeur que afirma que a interpretação já esta fora do campo comunicativo e pretende uma relação desse discurso com uma realidade exterior. Por isso, quando um discurso se torna um texto ele fica autônomo fazendo com que a interpretação deixe de ser uma interlocução. Não depende das intenções do autor ou da presença do falante. Assim as implicações para a etnografia são ressaltadas como a experiência virando narrativa, significados ocorridos, os dados viram textos e não estão inseridos nos contextos discursivos.

Ainda segundo o autor, a tradução da experiência de pesquisa em corpo textual separado das ocasiões discursivas tem importantes conseqüências para a autoridade etnográfica. Assim o contexto discursivo é esvaziado pelo etnógrafo a partir de uma generalização que assume o ‘ponto de vista nativo’ como no caso: ‘dos nuer’, ‘dos dogon’… A ênfase na construção coerente da narrativa e o processo de produção dessas são decantados para o texto final, assim, diário de campo, a conversa com os informantes, as contradições são suprimidas a fim de dar ao texto a forma de um todo coerente.
Keyboard: texto, cultura, autoridade, dados de campo, produção final, Geertz
Aparece, por fim, a critica ao deslocamento efetuado pela antropologia interpretativa com relação à autoridade etnográfica precedente a partir da reflexão sobre a construção do texto. No entanto, este esgotamento não basta por si só e é criticado a partir de uma politização das interpretações como posição colocada por Talal Asad (1973). A partir de Bakthin toma-se a linguagem deixando de ser uma pratica neutra e sim com acentos e realces.

Apresenta-se o modelo discursivo de escrita etnográfica, que leva em conta o contexto da fala e as situações de interlocução como parte da pesquisa. Com a afirmação de Fravet-Saada (1977) de que o evento de interlocução sempre coloca o etnógrafo em uma posição no campo de relações intersubjetivas. O autor cita também as propostas de Bwyer (1977) e Capranzano (1980) sobre a etnografia como um processo de dialogo entre os interlocutores que ativamente negociam uma visão de mundo sobre a realidade. A aproximação do discurso etnográfico do realismo.

Keywords – politização das interpretações, ‘encontro etnográfico’, texto, discurso,

Duvidas: A etnografia segundo Talal Asad, a proposta do dialogismo, o efeito discursivo e uma nova etnografia.

O autor chama atenção para o fato de que dizer que a etnografia é composta de discursos por diferentes componentes ialogicamente relatados não é o mesmo que dizer que esta forma texto poderia ser um diálogo literal. A proposta de um terceiro participante por Capranzano, um terceiro fictício como mediador do encontro entre dois indivíduos. E Rosaldo colocando a questão do interstício de seu trabalho sobre a verdadeira autoria das notas de campo.

James Clifford

o. . . Alone together
James Clifford

Professor, History of Consciousness Department,
University of California, Santa Cruz
Santa Cruz, CA 95064. USA
jcliff@ucsc.edu

1969-77 Ph.D. Harvard University, History
1967-68 M.A. Stanford University
1965-66 London School of Economics and Political Science
1963-67 A.B. Haverford College
(fonte: http://people.ucsc.edu/~jcliff/contents.html)

Aos Meros Mortais…

Ministro das Relações Exteriores
Embaixador Celso Luiz Nunes Amorim

Secretário-Geral das Relações Exteriores
Embaixador Samuel Pinheiro Guimarães Neto

Diretor-Geral do Instituto Rio Branco
Embaixador Fernando Guimarães

Bom segue aí só um modelo oferecido da prova de História do Instituto Rio Branco para Diplomata.

Questão 1

A propósito dos partidos políticos liberal e conservador durante a Regência e a
primeira década do Segundo Reinado, discorra sobre

a) o pensamento político dessas correntes partidárias; e
b) o impacto desse pensamento sobre a institucionalização do Estado.

Marina Guedes Duque (19/20)

A construção da ordem nacional durante o período imperial é largamente tributária do pensamento político e da ação das elites brasileiras. Uma vez desatadas as amarras coloniais, fazia-se necessário consolidar não só o Estado como também a nação brasileira, por meio do estabelecimento das fronteiras territoriais, da legitimação do governo central e da elaboração da identidade nacional. A esses fins dedicou-se a elite política imperial, responsável por lançar as bases da ordem que seria gradualmente consolidada nos governos seguintes.

De acordo com José Murilo de Carvalho, as profundas diferenças entre a trajetória política do Brasil independente e aquela de seus vizinhos hispano-americanos devem-se, em larga medida, à homogeneidade das elites políticas brasileiras. A formação comum nas faculdades de Direito de Coimbra e, posteriormente, nas de Recife-Olinda e São Paulo engendrou considerável uniformidade de pensamento em uma elite que constituía verdadeira “ilha de letrados em um mar de analfabetos”. Essa formação educacional possuía caráter centralizador, ao procurar afastar-se da influência do liberalismo proveniente dos ideais napoleônicos.

A cultura política luso-brasileira, ademais, tendia a valorizar substancialmente o
papel do Estado na formação nacional, à diferença do que ocorreu em países como os Estados Unidos e a Inglaterra. As atividades econômicas não tinham potencial suficiente para absorver a maioria dos bacharéis que se formavam; como conseqüência, as atividades política e burocrática constituíam destino principal das elites pensantes provenientes das faculdades de Direito.

Em muitas ocasiões, desse modo, tanto a burocracia como o sistema político adquiririam interesses mais identificados com o Estado do que com elites econômicas específicas. Além da formação acadêmica comum, os burocratas e os políticos seriam submetidos a uma formação profissional que tendia à uniformidade, como resultado da rotatividade de cargos e regiões de atuação. Embora houvesse algumas divergências dentro das elites – como demonstra a formação dos partidos liberal e conservador –, sobressai, portanto, a tendência à homogeneidade de pensamento e ação, na direção da centralização e da consolidação do Estado nacional. Somente um Estado forte seria capaz de manter o regime escravista, a despeito de pressões internacionais, e de defender alguns dos interesses das elites econômicas, ao mesmo tempo em que evitava o esfacelamento do território nacional ensaiado por diversas rebeliões regionais.

Os partidos políticos liberal e conservador compartilhavam, desse modo, a defesa do regime monárquico, cuja manutenção seria a origem de legitimidade do Brasil independente e havia permitido uma transição relativamente calma do poder colonial, ao conter tanto inovações como continuidades. A monarquia brasileira distinguir-nos-ia das repúblicas hispano-americanas, não só aos olhos dos europeus, como também no pensamento das elites nacionais. A política externa do período, assim, teria caráter eurocêntrico, como demonstram as discussões no âmbito do Conselho de Estado, ao mesmo tempo em que continha certo desprezo pelos vizinhos sul-americanos, associados à instabilidade e ao caudilhismo. Os dois partidos também possuíam visões semelhantes no que concerne à necessidade de centralização do poder, ainda que discordassem quanto ao grau de fortalecimento do Estado central. O partido liberal formou-se como reação ao “autoritarismo” de D. Pedro I, cujo governo caracterizou-se pela ampla utilização das prerrogativas do Poder Moderador.

Durante o período regencial, dessa forma, o Ato Adicional de 1834 fomentou a
descentralização política, por meio da extinção do Conselho de Estado e do Poder Moderador; e da delegação às províncias regionais de poderes do governo central, como os de formar exércitos e contrair empréstimos no exterior. A Regência, no entanto, caracterizou-se pelo auge da instabilidade política. O partido conservador, por conseguinte, consolidou-se em reação às medidas descentralizadoras, principalmente após 1838. Com o intuito de evitar o “regresso” conservador, os liberais promoveram o Golpe da Maioridade, que terminou por satisfazer ambas as partes, ao permitir o encerramento das instabilidades regionais com a Revolta Praieira, atribuir maior legitimidade e poder à administração central, e preparar o caminho para o soerguimento econômico do país.

O pensamento político das elites imperiais possuía, portanto, alto grau de homogeneidade, com a exceção de algumas divergências de caráter específico, como a relativa ao grau de centralização. Vale ressaltar, por fim, que a constante interação das elites e o contínuo revezamento dos partidos liberal e conservador no poder permitiu, na maior parte do período considerado, a conciliação em torno do objetivo comum de institucionalizar o Estado brasileiro. A conjunção desses fatores, assim, propiciou a construção da ordem no Brasil e a manutenção da unidade territorial nacional.

Muito básico né?

Mas, sinceramente, acho que a prova de lingua estrangeira é a pior. Direito e economia, básico também.

GUIA DE ESTUDOS PARA O CONCURSO DE ADMISSÃO À CARREIRA DE DIPL

fonte:http://www.irbr.mre.gov.br/concursos/concursos.htm

Laura de Mello e Souza

Filha de Antônio Candido e uma das maiores Historiadoras do Brasil como visto no clássico “Conversa com historiadores Brasileiros” agradecida pela sua formação por Fernando Novais, anda respondendo muitas perguntas de viagem.

Meu Post:

Laura Mello e Souza: Vícios, virtudes e sentimento regional: São Paulo, da
lenda negra à lenda áurea

“R e s u m o

Este artigo procura recuperar algumas das tradições que, ao longo dos
tempos, viram os habitantes de São Paulo ora como bandidos, ora
como heróis, buscando detectar matrizes que embasaram formulações
historiográficas consagradas e hoje muito discutidas.”

Clique para acessar o RH-142-143.pdf

Sobre os Bandeirantes moradores da Vila de São Paulo de Piratininga e sua relação ‘ambigua’ com a Coroa e os centros (Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro) no período Colonial, antes do ciclo aurífero quando a Coroa decide reconhecer a ‘braveza’ dos Paulistas descobridores do Ouro e dos Mineiros. Além da primeira menção historiográfica com o nome ‘paulistas’ acho que por Antonil, está no artigo. Muito interessante

Tem esse livro dela também que me permite aventar a hipotese de uma das primeiras leituras da Obra de Foucault pela historiografia brasileira, não sei se nas ciencias sociais, mas serve de indice se se quiser poderar uma História das apropriações das obras de Foucault no Brasil. Nesta época o método se dirigia aos objetos tratava-se de fazer uma História dos excluídos no lugar de uma História dos Reis e das Rainhas.

Uma aproximação ‘singela’ da obra de Foucault por parte da historigrafia ainda no fim da Dec. de 80.

Desclassificados Do Ouro
A Pobreza Mineira No Seculo XVIII

“A mineração do ouro e dos diamantes alimentou as finanças de Portugal e enriqueceu os senhores das lavras e os agentes da administração colonial no Brasil. Vastos contingentes de homens pobres e expropriados também foram originados desse mesmo ouro. Neste livro, a autora trata dos desclassificados que não tiveram acesso às riquezas, apenas à opressão do físico e das leis que defendiam os interesses da Coroa e dos potentados locais.”
Os desclassificados do Ourosendbinary2.asp

Carnaval

Carnaval

Vendo a Estação Primeira de Mangueira escolher como Enredo de 2009, “A Mangueira traz os Brasis do Brasil mostrando a formação do povo Brasileiro”, foi difícil não refletir sobre as críticas que a obra de Darcy Ribeiro e sua tradição política vinham recebendo recentemente. Ex post facto, vemos por destino da história, e não por acaso, que realmente devemos repensar a crítica que deriva do conceito de populismo.

O samba-enredo da Mangueira seguiu a apresentação do livro de Darcy Ribeiro: “O povo brasileiro – sentido e formação do Brasil”. Falou de miscigenação, do branco que aqui chegou e com o paraíso que se encantou, da exploração da riqueza, do índio que resistiu ao trabalho, o trabalho do negro entregue à própria sorte, misturas de raça em um só coração, crioulos, caboclos, sertanejos e caipiras marcando a perspectiva interpretativa do autor. Para ele a miscigenação foi o processo constituinte da identidade brasileira encarado de maneira sofrida, resgatando o caráter de espoliação sofrido desde os primórdios da colonização, cujo resultado refere-se à desumanidade presente na expressão moinhos de “gastar gente”, que resultou no empenho de construir uma nação a partir do processo de “caldeamento étnico” até culminar na transfiguração étnica resultante da produção do novo, da diversidade de culturas que compõe o Brasil: a sertaneja, a sulista, os caboclos, os crioulos, os caipiras que configuram os muitos brasis.

As fantasias levavam os nomes de Ritual Antropofágico em alusão aos índios dos seiscentos; Ourivesaria Asshanti, Escribas Haussás e Escultores Ngolas para marcar a riqueza cultural africana; Açorianos, Crendices da terra, conformando o processo do rico folclore brasileiro, Os Bandeirantes; Ouro e Pedras preciosas, retomando a época da mineração, Nobre Roceiro, retratando o homem do campo em visão apologética de quem criou as condições para a produção da riqueza que seria exportada; Missões Guaranis e Rodeados de Gado. O 7º setor foi chamado de Educação Brasileira, valorizando a questão da Educação como feito pelo autor. Carros que tinham na composição os nomes de Tupinambás, Essência da paixão, Aromas do paraíso, Indias Peixes, Pecuaristas, Candeias, Ashanti, Sacros Anjos, Pajé, Indios Ribeirinhos, Aves Amazônicas, Farturas do Campo, Nobres Mineiros e Nobres Roceiros, Caipira, Bóia Fria, Trigais, Canhoneiros, Polvoeiras, Parreiras, Fé no divino, Sertanejos, todas fantasias dando sentido à uma visão do processo traumático de colonização que o Brasil passou tratado por Darcy Ribeiro, mas sem nunca deixar de romantizar um passado glorioso e sofridode maneira otimista, tal como a característica prima facie do povo brasileiro imputada pelo autor, no intuito de sub-repticiamente abordar a questão do imperialismo e do subdesenvolvimento em termos de denuncia e causa deste sofrimento, trazendo a necessidade de um projeto político que levasse o Brasil ao progresso.

È assim que problematizo a questão de uma escola de samba conhecida tradicionalmente por seu apelo popular, por guardar uma tradição romântica quando é conhecida por preconizar um desfile de paixão pelo samba em detrimento aos apelos técnicos, autentica representação do povo, escolher um intelectual que é tido como “demagogo” conforme criticas do populismo para dar base ao seu enredo. O problema está, primeiramente, em negar a opção de escolha desse povo, e assim da possibilidade de intelectuais de embasarem sua obra nele e para ele, chegando-se a questionar a própria existência deste “grupo”, quando tratado como conceito de “massa acéfala” pronta a ser manipulada. E quem então são os torcedores de amor extremo à Escola, a velha guarda da mangueira, o carnavalesco que escolheu um intelectual “manipulador” para subsidiar seu enredo? Será quem que agora falará do caráter artificial imputado a perspectiva política de Darcy Ribeiro incluindo-o no rol das dos políticos populistas? O que faria justamente uma escola de samba – e reparem, a mais “popular” de todas – após quase 12 anos da morte de Darcy Ribeiro, ou 13 do lançamento de seu livro tomar sua obra como base de seu enredo? Talvez a resposta esteja em que esta opção faz jus à representatividade, negada, da obra de Darcy Ribeiro do povo. Mesmo que expressa por interesses próprios, como apontados pela oposição política, até mesmo como escusos, sua obra atingiu um lugar que esta oposição nunca conseguiu, comunicar grupos, que reunidos, são representados com o termo ”povo”, ou conceitualmente, “massa”, e que estes se sintam identificados com seu próprio discurso.

Pergunto, depois de 10 anos, se isto ainda seria “manipulação”? Por que a obra dos críticos, não foi usada? Elas não contêm justamente a característica presente na obra de Darcy Ribeiro e que vem do “povo”: o conteúdo esperançoso. Na escrita de Darcy Ribeiro, a vontade de fazer do Brasil uma nova Roma, a despeito das mazelas sofridas. É uma peça pregada pela história o fato de que estão hoje cantando e dançando a partir de seu nome. Em suma, falo de identificação, pois não à toa, se se trata de populismo, é sobre o cimento do projeto que Darcy Ribeiro participou da criação, que desde 1984, a Marquês de Sapucaí foi feita para esse “povo desfilar, apresentando um dos maiores festivais de cultura do Planeta Terra, algo bem exagerado como a fala de Darcy Ribeiro.

Algo que não deixa, contudo, de ser bastante sintomático. Mesmo crítico, alguns preferem as palavras da esperança, o reconhecimento da própria beleza e palavras de força no lugar de simples adaptação a projetos que representam um discurso com o qual não se identificam – identidade negada: a de povo! Eu ainda me pergunto: será que ele não existe? Uma coisa não se pode esquecer, Darcy Ribeiro, se hoje ele é falado, é porque se propôs a escutar e traduziu, falou um discurso com o qual alguém se identifica. Sobre o povo: Burro, deseducado, manipulado? É só observarem os 4500 passistas cantando em outro “demônio manipulador”- o carnaval carioca – com paixão e interesse como se fossem eles mesmos. Seria muito sonho se não fosse tão real! Alguém continua o projeto de inventar o Brasil.

A Mangueira é uma escola de samba popular ou o populismo chegou ao samba?

História Geral da Civilização Brasileira

Tomo III O Brasil Republicano Org. Sérgio Buarque de Holanda e Boris Fausto Vol. 11

Economia e Cultura (1930 – 1964)

 

Capitulo II – Relações Econômicas Internacionais do Brasil (1945 – 1964)

 

 

 

O GOVERNO DUTRA (1946 – 1950)

AS EXPECTATIVAS FRUSTRADAS

 

Com o fim da Segunda Guerra, as expectativas dos governos latino americanos para uma maior relação com os Estados Unidos fomentando investimentos para o desenvolvimento da região se viram frustradas. Considerando o aumento das relações comerciais e financeiras na região no período da guerra, são números: “Em 1945, 42% das importações norte-americanas eram originárias da América Latina (contra 25% imediatamente antes da guerra)” [1]·. Os autores mostram com outro exemplo, o do Eximbank, que desde sua criação em 1934 e sua transformação em agência autônoma em 1945, este operava essencialmente na América Latina, havia tido sua capacidade de empréstimo elevada para US$ 3,5 bilhões (contra US$ 700 milhões em 1940).

 Diante deste quadro de expectativas são mostrados dados que desmentem-nas, de maneira que a história se mostra outra. Em nota de rodapé os autores acrescentam que os investimentos norte-americanos via Eximbank estavam indo para outras partes.           (O Eximbank concederia crédito de US$ 1,9 bilhão à Europa no ultimo semestre de 1945 contra US$ 140 milhões concedidos à America Latina em 1946 no mesmo período) [2]. Dada a frente política e econômica que os Estados Unidos adquiriram no final da Segunda Guerra, estes estavam dispostos a oferecer não mais que conselhos à America Latina, como: controle fazendário, corte de gastos, equilíbrio das contas publicas e a proposta de livre conversibilidade das moedas (eliminar restrições e controles cambiais e encorajar o fluxo de capitais privados), como meio de integração na economia mundial, fazendo assim, insistir o caráter da proposta de economia global preconizada pelos Estados Unidos no imediato pós-guerra em detrimento de um projeto regional como expressado pela expectativa latino-americana.

O Brasil neste quadro achava-se um caso especial, o que motivou os argumentos da visita do ministro da Viação e Obras Públicas de Dutra em maio de 1946 – Macedo Soares – à Washington ressaltando o caráter político, mais do que mera relação financeira com uma agência, do pedido de empréstimo ao Eximbank. Isto se dava pelo fato dos apoios fornecidos pelo Brasil nos esforços de guerra e que por isso já tinha feito muito por merecer. O fato que marca tal contexto, desta forma, é o uso da expressão “relação especial” na política internacional brasileira para o período.

A posição dos Estados Unidos constava da seguinte forma, ainda segundo os autores: a) – o Brasil deveria ampliar suas fontes internas de financiamento antes de solicitar ajuda do Governo norte-americano; b) – o Brasil deveria distinguir entre seus programas de reequipamento e seus programas de desenvolvimento. Os gastos com os primeiro deveriam ser considerados como importações deferidas e financiados com as amplas reservas internacionais acumuladas nos anos de guerra; c) – para os programas de desenvolvimento, o interlocutor deveria ser não o Governo norte-americano, mas a instituição multilateral especialmente criada para tal fim – o Banco Mundial, e d) – de qualquer forma, o Brasil deveria ter presente que seu desenvolvimento, em ultima instancia , dependeria da habilidade de criar um clima favorável ao ingresso de capitais privados.[3]

Gen. Eurico Gaspar Dutra (1883 - 1974)

No contexto, eram poucas as restrições a fluxos financeiros internacionais, apesar da ausência de capitais privados e de linhas de crédito internacional organizadas criando um problema de liquidez mundial, só resolvida através da criação da União Européia de pagamentos, do FMI, e de empréstimos de Governo a Governo sob a égide do Plano Marshall. Sendo os objetivos finais por parte dos EUA a eliminação de restrições ao comércio internacional. Neste período no entanto o Brasil não estava muito preocupado com a situação econômica externa que parecia extremamente favorável, não obstante o maior problema era a inflação. Comprometidas com a doutrina liberal e com o projeto norte-americano citado acima, as autoridades brasileiras relaxaram varias medidas que controlavam a evasão de divisas do Brasil. A política economica do Governo Dutra consistiam então: “ aparentemente depositaram vasta confiança em uma solução duradoura para o potencial desiquelibrio do balanço de pagamentos nacional através da conta de capital, vale dizer, através da política liberal de cambio que, em estimulando as saidas de capital, pudesse estimular também ingressos brutos em proporção ainda mais significativa no futuro”.[4]

A partir de fontes como Delfim Neto e Pedro Malan constata-se que não havendo capitais nos países europeus, o que houve foi a saída espantosa de divisas no país, em números de Pedro Malan, entre 1946 – 1952 a saída líquida de divisas foi da ordem de 500 milhões, liquidas significam a diferença entre o total da saída de divisas e o que é necessário para as operações financeiras externas como o pagamento da dívida. Ou seja, menos capital na praça.

Tal fato alegado pela SUMOC ficou conhecido por liberalização cambial de 1946. O problema que se seguiu era a inconvertibilidade das moedas dos países que absorviam cerca da metade das exportações brasileiras. Conta-se que o superávit de 1946, o resultado da diferença positiva entre importação e exportação, se deveu praticamente ao comércio com áreas que tinham moedas inconversíveis. Fica complicado entender a questão da conversibilidade das moedas, mas neste caso o problema é que o país vende seus produtos, só que tem que “gastar” dinheiro na compra de dólares para pagar sua divida externa, assim o saldo positivo no balanço de pagamentos torna-se não relevante, pois o dinheiro arrecadado nas exportações, ponta positiva do balanço, não tem lastro significativo – nas palavras dos autores, sem poder de comando imediato sobre recursos reais – perante a moeda que repercute as operações financeiras do país no momento, que era o dólar norte-americano.

Harry Truman no "Oval Office" na Casa Branca

As justificativas para o não investimento ou comprometimento direto por parte do Governo norte-americano para o desenvolvimento do Brasil, a salvo a questão européia se dava por parte pelas insistências do Brasil, e ao ponto da deteriorização do balanço de pagamentos, situação que só iria se reverter a partir de 1949 a partir das altas nos preços do café no mercado internacional temporariamente. Menciona-se a criação da OEA – Organização dos Estados Americanos em 1948 em um contexto no qual os países latino americanos reclamavam a atenção dada a outras partes do globo como Europa e Ásia.  Somente a oposição norte-americana marcaria um desvio desta política na década seguinte política liberalizante que se restringia apenas ressaltar os interesses em termos de instruções como a facilitação de entrada de capitais de risco, encorajamento da empresa privada (estrangeira) e eliminação de restrições ao comércio internacional sob o rótulo de amplos objetivos da segurança norte-america que Ra a de manter o hemisfério livre do comunismo a partir de acordos bilaterais e amplamente condicionados. Tais relações só foram estabelecidas a partir da aprovação do Act of International Development que financiariam uma ação conjunta no qual o Brasil se prontificou produzindo um relatório bastante importante que serviu de base para as atuações do futuro Banco do Desenvolvimento Econômico  que seria criado em 1952 já no Governo Vargas.

 

           

Fatos

 

  1. Fim da Segunda Guerra em 2 de setembro de 1945
  2. Posse de Eurico Gaspar Dutra em 31 de Janeiro de 1946
  3. Presidente dos Estados Unidos: Harry Truman 1945 – 1953
  4. Criação do Eximbank 1934 e transformação em agencia autônoma 1945.
  5. Conferencia Interamericana sobre problemas de Guerra e Paz – 1945
  6.  Projeto político e econômico norte americano no Pós – Guerra: Para America Latina eliminar restrições cambiais e encorajar o fluxo de capitais privados.  Internacionalização da economia e proposta de livre convertibilidade das moedas.
  7. A “relação especial” do Brasil devido ao esforço conjunto de Guerra.
  8. A mudança da maneira de se fazer financiamento, no lugar de tratar os empréstimos como questão política como queria a diplomacia brasileira, considerar o Banco Mundial como principal agência mediadora. Em instruções para o financiamento do Brasil em 1946.
  9. Sobre as reservas internacionais do Brasil obtidas durante a Segunda-Guerra, estas foram gastas no pagamento em moedas conversíveis para obter o saldo positivo no setor externo da economia.
  10. Explosão dos preços do café depois de 1948.
  11. Valores disponíveis – 100 milhões de dólares
  12. Valores da divida externa publica em 1946, 644 milhões.
  13. Ausência de fluxos internacionais de capitais privados
  14. Solução mediante a criação da União Européia de Pagamentos, FMI empréstimos de Governo a Governo sob égide do Plano Marshall.
  15.  Conta de Capital e evasão de divisas como perspectiva atraente para capitais privados e auto-equacionamento do balanço de pagamentos.
  16. Liberalização Cambial da SUMOC de 1946.
  17. Medida de contenção das importações em 1948 devido ao déficit causado no balanço de pagamentos pelo acumulo de saldo em moedas “fracas”.
  18. Falta de Dólares em escala mundial
  19. Conferencia Interamericana sobre Defesa do Continente
  20. Tratado de Assistência Recíproca do Rio de Janeiro ratificando a posição latino-americana aos princípios da Guerra Fria.
  21. Aumento do Preço do Café no mercado internacional a partir de 1949. Aumento temporário.
  22. Criação da OEA em 1948 sob os auspícios da Guerra Fria em nome da segurança norte-americana.
  23.  Aprovação do Congresso norte-americano do Act of International Development e criação da comissão mista Brasil-Estados Unidos em 1950.


[1]  P.79

[2] P.81

[3] P. 81 Notas dos autores retiradas de Foreign Relations of the United States, 1946, vol. XI.

[4]  P. 82

História Geral da Civilização Brasileira

Tomo III O Brasil Republicano Org. Sérgio Buarque de Holanda e Boris Fausto Vol. 11

Economia e Cultura (1930 – 1964)

Capitulo II – Relações Econômicas internacionais do Brasil (1945 – 1964)

Introdução:

1. A NOVA ORDEM INTERNACIONAL EM GESTÃO NOS ANOS 40

2. A AMÉRICA LATINA E O BRASIL SOB A HEGEMONIA NORTE AMERICANA.

1.

A despeito das conversações diplomáticas iniciadas em 1941 entre EUA, Inglaterra e URSS como fruto de uma organização do mundo depois da II Guerra Mundial, a aparente unidade requerida no esforço de guerra era marcada por divergência quanto a projetos futuros entre os protagonistas. Segundo os autores, em termos analíticos poder-se-ia localizar duas vertentes para interpretação desses interesses diversos, qual sejam: Uma condizente a ordem econômica mundial internacional; acerca do modelo capitalista sobressaindo-se ao socialista e uma disputa das zonas de influências. Tal modelo estava preocupado com o ressurgimento dos regimes nacional-capitalistas e colocava uma proposta para uma não restrição do comércio multilateral e o controle dos fluxos internacionais de capital privado, tirando lição dos erros da política internacional norte-americana do pós Primeira Guerra Mundial que fomentou, a partir de uma política isolacionista no plano econômico, um bloqueio de fluxos livres para o capital privado, política como a levada a cabo pelo Governo Rooselvet (1933 – 1945), desde a segunda metade dos anos 30 e que prolongou os efeitos da crise de 1929.

Nesse entremeio a Inglaterra, em 1941, não era passível de uma formulação política de influencia internacional visto os resultados da Guerra à nação não configurando uma potência militar e econômica, colocando-se em estreita cooperação com a política organizatória norte-americana, apesar de defender seus interesses que não eram exatamente os do projeto norte-americano.

E a outra vertente, a União Soviética, com papel coadjuvante pelo motivo de envolvimento direto com a expulsão das tropas alemã de seu território, o país não se envolveu diretamente com os esforços anglo-americanos de reorganização capitalista através da representatividade na participação nas Nações Unidas (1945) e à formação do Fundo Monetário Internacional.

È ressaltado também os interesses de reordenamento geopolítico atentos aos balanços de poder e zonas de influencia. A Inglaterra de Churchill já anunciava a necessidade de alinhamento da economia norte-americana e a diplomacia inglesa para o combate ao expansionismo soviético, mas só a partir de março de 1947 que Tomam e seu famoso discurso de março anunciaria oficialmente a bipolarização do mundo “entre dois sistemas incompatíveis”.[1] O que os autores ressaltam é uma incompatibilidade maior entre Churchill contra o expansionismo soviético do que norte-americano por Roosevelt alegam, por exemplo, o sucesso diplomático do encontro em Teerã do qual Stalin saiu com muitas concessões e o resultado também revisto nos acordos de Postdam ao final da guerra, e as questões do Leste Europeu zona de influencia à qual Stalin estava mais diretamente interessa. O único ponto com que os autores discutem em relação às origens da guerra fria e a deteriorização das relações entre EUA e URSS sejam atribuídos à morte de Roosevelt (abril de 1945) e à ascensão de Truman à presidência para uma súbita e radical mudança na política externa norte-americana.

Churchill, Roosevelt e Stalin

Mostram o seguimento as linhas gerais traçadas por Roosevelt em termos econômicos de uma política mundial integrada através de fluxos de bens e capitais privados e como foros internacionais nos quais a União Soviética teria um construtivo papel a desempenhar (p.71). Mencionam também a postura dos conservadores perante a política rooseveltiana de certa ingenuidade quanto à questão de segurança nacional perante Stalin e a concessões dadas acerca de ordenamento geopolítico que teria alterado os fatos posteriormente, no entanto, sempre salvaguardando a frente de hegemonia norte-americana demonstrada tragicamente com as bombas de Hiroshima e Nagasaki em agosto de 1945. Abriram-se duas frentes contra a proposta norte-americana de internacionalização da economia via comercialização multilateral e livre convertibilidade das moedas levando em consideração o quadro econômico do pós guerra. A primeira interna, da parte de ampla representação no congresso norte-americana, mas que foi insuficiente diante da iminência da Guerra Fria; e o segundo ponto, principalmente encabeçado pela Inglaterra, sofreu reveses diante da ruína econômica européia no pós-guerra culminando no Plano Marshall que representaria o rompimento das resistências anteriormente referidas. O projeto de integração do capitalismo à escala internacional se dava pela diretriz da livre convertibilidade entre as moedas dos principais países.

O quadro principal é demarcado pela esterilização do pensamento político através do maniqueísmo fruto da Guerra-fria, o projeto americano com êxito após os 15 anos de Bretton – Woods, no entanto com o advento de novos fluxos de capitais internacionais privados (ausentes desde a crise de 1929) marcariam as décadas subseqüentes de 60 e 70. Mais quinze anos, 1974, e o mundo estaria atrás de outra reorganização da ordem econômica mundial como fruto do sucesso do projeto norte-americano engendrado anteriormente, o aparecimento de fluxos europeus.

Pontos principais.

Dois ordenamentos de âmbito internacional da economia capitalista:

O primeiro como resultado da segunda guerra mundial, através de encontros como Bretton – Woods e a proposta de livre convertibilidade das moedas e estruturação de influencia geo-política. A integração capitalista internacional culminada pelo plano de ajuda à Europa – Plano Marshall – e o começo de crises entre os anos 60 e 70, mediante novos fluxos de capitais privados antes ausentes culminando em outra reorganização do capitalismo nos idos de 1974.

2.

A influência norte-americana na América Latina nunca foi tão forte a partir do imediato pós-guerra e a configuração da geopolítica em termos de Guerra Fria.  Os Estados Unidos constituíram praticamente a única fonte de capitais para os países latinos, de assistência técnica e militar e como apontado no texto, quase 60% das importações dos países latinos no triênio 1946-48 provinham dos EUA que em contrapartida absorvia quase metade das exportações. A exploração das rivalidades políticas exploradas pelo Brasil, Argentina e México nas décadas anteriores não tinham mais fontes. As representações nas Nações Unidas mostravam a zona de influencia norte-americana com relação à América Latina. É elencada, pois, as raízes históricas subjacentes dessas “relações especiais”. Doutrina Monroe datada de 1823. Doutrina aceita sem resistência pelas elites creolas em seu processo de independência política. Em 1904, a política é estendida pelo Big Stick, tendo como corolário a figura de Roosevelt (Theodore), por intervenção para evitar a interferência de outras potencias. Assim “o viés intervencionista dos EUA na América Latina se projetaria até o presente, embora mudasse sua aparente rationale: a Guerra Fria, em decidida escalada desde 1947, fez com que considerações de Segurança Nacional se tornassem os determinantes principais da política externa global dos Estados Unidos[2]”.

Pontos Principais: Políticas externas dos Estados Unidos e histórico das doutrinas intervencionistas na América Latina culminando nas intervenções em nome de Segurança Nacional no contexto da Guerra Fria.

O Caso do Brasil

São ressaltados os fatores que levavam a considerar o Brasil como o país com mais expectativa com relação a essa cooperação, principalmente após a queda de Vargas. Posição não alcançada nem pela Argentina e México. As relações do Brasil com os EUA foram muito além dos esforços de guerra com a concessão de bases aéreas e navais no território nacional ou suprimento de matérias primas básicas assegurando preços estáveis durante o conflito e a atuação das forças brasileiras tentando expulsar as tropas alemãs do território italiano em 1944. O Brasil, como apontam, teria sido o primeiro país a participar das negociações de criação das instituições internacionais projetados para o mundo no pós-guerra. São assinados os Acordos de Washington por Souza Costa em 1942 que estreitam as relações entre EUA e Brasil já a partir do rompimento das relações com a Alemanha em 1939, a isto se segue um Governo democrático a partir de eleições e de uma constituição liberal em 1946 evidenciando tais aproximações.

Os autores ressaltam, contudo que estas “relações especiais” perante um quadro latino-americano do Brasil com os Estados Unidos eram assimétricas. Não no que diz respeito às obvias diferenças econômicas mais em relação às expectativas e percepções do relacionamento entre os dois países no pós-guerra. Mesmo com as relações já antevistas de Governo para Governo a luz do New Deal e Estadas Novo na colaboração dos esforços de guerra, que as elites militares e civis acreditavam prosseguir no imediato pós – guerra. Citam a missão Taub (1942) com o intuito de elevar a produção industrial brasileira com relação a norte americana através de investimentos destes. A missão Cooke (1943) com a substituição das importações por produção doméstica. E como afirmam os autores, naturalmente certos esforços norte americanos para com a industrialização do Brasil estavam ligados a esforços de guerra que tenderiam a diminuir com o término desta.

Um ponto que resumo tal trajetória é: “Com efeito, as vicissitudes da economia brasileira na década dos anos 30, de certa forma agravadas nos anos pós guerra, havia tornado progressivamente claro aos militares interessados em questão de segurança e desenvolvimento, bem como à reduzida parcela das elites brasileiras interessadas na diversificação da estrutura produtiva e na aceleração do ritmo de formação de capital na indústria e em infra-estrutura produtiva, que qualquer processo de transformação estrutural da economia brasileira requereria tanto um significativo grau de intervencionismo do Estado na vida econômica quanto uma expressiva contribuição da tecnologia e recursos externos, oficiais e/ou privados.” Segue a citação da criação por Vargas de uma Comissão de planejamento Econômico atrelado ao Conselho de Segurança Nacional, presentes Roberto Simonsen, Euvaldo Lodi, João Daudt D´Oliveira e San Tiago Dantas.[3] Daí segue-se que a maioria das questões políticas se dá pela forma e extensão de tais práticas bem como da participação do setor público na vida econômica.

Esta intervenção é apontada não como uma novidade, presente desde a “República Velha” com o intervencionismo na produção cafeeira, o que se tinha de nova era a tentativa de geração de capital fixo com diferenciação da estrutura produtiva da economia. Os autores ressaltam: “Não se tratava, portanto, apenas de induzir o setor privado, via “sinais de mercado” modificados e/ou intensificados pelos estímulos ou desestímulos governamentais, a se engajar em determinados programas de investimento. ”[4] É demonstrada via citação a necessidade de articulação dos interesses de investimentos privados em uma ação coordenada pelo estado para desenvolvimento da indústria e diversas estruturações limitadas por prioridades, principalmente, quanto a setores energéticos.

A conclusão dos autores segue que este fenômeno não tinha nada de brasileiro e seguia diretamente as tendências da economia mundial carreadas pelos aspectos do projeto norte-americano para o mundo no pós-guerra. Leia-se profunda descrença na ação dos empresários, de acordo com certa visão liberal, com norteio para oportunidades de investimentos em longo prazo ou a necessidade de assumir riscos a partir de novas iniciativas e a reduzir custos via elevação de produtividade e incorporação de novas tecnologias. Segue citação de Octávio Gouveia de Bulhões:

“Desde o inicio dos anos 40 e até o presente, tem insistido no fato de que o empresário freqüentemente julga preferível “alcançar um acréscimo de receita por meio de aumento de preços a consegui-lo em função do aumento de eficiência na produção” [5]

Cronologia Sumária:

Governo Dutra

1945 – Surge a UDN, que lança a candidatura de Eduardo Gomes à sucessão presidencial. Surge o PSD, apoiando a candidatura de Eurico Gaspar Dutra à sucessão presidencial. Surge o PTB, sob a liderança de Vargas. Os militares exigem a renúncia de Vargas. Eleições presidenciais com a vitória do Gen. Dutra.

1946 – Instala-se a Assembléia Nacional Constituinte. È promulgada a 4ªConstituição da República (5ª Constituição Brasileira)

1947 – É criado o Partido Socialista Brasileiro. O PCB tem seu registro eleitoral cassado. O Ministério do Trabalho intervém nos sindicatos e fecha a CGTB.

1948 – É cassado o mandato dos Deputados comunistas.

1949 – Cria-se uma comissão Mista Brasil – EUA chefiada por John Abbinck e Otávio Gouvêa de Bulhões. Seu objetivo é analisar a economia brasileira e traçar novas diretrizes para o país. É instalado o Conselho Nacional Econômico.

1950 – No “Manifesto de Agosto”, Prestes prega a Revolução para a libertação Nacional. Eleições presidências. Vitória de Getúlio Vargas (3-10).


[1] Ver in História da Civilização Brasileira Vol. 11 p.70

[2] História da Civilização Brasileira Vol. 11 p. 75

[3] História Geral da Civilização Brasileira, Vol. 11, p. 77

[4] Op. Cit. p.78

[5] Op. Cit. p. 79 nota de rodapé

Domick La Capra

Dominick La Capra

 

 

Seminário

 

História Intelectual  

Repensar la Historia intelectual y leer texto*  Dominick Lacapra

 

Dominick LaCapra, Professor of History and Bowmar Professor of Human Studies and Comparative Literature in Cornell University -, is interested broadly in19 th and especially 20th century intellectual and cultural history and critical theory. He is the author of numerous books, whose titles speak to the range of his interests: Emile Durkheim: Sociologist and Philosopher (1972); A Preface to Sartre (1978); Madame Bovary on Trial (1982); Rethinking Intellectual History: Texts, Contexts, Language (1983); History & Criticism (1985); History, Politics, and the Novel (1987); Soundings in Critical Theory (1989); Representing the Holocaust: History, Theory, Trauma (1994); History and Memory after Auschwitz (1998); History and Reading: Tocqueville, Foucault, French Studies ( 2000); Writing History, Writing Trauma ( 2001), and History in Transit: Experience, Identity, Critical Theory (2004).
His recent research has been in the area of trauma and Holocaust studies. He has also been examining problems related to historical understanding and the relation between history and literature.
He teaches courses on aspects of modern European intellectual and cultural history (including the reading of classic texts), including critical theory, trauma studies, and fascism.

 

El texto de Dominick LaCapra que se reproduce apareció originalmente bajo El título     “Rethinking Intellectual History and Reading Texts”, em “ History and Theory”, 1980, y fue reimpresso em Rethinking Intellectual History: Texts, contexts, language.

 

Comentário geral

 A despeito do problema que a representação teve no seio das ciências humanas nas ultimas décadas, seus desdobramentos a partir do debate da narrativa, que não somente esteticamente (a questão das formas de apresentação) de um lado, o texto de Dominick LaCapra assume diante da questão  implicações metodológicas e de síntese. Por exemplo, de outro lado, como quer a micro-história, colocar a existência de um contexto histórico independente da articulação cognitiva (Danto e Mink) que a narrativa e a pesquisa histórica possam dar, ou sobre o aspecto do caráter meramente representacional e ficcional da narrativa histórica a partir das críticas narrativistas como a de Ankersmit.

 O texto de La Capra sintetiza as questões e posições acima através de uma proposta metodológica que subverte noções corriqueiras como as relações sujeito/objeto, linguagem e mundo, internalidade e externalidade, discurso e realidade  colocando  uma perspectiva relacional, cujos protagonistas são texto e contexto se desdobrando para vida/obra,  autor/produção entre outros.  Esses pontos dão origem a questão da recepção, a necessidade de uma História da leitura, cara à proposta de Chartier, que não aparece do nada. Como um exemplo aqui fica claro à luz da problematização de outra perspectiva como o modelo de interpretação proposto por La Capra.

 

 A problematização de LaCapra parte de questões metodológicas da história intelectual, de uma necessidade premente de responder questões como o que se faz quando se faz história intelectual e por quê se faz. Já de antemão anuncia-se uma perspectiva crítica visto que não se parte da explicação teórica de fundamentação de um campo. Até porque, para LaCapra, a história intelectual assume uma função transdiciplinar e não como mera função, como exemplo dado de uma história social, mesmo que está em relação às funções anteriormente dadas a disciplina como de caráter introdutória a certos assuntos assuma uma função melhor localizada. À essa função transdisciplinar o autor caracteriza a disciplina em sua “especificidade relativa”. (p.239,1985)

O primeiro ataque a dualismos esvaziantes se dá à separação entre história interna, as idéias por elas mesmas, o autor pelo autor, e a perspectiva externalista no qual o contexto determina a investigação. Nas palavras do autor, às primeiras as idéias e a segunda os homens e as idéias.

Para maior riqueza de problematizações o autor propõe, por exemplo, a aproximação com outras disciplinas que se põem em frente aos problemas de interpretação; como a crítica literária e a filosofia. A problematização colocada pelo autor é a de como ler “grandes textos” e assim formular o problema da relação entre estes textos com diversos contextos pertinentes.

Diante das reduções a que os textos são colocados a proposta vai se encaminhando para a transformação do próprio texto enquanto objeto de pesquisa em detrimento de colocá-lo como um testemunho, documento, artefato instrumentalizado para a reconstituição de um determinado período histórico. Tal postura, apontada como um positivismo empobrece as inúmeras dimensões colocadas desde que se tome o texto como um problema. A referencia do autor a tal problema é tratada por uma concepção documental da compreensão histórica para uma proposta de uma concepção dialógica. (Compreensão histórica para o autor está mais para a possibilidade do historiador em conseguir traçar um dialogo entre o presente e o passado com isso se inserido na própria investigação, ou seja, historicizar-se, suplantando outra dicotomia atacada, a do sujeito e objeto.)Essa concepção dialógica pressupõe- uma interelação entre o próximo e o distante levando às implicações metodológicas. Isto é, uma não “forçasão de barra” em tornar o familiar o que não é atitude da qual se resulta o anacronismo. Daí parafrasear Heidegger e sua noção “pensar o impensado”, procurar os silêncios dos textos como caminho de investigação. Nos dizeres de Bariani: “A relação dialogal entre o historiador e o ‘objeto’ de estudo traz à tona a função de seleção, julgamento, estilização, ironia, paródia, autoparódia e polêmica no uso que aquele faz da linguagem, ela própria uma prática significante que está conectada a outras práticas significantes na vida humana.”

Sobre a relação do dentro e fora, que também diz respeito à internalidade e externalidade o autor coloca que esta implicada a relação entre “linguagem” e “mundo”, sua definição é que o “mundo” é “textualizado” haja vista que em perspectiva critica, interpretar o mundo é alterá-lo e não simplesmente interpretá-lo.

A via de acesso a realidade dos historiadores são fragmentos textualizados, assim a posição do historiador não é única, e todas as definições da realidade então comprometidas em processos textuais.  Entender estes processos é fundamental.

O problema a seguir é tratado sobre reconstrução documental e o dialogo com o passado via a consideração de uma grande tradição mais isto pressupõe prestar uma especial atenção a produção dos “Canon”. O que faz de uma obra um clássico, várias são as perguntas colocadas pelo autor, fazendo crítica a visão etnocêntrica de tratar apenas como textos tradições escritas e excluir outras tradições e culturas. Entretanto o autor evidencia o descompasso de algumas obras aparecem como clássicas e por isso mesmo perderem sua significação particular. O autor aborda estas questões a partir de uma distinção entre o que El chama de caráter documental e do “ser-obra”. A primeira caracterização diz respeito de que o documental situa o texto em dimensões fáticas ou literais que implicam referencia a realidade empírica e transmitem informação sobre ela. Enquanto o “ser-obra” complementa a realidade empírica com agregados. Elementos que contemplam a interpretação e a imaginação. O “ser-obra” é crítico e transformador, porque desconstrói e reconstrói o dado trazendo ao mundo um transformação significativa. Fazendo o exemplo que enquanto o documentário assinala uma diferença o “ser-obra” constitui uma. Isto me remete a própria historiografia é pode levar a critérios de diferenciação de uma boa historiografia para uma historiografia normal é aquela que fica. Algo bastante pós-moderno no que diz respeito de que o melhor não é o diferente, todos nós somos, o melhor implica fazer a diferença! Mas em termos de analise estes aspectos são simultâneos em qualquer texto. A partir destes problemas é que o autor propõe uma história intelectual como uma história dos textos e seguem-se daí seis outros problemas como feitos na história tradicional e outros enfoques sugeridos pelo autor: A relação entre as intenções do autor e o texto, a relação entre a vida do autor e o texto, a relação entre a sociedade e os textos, a relação entre a cultura e os textos, a relação entre um texto e um corpus de texto de um escritor e, por último, a relação entre os modos de discurso e textos.

 

 

 

A RELAÇÃO ENTRE AS INTENÇÕES DO AUTOR E O TEXTO

 

 

A primeira caracterização do autor é quanto às teorias dos atos de fala, a necessidade de se captar a intenção do autor ao fazer o texto. No entanto, tal postura, acusa o autor, de levar a opinião extrema de que a partir da enunciação se está deduzindo o significado das intenções do autor ao fazer seus escritos. A posição de Quentin Skinner que defendia com vigor que o objeto da história intelectual deveria ser o estudo do que os autores pretendiam dizer em contextos históricos e situações comunicativas diferentes. (Uma defesa da intenção autoral como o elemento que proporciona um critério de interpretação válida.). as criticas são dirigidas são ao problema do impedimento da relação entre intenções além da incluída auto-impugnação. A questão é que esta intencionalidade não considera a expropriação da tradição do autor já que seu texto é passado a domínio publico. O autor coloca que as diferenças básicas  nas interpretações  ( o modo do discurso) poucas vezes giram, em torno de simples questões de faro – e que em certos níveis essas diferenças podem ter um valor não integralmente subordinado ao ideal de consenso na interpretação. Posto que seja possível que se relacionem com processos de impugnação que tem um papel crítico no presente e que tem como objetivo conservar de alguma forma um contexto social qualquer.

 

 

 

 

 

 

 

 

·        Internalidade  e externalidade

·        História intelectual como método.

·        O problema da tradição e colocar a relação entre textos e seus diversos contextos pertinentes

·        Transformação do texto em problema

·        Crítica a concepção documental da compreensão histórica.

·        Proposta de uma concepção dialógica

·        Proximidade e distanciamento

·        Inserção do pesquisador como construtor de contextos

·        O aspecto estilístico como uma prática significante.

·        Linguagem e mundo

·        Outras artes e a tarefa de traduzi-las (Lembrar do exemplo do Palavra a da nova função do gramático. De orientador e não de dono da verdade)

·        Os processos textuais são a via do historiador à “realidade”

·        Reconstrução documental e dialogo com o passado

·        Problematização da produção dos Canon

·        Caráter documental e “ser-obra”

·        A História intelectual como uma história do texto

·        Problemas de abordagens

·        A relação entre intenção do autor e texto e as teorias dos atos de fala.

·        A relação entre a vida do autor e o texto

 

 

Thomas Elliot Skidmore

Thomas Elliot Skidmore

 

 

Professor of Modern Latin American History and Portuguese and Brazilian Studies Emeritus

 

Thomas E. Skidmore is considered a leading interpreter of Brazil in the United States, and the author, co-author, or editor of nine books and numerous scholarly articles. He received his M.A. in philosophy, politics, and economics from Oxford University and his Ph.D. in modern European history from Harvard University. The second edition of his most recent book, Brazil: Five Centuries of Change (Oxford University Press) is forthcoming in 2008. Three of his books—Politics in Brazil 1930–1964: An Experiment in Democracy (Oxford University Press, 1967), Black Into White: Race and Nationality in Brazilian Thought (Oxford University Press, 1974), and The Politics of Military Rule in Brazil: 1964-1985 (1988)—are acknowledged classics in the field of modern Brazilian history and academic bestsellers in the United States, Brazil, and Europe. Other recent publications include Television, Politics, and the Transition to Democracy in Latin America (Johns Hopkins University Press, 1993, ed.) and Modern Latin America (Oxford University Press, 1984, with Peter H. Smith). Skidmore is co-editor of the Cambridge Encyclopedia of Latin America and the Caribbean (Cambridge University Press, 1985), and is on the editorial board of The Journal of Interdisciplinary History. He has served as oresident of the Latin American Studies Association and of the New England Council of Latin American Studies.

 

A Revolução de 30

 

A posse de Getúlio Vargas em novembro de 1930 pode ser caracterizada como um golpe pelo motivo de que foi a tomada armada de um líder civil em um movimento de oposição quando os militares mais graduados haviam deposto Washington Luis (1926-1930) mesmo a despeito do resultado favorável nas eleições para Julio Prestes no qual Getúlio Vargas havia sido derrotado. Skidmore ressalta que, pela primeira vez desde a Proclamação da Republica, o candidato do “governo” não conseguiu tomar posse. Isto não significava tranqüilidade nas eleições da República Velha (1889 – 1930), ao contrário, a presidência da republica era encarada como o premio de uma profunda disputa política visto que pela constituição de 1891 o presidente estava proibido de ser reeleito. A escolha do candidato vencedor era feita previamente mediante jogos políticos intra-partidários e uma vez acertada, as maquinas eleitorais estaduais tinham relativamente facilidade na manipulação dos resultados. Desta forma, com o apoio dos lideres políticos de um numero de suficiente de Estados era possível assegurar a maioria eleitoral. O candidato indicado, amparado pelo regime vigente, não temia a derrota.  Ainda havia o filtro na eleição municipal a partir dos “currais eleitorais” sob tutela dos coronéis. Skidmore já aponta para a época o declínio do sistema de controle político do coronelismo patriarcalista resultado de mudanças econômicas que minavam a tradicional estrutura econômica do atrasado interior brasileiro, no entanto ainda era um fator a ser considerado nas eleições de 1929.

O candidato apoiado por Washington Luis – Luis Carlos Prestes –, ambos de São Paulo, recebeu de acordo com as fontes 1.091.709 dos 1.890.524 votos válidos nas eleições de 30. O contestamento dos resultados partiu da oposição sob a égide da Aliança Liberal que tinha também o apoio de lideres políticos de Minas Gerais e Rio Grande do Sul indignados com a perspectiva da política paulista de prolongar seu governo. O caso já fora visto em 1910 e 1922, no entanto os fatos nesta ocasião não ficaram em termo de retórica apenas. Em 30 de maio, Getulio Vargas lançou um manifesto e algumas semanas depois das eleições jovens aliaram-se ao golpe, entre eles, Oswaldo Aranha e Lindolfo Collor, que estavam em contato com lideres descontentes da Aliança Liberal, em Minas e na Paraíba. Há a menção dos patriarcas políticos do Rio Grande do Sul (Borges de Medeiros) e de Minas Gerais (Antonio Carlos) só que como mais cautelosos quanto à Revolução. Skidmore diz que como um nem o outro queria começar a revolta – pois no contexto prevalecia o próprio argumento expresso na fala de Julio Prestes a respeito de mudanças “nossos hábitos e costumes políticos poderiam ter lugar dentro da ordem e do regime” preocupação de todos os políticos da época por mais que tivessem insatisfeitos com resultados.Governador Antônio Carlos

  De modo que o acontecimento que catalisou a Revolta da oposição foi o assassinato do ex-candidato à vice-presidência, João Pessoa, da Paraíba. Morreu em 26 de julho assassinado pelas mãos de um filho de um inimigo local. Nada de atípico dentro do conturbado cenário político nordestino entre brigas de famílias locais. O agravante foi o apoio de Washington Luis à família do assassino.

O movimento de revolta foi organizado na forma de um quartel-general sob comando do Coronel Goés Monteiro e a data da revolta foi marcada para três de outubro. A revolta teve o apoio dos tenentistas. A Aliança dos Estados ia minando o poder de Washington Luis a ponto de este perder o comando militar do governo. E considera-se o fato de que em relação a apoio a Washington Luis: “Ninguém desejava que seu filho vestisse uma farda e fosse morrer na linha de frente por um homem tão francamente divorciado dos interesses coletivos. (Skidmore p. 24)

 Diante da revolução iminente parte dos militares interveio com o pedido de fazer com que o presidente renunciasse, solicitação tida como em vão diante da recusa do presidente a proposta. Apenas depois que Cardeal Leme do Rio de Janeiro convenceu o presidente de que sua posição estava perdida e que deveria renunciar a sua pretensão de empossar Julio Prestes em novembro.

 

Com isto governou uma junta militar por dez dias até empossar Getulio Vargas em três de novembro. Skidmore chama à atenção para o fato de que, como na transição do Império para a República em 1889, os militares superiores assumiram a transição, no momento crítico, que então transferem o poder para novos quadros de políticos civis a favor da ordem. Em 1930, os comandantes do Exercito e da Marinha encontraram-se colocados numa posição que se deveria torna-se cada vez mais familiar na subseqüente história do Brasil: o papel de arbitro final da política interna. (Skidmore, p. 25)

 

 

A tomada do poder por Vargas ficou conhecida como a Revolução de 30, pelo menos em termos políticos e a caracterização do autor do período é que “na década e meia depois de Vargas ter assumido o poder, praticamente todas as características do sistema político e da estrutura administrativa foram objeto de zelo reformista” (Skidmore, p. 25). Argumenta então que a Revolução vista da perspectiva de 1930 seria apenas mais um fato político da luta entre as elites por posições no governo, mas ressalta que as reformas oriundas da Revolução de 30 afetaram estruturalmente a dinâmica das relações políticas de até então e que acompanharam também fatores externos como a conjuntura da economia mundial, bem como das relações sociais com a emergência de um projeto de industrialização e do aparecimento de novos atores na política. Segundo o autor, são dois os fatores que distinguiram a Revolução de 30, como tratada anteriormente: O primeiro, a antiga República desabou sobre o peso de suas disputas internas e de fatores econômicos de ordem mundial e o segundo reflete uma revisão profunda do sistema político anterior.

Havia uma perspectiva que tomava as mudanças como meramente formais em termos de alterações na constituição, no mais exato sentido jurídico, ou, os que desejavam uma mudança mais profunda nas relações sociais e no sistema político, abrangendo uma reorganização nacional. Tais perspectivas traduziam um desejo de novas formas de experimentação política. O esforço resultou segundo os destaques de Skidmore em sete anos de agitada improvisação que incluíram uma revolta regionalista em São Paulo (A Revolução Constitucionalista de 1932), uma nova constituição (A constituição de 1934), um movimento de frente popular (O Movimento da Aliança Nacional Libertadora), um movimento fascista (A Ação Integralista Brasileira) e uma tentativa de golpe comunista (Intentona Comunista). Culminando, o Brasil exausto, na experimentação política e antidemocrática com oito anos de regime autoritário a partir de 1937, o Estado Novo.

 

 

 

 

 

Getulio, Golpe, Washington Luis, Coronelismo, Eleições Estaduais, Sucessão presidencial, aliança entre os estados, Política do Café com Leite, João Pessoa, Revolta G, MG, PR, A presença dos Militares, Transição em períodos críticos, Ordem, A externalidade de outros fatores, alteração do sistema político, Revolução Constitucionalista de 32, ANL, AIB, Intentona Comunista, Plano Cohen, Golpe do Estado Novo de 1937.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Seminário: Micro-história

LEVI, Giovanni. 1992. “Sobre à micro-história”. In A escrita da história: novas

perspectivas, Peter Burke, org., págs. 133-162. São Paulo: Editora UNESP.

ROSENTAL, Paul-André. 1998. “Construir o ‘macro’ pelo ‘micro’: Fredrik Barth e a

‘microstoria’”. In Jogo de escalas: a experiência da microanálise, Jacques Revel,

org., págs. 151-172. Rio de Janeiro: Editora Fundação Getúlio Vargas.

História e Antropologia.

1- Apresentação

Dando continuidade, depois de discutir a História na Antropologia, os textos que irei apresentar são de perspectiva inversa: Como os historiadores estão utilizando a Antropologia mesmo a despeito do amplo campo semântico compreendido na palavra história, enumerando uns logo abaixo:

História Disciplina

História como objeto da Filosofia e assim Filosofia da História (processo Histórico)

História dentro da perspectiva da crítica estruturalista de mudança e movimento. (Agência)

A perspectiva na qual História aqui nos interessa, embora perpasse todos estes campos, diz respeito à perspectiva disciplinar. Tratamos nos textos da discussão de uma proposta metodológica pensada a partir de problemas colocados por mudanças de paradigmas ou de reflexões epistemológicas.

Tema:

A partir de uma problemática colocada pela questão das estruturas, alguns historiadores, dentre os quais, principalmente, Giovannni Levi e Carlo Ginzburg , propõem um novo método na pesquisa histórica amplamente influenciada pelo conceito de etnicidade do antropólogo norueguês Frederik Barth cuja obra de principal expressão é Ethnic groups and boundaries (1976a).

Tal problemática é vista como uma nova proposta na História Social e no que diz respeito à Historiografia Brasileira, tem sido discutida por alguns autores específicos; parece haver em Vainfas uma preocupação, sobretudo com os jogos de escalas.

O problema na Historiografia, breve contextualização.

A perspectiva histórica da trajetória disciplinar da História aqui esboçada (e muitíssimo resumida, pressupondo já um conhecimento prévio) segue Peter Burke. Embora apologeta da História Cultural , como visto em sua demonstração acerca de mitos de origem da mesma; o exemplo seria sua apresentação de um dos ‘pais’ da História Cultural, Jacob Burckhardt,  historiador suíço, que em 1878 escreveu The Civilization of the Renaissance in Italy, estudo conhecido e colocado na tradição de um campo em legitimação na historiografia, a chamada História Cultural, no qual Peter Burke é um  grande estudioso e articulador.

Contra uma História Política e dos acontecimentos no paradigma Rankeano(positivista), na qual o Arquivo tornou-se peça principal e a despeito de exceções como à perspectiva contemporânea a esta como as de Herder e Vico, surge um movimento de contestação na França a partir de uma Revista pelo qual ficou mundialmente conhecido: “ Revue des Annales”. Surge daí a proposta de uma História Estrutural, aproximação ao modelo da sociologia durkheimniana, dando origem a uma História Social. Em uma perspectiva de conflitos, esta História Social, em sua vertente que estuda as idéias (história das mentalidades) ou em sua abordagem mais social e dialética, sendo a pesquisa histórica epistemologicamente orientada por diversas perspectivas como a marxista, entendendo aqui por marxista as possibilidades investigativas dos diferentes marxismos. Este campo também abre possibilidades para propostas de uma História Intelectual, idéias de filósofos ou uma história social dos intelectuais, uma História econômica com diálogo com os economistas ou o dialogo com a sociologia e a Antropologia Social. Centrando-se assim, em uma perspectiva interdisciplinar, como proposta principal para a investigação histórica segundo os Annales.

Um segundo desdobramento desta perspectiva, que é entendida por alguns como uma fragmentação, tem-se desdobrado em História Serial (éventuellement), História quantitativa (cliometria) dados estatísticos, arquivos como banco de dados, uma História vista de baixo, uma História Feminista cuja categoria central passa a ser o gênero e, enfim , a própria proposta da Micro-história como resposta aos determinismos estruturais de matriz althusseriana no marxismo ou de matriz estrutural funcional. Funcionalismo(estrutural) perspectiva psicologizante, (psicologia social) e anacronismo psicológico. Outra perspectiva é a própria  ao modelo da História Social ‘das estruturas’ seria a História Cultural; que como nos mostra Peter Burke, centra-se em torno do conceito de Cultura da antropologia. Um ponto talvez interessante para reflexão é que enquanto os historiadores se apropriam do conceito de cultura a partir de uma perspectiva culturalista,  ao mesmo tempo a antropologia vem fazendo duras criticas a este próprio conceito de cultura. (ver os trabalhos de Clifford, Fischer, Abu-Lughod)

Os principais nomes da EHESS, Historiografia Francesa e Escola dos Annales (1929-1989) são Emmanuel Le Roy Ladurie,Philippe Ariès,Georges Duby,François Furet,Jacques Le Goff,Lucien Febvre,Marc Bloch,Pierre Nora,Pierre Vidal-Naquet,Jacques Revel,Fernand Braudel. Passando por várias gerações, a 3° geração de Annales é conduzida por Michel Foucault e Jacques Le Goff; fica mais conhecida como a “Nova História” onde toda a atividade humana é considerada história.

Juntamente ao que acontece com a Antropologia, a História vem se debruçando sobre questões epistemológicas fruto de novas relações estabelecidas pela pesquisa com novas fontes e objetos/sujeitos. Ver as relações da História com a cultura material, vide Arqueologia, História oral, Imagens vide iconografia e iconologia, História da Arte.

Segue abaixo uma imagem dos campos na Historiografia segundo diversos critérios levantados por BARROS, José D’Assunção em O Campo da História – especialidades e abordagens. Petrópolis: Vozes, 2005.

LEVI, Giovanni. 1992. “Sobre a micro-história”. In A escrita da história: novas perspectivas, Peter Burke, org., págs. 133-162. São Paulo: Editora UNESP.

Breve Biografia de Giovanni Levi

GIOVANNI LEVI (Milano, 1939), professore ordinario di Storia moderna, ha insegnato nelle Università di Torino, Viterbo e Venezia e in numerose università straniere (Francia, Spagna, Argentina, Messico, Stati Uniti). Ha diretto la collana Microstorie (Einaudi) e la rivista “Quaderni storici”. Fa parte della redazione delle riviste: “Rivista di storia economica”, “Zakhor”, “l’Espill”, “Enquete”, “Pasajes”. Collabora all’associazione MERIFOR (Mediterraneo, Ricerca e Formazione) e fa parte del consiglio direttivo di IDEAS (Centro interdipartimentale per l’analisi delle Interazioni Dinamiche tra Economia, Ambiente e Società). E’ co-cordinatore del Dottorato del programma di studi avanzati dell’ Università Pablo de Olavide di Siviglia ‘ Europa, el mundo mediterraneo y su proyeccion atlantica’ ed è membro del Consiglio didattico del Dottorato dell’ Università di Ca’ Foscari ‘Storia sociale europea dal Medioevo all’ Eta’ moderna’. Ha scritto, tra l’altro, L’eredità immateriale,Torino, Einaudi, 1985; Centro e periferia di uno stato assoluto, Torino, Rosenberg, 1985;. Sta lavorando a una storia del consumo in età moderna.

A principal obra de Giovanni Levi na Historiografia

LEVI, Giovanni. A herança imaterial. Trajetória de um exorcista no Piemonte do século XVII. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000.

In: http://www.unive.it/nqcontent.cfm?a_id=7043&persona=000910

University

Of

Venice
levi@unive.it

Abordagens da Micro História para Giovanni Levi

A micro – história tem como proposta  uma história experimental. No lugar de fazer uma leitura do passado já de antemão estruturada, trata-se de explicar o passado a partir de elementos retirados “empiricamente” do próprio contexto re-criado entre configurações constantemente em adaptação. (Rosental) chama à isto de neopositivismo. A (estrutura), o sistema é composto por elementos (micros). A diferença disto para um relativismo é que ainda se procura explicações maiores.

Definição de Revel em Lê pouvoir au village(1989): Define a micro história como a tentativa de estudar o social, não como um objeto investido de propriedades inerentes, mas como um conjunto de inter-relacionamentos deslocados, existentes entre configurações constantemente em adaptação.

Um dos problemas que queremos levantar aqui é o da Revisão Teórica, ou seja, como a Historiografia se apropria dos conceitos das Ciências Sociais: Conceitos nas ciências sociais imprecisos e utilizados metaforicamente.


Caracterização da Micro-história

A micro-história como prática historiográfica tem suas referências teóricas variadas e, em certo sentido, ecléticas.  O sentido da micro-história não é definido em relação às micro dimensões de seus objetos de estudos.

Nesse sentido, Levi define a micro-história como um trabalho experimental por não ter uma ortodoxia estabelecida para dele se servir (crítica ao marxismo, estruturalismo) modelos na História da Historiografia até então anteriores. Com efeito, ter-se-ia um movimento epistemológico do fato para teoria e não da teoria para o fato como objetivos últimos. Essa perspectiva apareceu em História no contexto político da Década de 70 e a resposta dos Historiadores aos grandes sistemas funcionalistas e marxistas que até então dominavam a História Social. Tal como Levi nos fala de uma revisão do aparato conceitual e um deslocamento no que diz respeito à falência dos sistemas e paradigmas existentes para uma completa revisão dos instrumentos de pesquisa atuais.

O que interessa tanto o historiador neste movimento e que permitirá qualificá-los segundo apresentação de Burke de neopositivistas, pode ser visto  a partir da ênfase na pesquisa que Barth tão bem expressou em sua teoria da etnicidade colocada diretamente do campo (Arquivo dos Antropólogos) dando destaque para o empírico como defendido nos postulados positivistas a partir da primeira definição científica de história (Historik Alemã) que se deu no movimento da consagração do Arquivo por Ranke em seu modelo positivista e o que na Antropologia Social só foi logrado por Malinowski tempo depois. O que eu quero dizer aqui é que a História já nasceu positivista e a Antropologia também, lembrando dos evolucionistas culturais anteriores a Malinowski que concluiu o processo com relação a metodologia, com a ‘invenção’ da prórpria etnografia.

Críticas ao movimento da mudança social.

Progressão regular pelos agentes sociais conforme dois modelos: ou conforme as solidariedades ou conforme o conflito (dialética marxista) em algum determinado sentido, naturais e inevitáveis.

Ao (Processo Histórico) possuindo um sentido único, aqui também cabe a palavra História, mas com outro valor semântico que não o da Disciplina.

A crise, Outras respostas e justificação.

Contudo, Levi coloca que a micro-história com certeza não foi à única resposta a esta crise  aos postulados da História Social, mas evidencia sua justificativa caracterizando-a a partir de sua redefinição de conceitos e uma análise aprofundada dos instrumentos e métodos existentes.

Justificação de Levi mostra sua posição perante as outras formas de resposta à crise deste contexto que, segundo o autor , são: ‘absolutamente mais drásticas que com freqüência desviam para um relativismo desesperado, para o neo-idealismo ou mesmo para o retorno a uma filosofia repleta de irracionalidade.’ *

Sujeitos que praticam a Micro-História.

Historiadores que tinham suas raízes no marxismo, em uma orientação política para a esquerda e em um secularismo radical com pouca inclinação para a metafísica.

Proposta.

Pág. 135.  Seu trabalho tem sempre se centralizado na busca de uma descrição mais realista do comportamento humano, empregando um modelo de ação e conflito do comportamento do homem no mundo que reconhece sua – relativa – liberdade além, mas não fora, das limitações dos sistemas normativos prescritivos e opressivos. Assim, toda ação social é vista como o resultado de uma constante negociação, manipulação, escolhas e decisões do indivíduo, diante de uma realidade normativa que, embora difusa, não obstante, oferece muitas possibilidades de interpretação e liberdades pessoais. (lembro-me do conceito de De Certaeu De tática e estratégias. Um para estrutura e outro para a ação do indivíduo.) Pensar a História e a Estrutura de Sahlins, com a diferença da Longue Durée de Braudel como este coloca em Ilhas de História.

O problema Disciplinar.

Segundo Levi a micro-história não tem como questão principal o conflito entre a nova história e a história tradicional (apesar de ser fruto de tais questionamentos) sua principal questão era combater a perspectiva de uma história encarada como uma prática interpretativa. A história não é um texto, e por isso o historiador reclama o direito de interpretar os acontecimentos e não os textos. As estratégias para isso são os métodos da Micro-história e uma nova definição de perspectiva.

a) – Redução de Escala Pág. 137

Para a micro-história, a redução de escala é um procedimento analítico, que pode ser aplicado em qualquer lugar, independentemente das dimensões do objeto analisado. Pois sua prática é essencialmente baseada, em uma análise microscópica e em um estudo intensivo do material documental.

A diferença é que tal perspectiva não tem como questão, simplesmente, chamar a atenção para as causas e os efeitos do fato de dimensões diferentes que coexistem em cada sistema social.

Proposta de Barth e o seminário organizado por ele em Oslo em 1978.

A diferença é que micro não é o objeto de estudo e sim o local de estudo o Problema é macro. a perspectiva que é micro. O exemplo do pão e a hierarquização dos sistemas. A Micro – História está ligada à Proporcionalidade.

Escala. 1/1, a realidade. Pensar na representação do todo, mas é o todo que prevalece. 32/1. 2/1, onde o micro tem suas próprias configurações, mas é neste micro que pode-se encontrar respostas para questões macro.

Este problema tem relevância tangencial quando o problema real está na decisão de reduzir a escala de observação para propósitos experimentais.

O resultado deste procedimento: os fenômenos previamente considerados como bastante descritos e compreendidos assumem significados completamente novos, quando se altera a escala de observação. É então possível utilizar esses resultados para extrair uma generalização mais ampla, embora as observações iniciais tenham sido feitas, dentro de dimensões relativamente estreitas e mais como experimentos do que como exemplo.  (pág. 141)

Se não me engano: Temos aqui uma relação epistemológica de complementaridade do numerador da escala, com o denominador, sendo o último correspondendo a uma realidade própria. Este movimento de complementaridade está radicado na possíveis generalizações. Complementaridade de significados. Experimento no lugar de exemplo e também não o contrário uma radicalização dos significados.

b)- uma definição específica do contexto e a rejeição do relativismo.

Definição específica do contexto.

Aproximação da Antropologia e História:

A construção do contexto segundo a perspectiva da descrição densa: Em vez de se iniciar com uma série de observações e tentativas para impor sobre elas uma teoria do tipo legal, esta perspectiva parte do conjunto de sinais significativos e tenta ajustá-los em uma estrutura inteligível. È a construção do contexto a partir dele mesmo.

Entretanto: O problema da produção das fontes (o mesmo da História Oral) e a Autoridade Etnográfica apontada por Clifford. O Problema da Interpretação ilimitada.

Rejeição do Relativismo.

Aferições Epistemológicas

Produzido pelo negligenciamento da teoria. A teoria é válida somente no contexto.

A proposta de Levi é que tanto a quantidade de informação necessária para se organizar e definir a cultura, quanto à quantidade de informação necessária à ação, são historicamente mutáveis e socialmente variáveis. Seria esse, portanto, o problema que necessita ser enfrentado, uma vez que o arcabouço das estruturas públicas, simbólicas, é uma abstração. Pág. 149

Posição de Levi como uma espécie de limitação auto-imposta (pág. 144)

c)- o debate científico sobre a racionalidade

Teorias da racionalidade de Geertz (Um excurso) que vai até a aproximação deste com Heidegger)

Segundo Levi: Aqueles que concordam com essa abordagem (exposta por Geertz) não acreditam que seja necessário questionar as limitações, as possibilidades e a mensurabilidade da própria racionalidade. (Culturologia) Reificação da cultura?

A resposta de que, todavia este processo (como nos coloca Geertz) não é somente um processo privado, uma vez que o significado dos símbolos repousa no fato de que eles são compartilhados e por isso comunicável, assim organizado.

Problema do ator racional, uma autêntica idéia-mestra, uma premissa que implica, em Barth, não só uma sociologia, como uma determinada concepção do ser humano e de suas obras. (Villar) caracterização.

e)- a questão da capacidade receptiva e a narrativa

Nem é somente um problema entre história qualitativa e a construção retórica como acusada por Hayden White ou a história serial quantitativa. A resposta da Micro história é a direção do problema exclusivamente para a questão da comunicação da obra, sua proposta é a de que o leitor não seja considerado uma tabula rasa, mas que assuma o papel de interlocutor no processo narrativo construído sobre a forma de diálogo. Pressupostos da heteroglossia de Bakthin


ROSENTAL, Paul-André. 1998. “Construir o ‘macro’ pelo ‘micro’: Fredrik Barth e a ‘microstoria’”. In Jogo de escalas: a experiência da microanálise, Jacques Revel, org., págs. 151-172. Rio de Janeiro: Editora Fundação Getúlio Vargas

Breve Biografia

Directeur d’études à l’EHESS (École des hautes études en sciences sociales ) ; Chercheur associé à Études Sociales et Politiques des Populations, de la protection sociale et de la santé (ESOPP (Unité « Histoire et Populations »).

Discipline :  Histoire et civilisations de l’Europe

In: http://www.ehess.fr

A crítica de Rosental à microstoria italiana.  Em termos de uma revisão comparativa e histórica das relações das propostas da micro história e as propostas teóricas do antropólogo norueguês Frederik Barth.

Define-a como os que pretende modificar a percepção dos objetos conhecidos aplicando aos fenômenos estudados uma multiplicidade de olhares sucessivos e apresentando sob ângulos diversos realidades frequentemente contraditórias. Elas acarretam também uma reflexão sobro o modo de construção da narrativa pelo historiador. Esta abordagem o autor chama-a de “multiscópica”.

O próprio nome colocado por Rosental já nos permite ver sua crítica à abordagem que ele propõe. Multiscópica ao contrário da micro história que são leituras micros de um processo geral que não considera a heterogeneidade do micro enquanto relações únicas. Sempre com um pé no macro, o que o autor chama de abordagem Barthiana a tentativa de construir o macro pelo micro.

Assim Rosental coloca a micro-história no que ele qualifica como neo-realista.

Define na página 152

Por meio da promoção de um sujeito que pensa e age segundo modalidades básicas universais e racionais, podemos definir o projeto micro-histórico como aquele que visa a reconstituir todas as cadeias de causalidade que, a partir das escolhas dos indivíduos, produzem as formas sociais que observamos. A escala não é mais aqui um instrumento com o qual podemos jogar de maneira quase indiferenciadas: ela deve necessariamente privilegiar um plano particular – o microscópico.

Segundo Rosental, a matriz teórica que influenciou a micro história italiana foi a de Frederik Barth.

Na primeira parte são apresentado as relações das propostas de Barth sobre a racionalidade limitada, incerteza, incoerência dos sistemas de norma, espaço dos possíveis, causalidade não-determinista, continuum das formas sociais com as proposta da micro-história.

Então o autor argumenta que essas três grandes linhas teóricas (ênfase na mudança, na não coerência dos sistemas normativos) que permitem estas perspectivas não deslocarem apenas os pressupostos, mas os próprios objetos de estudo. Nas abordagens macro-estrututurais, um comportamento é normalmente aceito como a tradução imediata e inequívoca de um conjunto de normas, às quais ele permite, segundo se supõe, remontar.

Mais uma vez o conceito de Estratégias e Táticas de De Certeau. Quando Rosental coloca em cena um individuo ativo e racional, operando escolhas próprias; dar conta das obrigações e das limitações que pesam sobre ele; relatar essas obrigações numa escala microscópica; mostrar que a incerteza no nível da troca interindividual não é incompatível, no nível agregado, com regularidades comportamentais. (Teoria dos Jogos)

A noção de Valor pág. 159.

Método. A primeira tarefa do observador deve ser examinar as escolhas efetuadas pelos autores. Ele deve em seguida relaciona-las às configurações particulares nas quais estes estão inseridos, determinando notadamente os recursos dos atores e as obrigações que pesam sobre eles. É o estabelecimento dessa relação que deve permitir descobrir os valores, concebidos como os parâmetros que terão sido levados em conta nas decisões individuais.

A partir das principais noções Barthianas o autor começa a colocar os termos que fazem uma junção da teoria de Barth com a microhistória. Fazendo comparação do Livro de Levi e M. Gribaudi Pág. 167.

Assim o autor volta às premissas de sua analise, apontando que a razão pela qual Barth vê na dimensão microscópica a fonte da mudança social está ligada à importância que ele confere à diversidade.

Ainda na explicitação dos fundamentos Barthianos na obra de Gribaudi o autor aponta a posição que ele caracteriza como popperiana da necessidade de poder submeter os modelos propostos (pois trata-se apenas, em todos os casos, de modelos) a tentativas de falsificação. A despeito das diferenças com a micro história que preza mais pela validação do que pela falsificação, esta atribui o tratamento da história como uma verdadeira ciência experimental alinhada não à compreensão e sim à explicação caracterizando-a finalmente como neo-positivista, ponto que já foi apontado a partir do retorno a empiria no modo determinante da produção da inferências da história.

Na verdade o texto de Rosental nos ajuda a clarificar a partir de uma comparação uma posição que aparece obscurecida no texto de Levi. Até porque tem propostas diferentes: A primeira explicar o que é a micro-história em termos de projetos e o outro contrapor a gênese teórica a partir de uma história intelectual dos diálogos internos entre disciplinas apontando o estatuto epistemológico deste debate num contexto maior, embora superficialmente. O que um Epistemólogo iria fazer melhor.  Rosental faz é iniciar o dialogo franco pelo prisma de uma história intelectual entre a Antropologia e a História.


* Levi Positivista e Racionalista

 

 

 

Teoria da História de Azevedo do Amaral ou  formulação filosófica acerca da mudança histórica.

 

 

Falamos aqui em Teoria da História não no sentido meta-reflexivo preconizado pela perspectiva de Droysen, ou da escola alemã contemporânea com Rüsen no intuito de refletir os fundamentos e pressupostos epistemológicos do conhecimento histórico, o que em outras palavras significa dizer a tentativa de responder a pergunta o que fazem os historiadores quando fazem história? Falamos aqui em outra perspectiva, falamos no sentido de teorias históricas.

Estas “teorias” são leituras do Brasil que buscam as origens de instituições, de processos políticos e sociais, de classes, de projetos políticos e que assim constroem uma narrativa de desvios ou ajustamentos históricos, de acordo com projetos políticos de construção do Estado-nação brasileiro que intelectuais se colocaram a pensar. Neste contexto específico não explicitavam uma pesquisa histórica no sentido stricto de prática acadêmica institucionalizada, mas que refletia, não obstante, através de insights uma dada perspectiva da História do Brasil com pretensões explicitamente político-ideológicas , embora algumas levassem a cabo um argumento cientificista. O resultado são os grandes clássicos de nossa literatura, historiografia e sociologia nacional presente em uma tradição de intelectuais que vai desde literatos e ensaístas até a pesquisa disciplinarizada das ciências sociais a partir dos anos 30 conhecidos no campo do Pensamento Social Brasileiro. È nesta abordagem que se insere a leitura de Azevedo Amaral em seu livro o Estado Autoritário e a Realidade Nacional de 1931, nossa edição é a de 1981. O livro tem como objetivo a leitura da formação do processo político brasileiro a partir de um estudo de conjuntura ideologicamente programado acerca do Estado Novo – por ideologicamente programado quero dizer que o autor tem um projeto político bastante claro.

O ponto de partida para se conceber a História segundo Azevedo Amaral é a história da nação. Qualitativamente estes processos são sempre um encadeamento de experiências. (AZEVEDO AMARAL, p.21, 1981) Daí se coloca que o processo histórico em perspectiva de desenvolvimento não é nada mais que “a correção sucessiva de erros, o reajustamento de situações desarmoniosas, uma série de mutações visando sempre maior adaptação das formas estruturais da sociedade e do seu organismo político às condições traçadas pela inexorável pressão da realidade.” (AZEVEDO AMARAL, p.21, 1981). Isto posto, é possível observar o sentido de recuperação de um destino de aprimoramento das instituições políticas já dado aprioristicamente, sem, contudo não deixar de assinalar o paradoxo contido nesta percepção do processo histórico na qual a realidade e os fatos comprovam o curso já dado de antemão dando luz a um positivismo que relega o “filosofismo especulativo” liberal e que ao mesmo tempo encara tudo que não se conforma no processo como anomalia, desvio e divergência de um estado natural de coisas já dado de antemão.

 

 

 

Materialidade ou dinâmica histórica do processo político brasileiro: Dados

 

Já discorrido anteriormente a tendência dos autores autoritários de fazerem a recuperação histórica como Oliveira Vianna, de um Império Brasileiro que conduzia a centralização da nação de forma eficaz e do malogro da República Velha com sua conjuração a favor do individualismo egoísta republicano de um projeto de governo federalista, Azevedo Amaral, tem uma leitura diferente deste processo diz o autor:

 

                                                                                                                                                  “Sob certos pontos de vista, pode-se dizer mesmo que a ordem política estabelecida em 1891 veio agravar males surgidos durante o período monárquico. […] A este respeito, contudo, convém observar que a nosso ver tem havido erro, exagero e injustiça em certas críticas frequentemente repetidas à obra dos constituintes de 1891. Assim, atribui-se sempre a eles a responsabilidade pela intensificação de tendências regionalistas, que chegaram a inspirar aos mais criteriosos e patrióticos observadores sérias apreensões acerca das possibilidades de desintegração da nacionalidade. Divergindo radicalmente dessa opnião, já tivemos ensejo de mostrar que ao período imperial e particularmente ao Ato Adicional de 1834 cabem as maiores responsabilidades pelo estímulo das forças centrífugas e disruptivas da nacionalidade[…]”. (Azevedo Amaral, 1934)

 

 

 

 

 

 

 

 

Características do Projeto Político

 

Nesta esteira é que um projeto político se faz necessário ao ressaltar a necessidade de adaptação das instituições ao curso histórico através de um processo de adaptação, diz Azevedo Amaral:

 

“O Processo de adaptação a que acabamos de nos referir é necessariamente longo e penoso. Para atingir um estado relativamente satisfatório de equilíbrio entre as instituições políticas e a organização social e econômica, de um lado, e as injunções imperiosas de condições que não podem ser modificadas, de outro, os povos que revelaram as mais notáveis qualidades para o sucesso histórico tiveram de percorrer lentamente sucessivas etapas de desenvolvimento, que foram outras tantas experiências na plasmagem progressiva de uma estrutura mais consentânea com as expressões do dinamismo da coletividade.”

 

Dentro desta necessidade de criação de instituições que harmonizem o processo histórico na consciência de um povo e na construção da nação aos fatos, Azevedo Amaral já destaca de antemão o perigo de se ancorar tal projeto político à Estruturas exóticas e estilos de arquitetura sociológica e política importados de outros meios. Configura-se assim uma aversão ao estrangeiro no tocante às idéias e projetos políticos que dá suporte a um projeto nacionalista.

 

O Principio geral norteador é o problema que a despeito dos projetos políticos para a marcha do desenvolvimento nacional através de processos de adaptação em nações de formação não colonial seja efetivado a partir da perspectiva de harmonização, no caso de sociedades que tiveram seu desenvolvimento histórico atrelado a uma condição de formação colonial, estas possuem agravantes para sua execução de tal projeto. Sem se ater ao estudo do fenômeno Azevedo Amaral propõe direto o estudo do caso brasileiro.

 

Anotações citado: Citação: José Maurício de Carvalho ( Filosofia UFSJ)

 

“ É Amaral quem construiu o conceito de corporativismo usado durante o Estado Novo.

 

Ele desejou, com o corporativismo, enfraquecer o liberalismo e competir com outra vertente autoritária, o comunismo.

 

“conceber a idéia de Estado econômico autoritário para solucionar o problema da decadência político–econômica na conjuntura brasileira de então” (idem, p. 59).

 

Azevedo Amaral entendeu que o corporativismo é uma etapa natural da evolução do capitalismo. Apesar do caráter autoritário, deve-se ressaltar que o pensador preserva a livre iniciativa, mantém uma relativa liberdade de expressão e reconhece a autonomia da sociedade frente ao Estado.”

 

Assim define-se uma leitura do autor centralizado na perspectiva de Jarbas Medeiros sob a ótico do Antiliberalismo com ponto principal

 

Citação: José Maurício de Carvalho ( Filosofia UFSJ)

 

“Eis as teses centrais do corporativismo: a) conscientização das massas mediante a reforma pedagógica; b) denúncia do fracasso do liberalismo econômico; c) apresentação do corporativismo como verdadeiro antídoto do bolchevismo; e d) concepção de um Estado corporativo que atendesse às peculiaridades brasileiras.”

 

 

 

Malinowski, Bronislaw [1916] 2004. “Baloma; the Spirits of the Dead in the Trobriand Islands”. In Magic, Science and Religion. Kessinger Publishing. pp.149-253.

 

 

“O trabalho de campo consiste única e exclusivamente na interpretação da realidade social caótica, subordiando-a às regras gerais. ”

Malinowski

 

 

 

Baloma; Os espíritos dos mortos nas Ilhas Trobriand

 

Tendo em vista a estrutura de apresentação do ensaio de Malinowski, desenvolveremos este resumo a partir da apresentação sumária do Capítulo VIII – Afirmações genéricas relativas à sociologia da crença – por entender que tal capítulo sintetiza a estrutura argumentativa dos principais pontos trabalhados no ensaio; fazendo com que os outros capítulos sejam a expressão etnologicamente contextualizada das principais características das crenças Trobiandesas, a partir da colocação dos Baloma como eixo investigativo principal. O ponto central é que, nas palavras de Malinowski, a lei geral e a documentação pormenorizada, dão à informação uma dimensão verdadeiramente completa.

Trata-se, antes de tudo, da opção metodológica do autor que, através da tensão dialética entre teoria e empiria, traz à luz, uma concepção de produção de conhecimento sobre outras culturas – “científica”, inaugurada a partir do desenvolvimento do contato direto com os “nativos” pela pesquisa de campo. Tal procedimento sobressai na própria estrutura do ensaio, visto que sua estrutura é dada totalmente ex post facto, no sentido dos dados serem o caminho privilegiado na construção das teorias.  Conclui-se daí que, o último capitulo, classifica e ordena as principais características de uma sociologia da crença, a partir do caso específico das Ilhas Trobiand. No entanto, este procedimento não é generalizante, dado que mesmo o ponto de partida do trabalho de investigação de Malinowski seja a partir do particular, ele termina na elaboração teórica dos dados, e não de leis gerais para sociologia da crença, e isto, no sentido interno de busca de uma coerência da crença Kiriwiana com a própria sociologia Kiriwiana e não com uma sociologia geral.

Portanto, nossa exposição talvez simplifique um aspecto inerente a própria lógica metodológica escolhida pelo autor. Porém em termos de fixação (o conteúdo didático de meu texto), tal estratégia torna-se profícua, pois a estruturação e organização teórica dos fatos etnográficos que aparecem ao longo dos capítulos precedentes ao capítulo VIII, pendiam para um volume que mentalmente, à título de iniciação de leitura, seria demasiado difícil a assimilação dado a riqueza de pormenores. Optamos pela apresentação do capítulo em que tais dados já foram processados teoricamente no sentido de servirem como ancora na facilitação da leitura rápida do mesmo, termo básico de um bom resumo, nosso maior objetivo aqui.

 

 

 

 

 

 

 

 

Capítulos

 

 

 

I.                   Comentários Gerais relativos à independência das práticas fúnebres e ao bem-estar do espírito; As duas formas de espírito ou fantasma, o baloma e o Kosi; as mulukuausi, seres terríveis que pairam nas proximidades de um cadáver.

 

II.                A viagem do espírito (Baloma) ao mundo inferior; chegada e acolhimento em Tuma, A Ilha dos Espíritos.

 

III.             Comunhão entre os baloma e os vivos; encontros no estado acordado; comunhão através de sonhos e visões; natureza dos baloma e dos Kosi.

 

IV.             Regresso dos espíritos às suas aldeias durante a festa anual (Milamala)

 

V.                Papel desempenhado pelos Espíritos na Magia: Referência a antepassados nas formulas mágicas

 

VI.             Crenças na reencarnação

 

VII.          Desconhecimento da fisiologia da reprodução

 

VIII.       Afirmações genéricas relativas à sociologia da crença.

 

  

 

VIII.                   Afirmações genéricas relativas à sociologia da crença

 

A primeira distinção colocada por Malinowski no Capítulo VIII, diz respeito a uma diferenciação dos dados concretos das leis gerais sociológicas, que devem ser perspectivadas e enquadradas no local de estudo. Está implícita neste enquadramento a transição do processamento dos dados do observador para o cânone científico. Ora, os dados passam de um emaranhado caótico e ininteligível para um conteúdo classificado e organizado por padrões previamente descritos. O procedimento utilizado por Malinowski é assim então descrito:

 

– separação dos fatos puros das interpretações.

Este critério se faz através dos parâmetros do que têm de variável e invariável, neste caso da crença: (fatores invariáveis da crença como: tradição e instituições e atitude emocional assim como os fatores variáveis da crença:  opiniões pessoais.)

 

Logo abaixo é descrito o que se entende por interpretação e o lugar da própria interpretação na construção do argumento científico. È de se ressaltar que interpretações, claro,  estão presentes tanto no pensamento nativo como no científico. Eu arrisco a deduzir que interpretar é classificar, sendo classificar o dispor dos fatos separando o relevante do que não é relevante de acordo com critérios estabelecidos, ordenando os fenômenos a partir do estabelecimento de relações mútuas entre eles. Tal definição como colocada por Malinowski. O aspecto da teoria como colocada por Malinowski diz respeito à metodologia, ao procurar por uma estrutura sociológica de um povo ou apresentar um relato organizado das suas crenças, transmitindo a imagem do mundo na perspectiva do nativo. Trata-se do que entendo por contextualização metodológica. O lado oposto é a teoria que: “… Como se fosse possível embrulhar numa trouxa um determinado número de fatos tal como encontrados e trazê-los para, no seu país, o estudante sobre eles generalizar e laborar em construções teóricas.” Pág. 256.

 

Procedimentos de inquirição: Em referência à crença, o princípio geral sugerido por Malinowski foi o de que qualquer crença ou tema do folclore não constitui um pedaço de informação isolado que se recolhe de uma fonte casual, de qualquer informante fortuito, e se estabelece como axioma a traçar com uma única curva de nível. Diz que existe sempre uma dimensão social para uma crença.

Com relação às crenças, elas não são definidas pelo que um informante diz somente, mas sim que elas estão, também, e são personificadas em instituições sociais, bem como no comportamento dos indivíduos e ambos os aspectos devem ser considerados na análise. Isto no texto está circunscrito nas idéias de multiplicidade e unicidade das crenças.

Passemos então ao estabelecimento das regras que nos permitem reduzir a dados mais simples a multiplicidade de manifestações de uma crença segundo Malinowski. Primeiro se há o enfoque da multiplicidade de opiniões, não é forjar uma espécie de opinião consensualizada? “O grau de arbitrariedade pareceria demasiado grande”.  

Sobre a distinção entre informação particular e as cerimônias públicas no que diz respeito às idéias sociais, a crença genérica de que o regresso dos baloma está personificado na realização do próprio milamala; a exposição de objetos de valor (ioiova), a construção de plataformas especiais (tokaikaya), a exposição de alimentos nos lalogua. O presente de alimento (silakutuva e bubualu’a) revela uma participação muito mais íntima dos baloma na vida da aldeia bem como os sonhos e crenças em topileta.

 

Para além das crenças expressas nas cerimônias tradicionais, surgem também as personificadas nas formulas mágicas. Estas formas são fixadas pela tradição do mesmo modo que os costumes e tidas metodologicamente como mais importantes, pois são documentos mais específicos do que os costumes, visto não permitirem quaisquer variações. O exemplo do rito da horta – e o mago da horta. Os mitos também são retratados nas fórmulas e, segundo Malinowski, tais ritos devem ser postos em paralelo com as fórmulas mágicas como expressões tradicionais e fixas da crença.

 

Como definição empírica de mitos, mais uma vez ressaltados para os elementos recolhidos em Kiriwina, Malinowski coloca: 

 

a)                          – é uma tradição que explica fatores sociológicos essenciais (e.g mitos das divisões dos clãs e sub-clãs), relativos a pessoas que realizaram feitos notáveis e em cuja existência implicitamente se acredita.

b)                         – a realidade das personagens e das ocorrências míticas mantém-se viva em contraste com a irrealidade das fábulas vulgares, muitas das quais são contadas.

 

 

Assim o autor resume sobre a globalidade destas considerações, afirmando que todas as crenças que têm subjacentes costumes e tradição nativos devem ser tratadas invariavelmente. Todos acreditam nelas e agem em conformidade com elas e, como as ações consuetudinárias não permitem quaisquer variedades individuais, esta categoria de crença é estandardizada pelas suas personificações sociais. Podem designar-se por dogmas das crenças nativa, ou idéias sociais de uma comunidade, por oposição às idéias individuais. Pág. 262

Acrescentamos à nota a propósito do termo de idéias coletivas de Durkheim. (alma coletiva)

 Assim, Malinowski define a idéia social por: “É um principio da crença personificado em instituições ou textos tradicionais e formulado pela opinião unânime de todos os informadores competentes. Mesmo a despeito da utilidade prática desta.”

 

Todavia, colocado os fatores invariáveis da crença a partir da noção de idéias sociais, exemplificadas concretamente na presença dos baloma no milamala, na construção dos tokaikaya, Malinowski dirige-se a outro aspecto igualmente importante para a apreciação metodológica do fenômeno da crença, referindo-se ao comportamento geral dos nativos, ou os aspectos variáveis, como atitude emocional e opiniões pessoais.

Quanto à abordagem, segundo Malinowski, descrever as idéias dos nativos referentes a um fantasma ou espírito é manifestamente insuficiente. Deveriam procurar-se os fatos objetivos que correspondem a essas reações emocionais. Ou seja, no lugar de descrevê-las – as reações – situar os fatos concretos que as desencadeiam. Abordagem por Malinowski se dá no ensaio acerca de tal perspectiva ao falar da cerimônia das kamkokola ou ao instigar os nativos em troca de tabaco, a se afastarem da aldeia no escuro.

 

E por fim, a última categoria a ser analisada segundo Malinowski são as opiniões e as interpretações dos fatos dentro dos aspectos variáveis das crenças. A saída metodológica para o caos das interpretações é encontrada por Malinowski em nível da estrutura social. Segundo o autor, existe uma classe de homens cuja posição social os faz aceder a um conhecimento especial das crenças em questão. Numa dada comunidade são genérica e oficialmente considerados os detentores da versão ortodoxa, e sua opinião é tida como a correta. Além disso, a sua opinião, em certa medida, baseia-se numa perspectiva tradicional que receberam de seus antepassados.  Pág. 266

 

O exemplo etnográfico que diz respeito a esta parte está ligado, por exemplo, a observação do Towosi (mago da horta). No entanto, esta interpretação mais importante não agrega todas as opiniões, por vezes nem sequer pode ser considerada típica.  Assim, por exemplo, em feitiçaria (magia má, homicida), é de primordial importância fazer a distinção entre as opiniões dos especialistas e as do estranho, porque ambas representam aspectos igualmente importantes e naturalmente diferentes do mesmo problema. Ressaltando que não há especialista em Baloma ou Kosi.

 

Quadro Resumo das considerações teóricas sobre a sociologia da crença no que se refere pelo menos aos Kiriwianos:

 

1.                          Idéias sociais ou dogmas – crenças personificadas em instituições, em costumes, em fórmulas, ritos e mitos mágico-religiosos. Essencialmente associadas a e caracterizadas por elementos emocionais, expressos no comportamento.

2.                          (Teologia ou interpretação de dogmas: a)- explicações ortodoxas, consistindo em opiniões de especialistas. (b)- opiniões gerais, populares, formuladas pela maioria dos membros da comunidade. C)- especulações individuais.

 

 

 

 

Os exemplos:

Idéias sociais – o costume do milamala e a criação dos tokaikaya onde os baloma se encontram com os vivos, as fórmulas mágicas para a construção das hortas feitas pelos towosi; os elementos emocionais expressos no comportamento em relação aos baloma, aos kosi e a mulukuausi; Teologia e interpretação de dogmas as explicações de um mago sobre a sua magia. Acerca da visão popular, a crença no espiritismo, ou a crença na particular concepção em Kiriwina pelo mar. E por último, no lugar dos comportamentos em relação aos baloma como no primeiro exemplo, as especulações sobre a sua natureza, como exemplos das opiniões particulares.

 

  

 

 

I.                                     Comentários Gerais relativos à independência das práticas fúnebres e ao bem-estar do espírito; As duas formas de espírito ou fantasma, o baloma e o Kosi; as mulukuausi, seres terríveis que pairam nas proximidades de um cadáver.

Malinowski começa seu capitulo I ressaltando dois aspectos relativos à morte entre os nativos de Kiriwina: O primeiro é que a morte afeta o indivíduo que faleceu – a sua alma (baloma) abandona o corpo e vai para o outro mundo; e o segundo, é que seu falecimento é também uma questão preocupante para a sociedade que dele ficou privada. O principal aspecto das cerimônias que acompanham o luto é o de elas não terem nada haver com o espírito. “Não são executadas para enviar uma mensagem de amor e pesar ao baloma (espírito), nem para impedir o seu regresso; não influenciam o seu bem-estar, assim como não afetam o seu relacionamento com os vivos.” Pág. 157

O que o autor tenta sempre deixar claro é a relativa autonomia das duas esferas, ou seja, debater crenças nativas na outra vida e o complexo ceremonial fúnebre e de luto pelos quais a morte está associada não estão diretamente ligados. Para o ultimo, torna-se necessário um profundo conhecimento do sistema social nativo.

Juntamente a descrição do que acontece depois da morte para os nativos, Malinowski faz a introdução do termo kosi, e  mulukuausi que estão diretamente ligados um e outro a esta distinção feita anteriormente. No que diz respeito à crença no que acontece com o espírito depois da morte (baloma), Malinowski chama à atenção para o fato de que duas crenças dividem a existência do baloma depois da morte. A primeira é a de que ele vai direto para Tuma, uma ilha localizada a noroeste de Kiriwina, onde vivem também homens vivos. E a segunda é que o baloma assume sua forma temporária – a de kosi (kos), em torno dos lugares habituais do morto, como sua horta, a aldeia, a praia ou o poço. Adiante fica bem claro aspectos ressaltados nos comentários do capitulo VIII, acerca da indefinição ortodoxa sobre a crença nos baloma e kosi, por vezes, oscilando em diversas interpretações que não influem na veracidade do credo dos nativos. Caracterizando os kosi, Malinowski afirma que: “As pessoas manifestam medo de encontrar o kosi. O kosi parece evidenciar sempre o comportamento frívolo do duende, embora inofensivo, pregando pequenas partidas, tornando-se incomodo e assustando as pessoas, como um homem assustaria o outro na escuridão, por mera brincadeira.” Pág. 159. Não guardando nenhuma semelhança com a crença dos fantasmas como para nós ocidentais e seus métodos arrepiantes de assustar pessoas.

Aí sim é possível distinguir o incremento suscitado pela morte de alguém na aldeia através do medo. “Este medo não vem dos kosi ou baloma, mas por seres sobrenaturais muito menores, por exemplo, as feiticeiras invisíveis chamadas mulukuausi. São mulheres de carne e osso, conhecidas e com quem se pode falar no dia-a-dia, mas que se supõe possuírem o poder de se tornarem invisíveis, ou de enviarem emissários a partir dos seus corpos, ou de percorrerem longas distancias deslocando-se no ar. Muitas magias são citadas no combate das mulukuasi, tais como kaiga’u uma magia destinada a confundir tais seres, quando de tempestades elas procuram suas vítimas em canoas. Sua relação com os mortos é que elas são as responsáveis pela devoração dos cadáveres oferencendo graves riscos a quem cruza seu caminho. O exemplo notável é quando do anoitecer o redor das sepulturas ficarem totalmente desertos. São definidos no primeiro capítulo, as relações do espírito com a morte, bem como com os vivos e as cerimônias fúnebres separados do verdadeiro terror kiriwiano contido por magia e incitado por magia (neste caso, magia negra, feitiçaria) das mulukuausi.

II.                                  A viagem do espírito (Baloma) ao mundo inferior; chegada e acolhimento em Tuma, A Ilha dos Espíritos.

 

 (provisional post)  Cap I e II

 

Os espíritos, a morte , para onde vão os espíritos, porque ter medo dos mortos e não dos espíritos, a bruxaria, o agente, o condutor mulukuausi. A narração dos fatos e a descrição objetiva. Etnografia. A questão de falar de crenças nos critérios evolucionistas.

,

 

Baloma or balom  A morte e os dois caminhos

baloma (spirit),

kosi. (kos). A inofensividade dos kosi

The other belief affirms that the spirit leads a short and precarious existence after death near the village, and about the usual haunts of the dead man, such as his garden, or the seabeach, or the waterhole. In this form, the spirit is called kosi (sometimes pronounced kos). ghost

 mulukuausi. O grande perigo assombrações femininas de mulheres , bruxas. acredita-se em bruxas voadoras que podem ficar invisíveis e se transformar em bichos, como pássaros e morcegos, as “mulukwausi”, que

 

Combates feitiço

kaiga’u, a powerful magic

lopoulo,

Tuma

waga (canoe) of the large type, called masawa, spells must be uttered to reduce the danger from these terrible women.

milamala, la fiesta anual

Argo… e argonautas

Toliwaga (dono da canoa, masawa)

Baloma; the Spirits of the Dead in the Trobriand Islands
by Bronislaw Malinowski
Originally published in The Journal of the Royal Anthropological Institute of Great Britain and Ireland, Volume 46.
[1916]

 

Capítulo I

Dois processos.

A morte afeta o individuo morte

Baloma or balom, Seu espírito vai embora do corpo e vai para outro mundo. Lá tendo uma existência obscura. A morte é uma fenômeno que diz respeito a toda comunidade.  Seus membros choram, lamentam sua morte em uma interminável série de festas. Nessas cerimônias são distribuídas comidas cruas.

O centro deles é o redor do corpo do morto.Um ponto essencial é que estas atividades sociais não tem conexão com o espírito.Eles podem mandar mensagens de amor e pesar, mas não podem influir nos retorno, no bem estar dos invidividuos e nem influir nana vida dos sobreviventes.

A complexidade  de algumas ceriomonias para sem entendidas é necessário,  antes de tudo, segundo malinowsik entender o funcionamento da vida social da comunidade.

 

As crenças do fim do Baloma

Uma notável coisa acontece quando o espírito vai embora do corpo. Uma divisão. No caso são duas crenças. Que mesmo sendo imcompatíveis ainda coexistem lado a lado.

Baloma ( a principal forma do espírito do homem morto). A primeira é que o Baloma vai para a Tuma uma pequena ilha imaginária à uns 10 quilometros à noroeste das ilhas Trobiand, onde há outra ilha que é frequentemente visitada por eles.

A outra forma é uma precária e curta passagem do baloma perto de sua aldeia. Neste tempo ele é chamado de kosi. (kos).

Não configura problema para os nativos a conciliação de kosi com Baloma.

Os informantes mais inteligentes podem justificar as inconsistências, mas tais tentativas “teológicas” não concordam um com o outro, e aí não parecem ser qualquer versão predominantemente ortodoxa. 4 As duas crenças, no entanto, existem junto em força dogmática; são sabidos ser verdades, e eles influenciam as ações de homens e regula seu comportamento; assim as pessoas são genuinamente, embora não muito profundamente, assustado do kosi, e algumas ações observadas em luto, e a disposição do morto, implica crença na viagem do espírito a Tuma, com algum de seus detalhes.

Rito e mito .

Implicações sociais.

O homem morto que corpo é adorned com todos seus ornamentos valiosos, e todos os artigos de riqueza nativa que ele possuiu são colocados ao lado de ele. Isto é feito em ordem que é pode carregar a “essência” ou “parte de espírito” das suas riquezas ao outro

Estes processos implicam a crença em Topileta, o Charon nativo, que recebe seu “passagem” do espírito (vê embaixo).

The kosi, the ghost of the dead man, may be met on a road near the village, or be seen in his garden, or beard knocking at the houses of his friends and relatives, for a few days after death.

O kosi, o fantasma do homem morto, pode ser encontrado numa estrada perto da aldeia, ou é visto no seu jardim, ou barba batendo nas casas dos seus amigos e parentes, para alguns dias depois de morte. As pessoas estão distintamente amedrontadas de encontrar o kosi, e são sempre no posto de observação para ele, mas para eles não estão em terror realmente fundo dele. O kosi parece sempre estar na disposição de um frívolo, mas inofensivo, hobgoblin, jogando fraudes pequenas, fazendo se um aborrecimento, e pessoas assustadoras, como um homem talvez assuste outro na escuridão para uma piada prática. Pode jogar pedras pequenas ou gravilha em qualquer um passando seu assombra de uma noite; ou chama seu nome; ou gargalhada pode ser ouvida sai da noite. Mas ele nunca fará qualquer dano real. Ninguém jamais foi machucado, ainda menos matou, por um kosi. Nem faz o kosi jamais emprega qualquer desses métodos horripilantes horrível de pessoas assustadoras, tão bem sabido do próprias histórias fantásticas.

 

A reação natural para com o kosi por parte dos nativos. E a primeira vez de malinowski .A descrição narrativa da presença do fato narrado. Contos folclóricos, pequenas travessuras e diferença com as histórias de fantasmas na Europa.

Conta o caso e depois fala que se lembra, minha primeira…etc..etc…

 

 

 

A ausência do Medo entre os Kiriwisians. This fear is not, however, aroused by the kosi but by much less “supernatural’ beings, i.e., by invisible sorceresses called mulukuausi.

São especialmente perigosos em mar, e sempre que há uma tempestade, e uma canoa é ameaçada, o mulukuausi aí procuram fora presa.

O mal para os Kiriwins.

Ninguém, aí temeu, sonharia com ir em viagem mais distante tal como sul ao grupo de D’Entrecasteaux, nem leste ao Marshall Bennets, nem mais ainda, a Woodlark Ilha, sem saber o kaiga’u, uma magia poderosa, projetou repelir e aturdir o mulukuausi. Mesmo quando construir um waga de mar-indo (canoa) do tipo grande, chamado masawa, feitiços devem ser proferidos reduzir o perigo destas mulheres terríveis.

They are also dangerous on land, where they attack people and eat away tongues, eyes, and lungs (lopoulo, translated ‘lungs,’ also denotes the “insides’ in general). But all these data really belong to the chapter about sorcery and evil magic, and have only been mentioned here, where the mulukuausi interest us, as especially connected with the dead. For they are possessed of truly ghoulish instincts. Whenever a man dies, they simply swarm and feed on his insides. They eat away his lopoulo, his tongue, his eyes, and, in fact, all his body, after which they become more than ever dangerous to the living. They assemble all round the house where the dead man lived and try to enter it. In the old days, when the corpse was exposed in the middle of the village in a half-covered grave, the mulukuausi used to congregate on the trees in and around the village. 7 When the body is carried into the grave to be buried, magic is used to ward off the mulukuausi.

 

Bruxaria e magia do mal

Feitiço

where the mulukuausi interest us, as especially connected with the dead.

 

 

São também perigosos em terra, onde eles atacam as pessoas e corrói línguas, olhos, e pulmões (lopoulo, traduziu ‘pulmões,’ também denota o “interiores em general). Mas todos estes dados realmente pertencem ao capítulo sobre bruxaria e magia de mal, e só foi mencionado aqui, onde o interesse de mulukuausi nos, como especialmente ligamos com o morto. Para eles são possuídos de instintos verdadeiramente macabros. Sempre que um homem morre, eles simplesmente formigam e alimentam nos seus interiores. Corroem seu lopoulo, a sua língua, os seus olhos, e, aliás, o todo seu corpo, depois que que eles tornam-se mais que nunca perigoso à vida. Montam toda ronda a casa onde o homem morto viveu e tenta de entrá-lo. Nos dias velhos, quando o cadáver foi exposto no meio da aldeia numa sepultura metade-coberto, o mulukuausi congregava nas árvores em e ao redor da aldeia. 7 Quando o corpo é carregado na sepultura ser enterrada, magia é usada para repelir o mulukuausi.

O mulukuausi intimamente são ligados com o aroma de carniça, e eu ouvi muitos nativos afirmar que em mar, quando em perigo, eles estavam distintamente cientes do aroma de burapuase (carniça), que era um sinal que as mulheres de mal estavam aí.

Novamente, descrevo e vejo. Primeiro o exemplo do kosi, depois o do mulukuausi

 

Kirivina

que deve ser anotado que a sepultura estava em dias de olden direito situado no meio da aldeia, e que uma vigília próxima foi mantida sobre ele, ter, entre outros motivos, isso de proteger o cadáver destas assombrações femininas. Agora que a sepultura está fora da aldeia a vigília teve que ser abandonada, e o mulukuausi pode vitimar no cadáver como eles como. Parece haver uma associação entre o mulukuausi e as árvores altas em que eles gostam de empoleirar-se, de modo que o local presente de enterro, colocado como seja correto entre as árvores altas do bosque (weika) cada aldeia adjacente, é especialmente odioso aos nativos.

 

Colocar as duas experiências e depois a crença descrita.

 

Depois que ocaso, todos os enlutados aposentaram na aldeia, e quando tentaram de gesticular me longe, eu insisti em permanecer atrás, pensando que isso é possível que seria alguma cerimônia que eles quiseram executar em minha ausência. Depois que tinha mantido minha vigília para alguns dez minutos, alguns homens retornaram com meu intérprete, que previamente tinha ido à aldeia. Explicou a questão a mim, e era muito sério sobre o perigo do mulukuausi, embora, homens instruídos brancos e suas maneiras, ele não tanto foi preocupado para mim. 8

Even in and around the village where a death has occurred there is the greatest fear of the mulukuausi, and at night the natives refuse to go about the village or to enter the surrounding grove and gardens. I have often questioned natives as to the real danger of walking about alone at night soon after a man had died, and there was never the slightest doubt that the only beings to be dreaded were the mulukuausi.

 

Capitulo II

 

The Baloma

a)- o que é baloma

a)- porque são centrais.

Porque são centrais:. I call this the main form because the baloma leads a positive, well-defined existence in Tuma; because be returns from time to time to his village; because he has been visited and seen in Tuma by men awake and men asleep, and by those who were almost dead, yet returned to life again; because he plays a notable part in native magic, and even receives offerings and a kind of propitiation; finally, because he asserts his reality in the most radical manner by returning to the place of life, by reincarnation, and thus leads a continuous existence.

a) – Trajeto do Baloma

baloma from a coastal village would embark and cross over to the island. A spirit from one of the inland villages would go to one of the coastal villages whence it is customary to embark for Tuma.Thus from Omarakana, a village situated almost in the center of the northern part of Boiowa (the main island of the Trobriand group) the spirit would go to Kaibuola, a village on the north coast, from whence it is easy to sail to Tuma, especially during the southeast season, when the southeast trade wind would be dead fair, and carry the canoe over in a few hours. At Olivilevi, a large village on the east coast, which I visited during the milamala (the annual feast of the spirits), the baloma were supposed to be encamped on the beach, where they had arrived in their canoes, the latter being of a “spiritual’ and “immaterial” quality, though perhaps such expressions imply more than the natives conceive. One thing is certain, that no ordinary man under ordinary circumstances would see such a canoe or anything belonging to a baloma.

Mapa

c)- o que acontece lá… separação dos entes, nenhuma influencia

a pedra Modawosi, a chegada dos amigos e parentes the great mortuary vigil (iawali) canção monótona ida ao Gilala quando lava-se os olhos se tornam invisíveis.

Daqui o espírito procede a Dukupuala, um lugar no raiboag onde há duas pedras chamadas Dikumaio’i. O balom bate essas duas pedras à sua vez. O primeiro responde com um som barulhento (kakupuana), mas quando o segundo é batido a terra treme (ioiu). Os baloma ouvem este som, e todos eles congrega-se ao redor do recém-chegado e dá as boas-vindas a ele a Tuma.

A dádiva a Topileta para entrar em Tuma. E a mostra do caminho correto

 

Somewhere during this ingress the spirit has to face Topileta, the headman of the villages of the dead.

The natives strictly distinguish between the vaigu’a (valuable possessions) and gugu’a (the other less valuable ornaments and objects of use). The main objects classified as vaigu’a will be enumerated in this article later on.

“In practice the corpse is most carefully stripped of all valuables just before burial, and I saw even small shell earrings being extracted from the ear lobes, articles which the natives would not hesitate to sell for half a stick of tobacco (three farthings). On one occasion, when a small boy had been buried in my presence, and a very small and poor belt of kaloma (shell discs) was left on the body by mistake, there was great consternation and a serious discussion whether the body ought to be unearthed.”

They also put on his body all his other vaigu’a (valuables), 12 in the first place his ceremonial axe blades (beku). The spirit is supposed to carry these away with him to Tuma–in their “spiritual” aspect, of course.

“As the man’s baloma goes away and his body remains, so the baloma of the jewels and axe blades go away to Tuma, though the objects remain.”

The spirit carries these valuables in a small basket and makes an appropriate present to Topileta

 

As mortes:

This payment is said to be made for showing the proper way to Tuma. Topileta asks the newcomer the cause of his death. There are three classes–death as the result of evil magic, death by poison, and death in warfare. There are also three roads leading to Tuma, and Topileta indicates the proper road according to the form of death suffered. There is no special virtue attached to any of these roads, though my informants were unanimous in saying that death

p. 157

in war was a “good death,” that by poison not so good, while death by sorcery is the worst. These qualifications meant that a man would prefer to die one death rather than another; and though they did not imply any moral attribute attached to any of these forms, a certain glamor attached to death in war, and the dread of sorcery and sickness seem certainly to cause those preferences.

Caminho da Guerra: afogamento, suicídio 1 e 2, boas mortes

Morte tem Guerra encarada como suicídios e suicídios sendo comuns

“With death in warfare is classed one form of suicide, that in which a man climbs a tree and throws himself down (native name, lo’u). This is one of the two forms of suicide extant in Kiriwina, and it is practiced by both men and women. Suicide seems to be very common. 14 It is performed as an act of justice, not upon oneself, but upon some person of near kindred who has caused offense. As such it is one of the most important legal institutions among these natives. The underlying psychology is, however, not so simple, and this remarkable group of facts cannot be discussed here in detail.”

 

 

 

 

Suicídio Formas e motivos

As notas de campo de malinowski explicando o suicido enquanto instituição e o presenciamento de uma.” During my stay one young man committed suicide in the lo’u manner in a neighboring village. Though I saw the corpse a few hours after death, and was present at the wailing and burial and all the mortuary ceremonies, it was only after a few months that I learned he had committed suicide, and I never could learn his motive. The Rev. E. S. Johns, the head of the Methodist Mission in the Trobriands, informs me that be used at times to register as many as two suicides a week (through poison) in Kavataria, a group of large villages situated in the immediate neighborhood of the Mission station. Mr. Johns tells me that suicides occur in epidemics, and that they have been fostered by the discovery by the natives of the white man’s power to counteract the poison. The aim of the suicide is to punish the survivors, or some of them.”

The aim of the suicide is to punish the survivors, or some of them.”

Besides the lo’u, suicide is also accomplished by taking poison, for which purpose the fish poison (tuva) is used. 15 Such people, together with those murdered by the gall bladder of the poisonous fish, soka, go the second road, that of poison.

People who have died by drowning go the same road as those killed in war, and drowning was said to be also a “good death.”

Mortes por evil sorcery ( feitiçaria) e caso da morte natural

Finally comes the group of all those who have been killed by evil sorcery. The natives admit that there may be illness from natural causes, and they distinguish it from bewitchment by evil magic. But, according to the prevalent view, only the latter can be fatal. Thus the third road to Tuma includes all the cases of “natural death,” in our sense of the word, of death not due to an obvious accident. To the native minds such deaths are, as a rule, due to sorcery. 16 The female spirits go the same three ways as the male. They are shown the way by Topileta’s wife, called Bomiamuia. So much about the various classes of death.

O perigo de virar vaiaba a mythical fish possessing the head and tail of a shark and the body of a stingaree

Professor Seligman writes como interlocutor

There are three villages in the nether world–Tuma proper, Wabuaima, and Walisiga

A organização social do outro mundo

Topileta is the tolivalu (master of village) of all three, but whether this is a mere title or whether he has anything to say in important matters was not known to any of my informants. It was also unknown whether the three villages had any connection with the three roads leading to the nether world.

Depois de passado por Topileta

The spirit women on Tuma are not less expert, and no more scrupulous, in using love charms than the living women in Kiriwina. The stranger’s grief is very soon overcome, and he accepts the offering called nabuoda’u–a basket filled with bu’a (betel nut), mo’i (betel pepper), and scented herbs. This is offered to him with the words “Kam paku,” and if accepted, the two belong to each other

Casamento em Tuma como forma de aceitar a morte

p. 160

My informants (who were all men)

The spirit, in any case, settles down to a happy existence in Tuma, where he spends another lifetime, 21 until he dies again. But this new death is again not complete annihilation, as we shall see hereafter.

 

Trobiands Islands

As ilhas Trobiand aí logo acima, na Papua Nova Guiné (Costa Oriental da Nova Guiné).

 

 

                                             Lila Abu-Lughod

Nossa! Depois de pronto, olhar e ver a resenha de 4 livros e ainda fazer uma proposta de uma nova Antropologia parece, em um primeiro momento, algo fácil quando vista prontinha aqui na internet. Muito pelo contrário, não teve nada de fácil como comentado na última aula. Entretanto, pelo menos como exercício valeu a pena. Faltam sempre os ajustes.

 Esteban Krotz                                                   David Graeber

Algumas partes já estão na Resenha de Lila Abu-Lughod e aqui aparecem já em um outro texto. Tudo sem revisão, por que estes últimos escritos (umas 40 pág de Word) são de um período de tempo de menos de uma semana. São muitas leituras, por conseguinte, as escritas se tornam um verdadeiro parto. No entanto, desejo-me boa sorte no ritmo que tenho levado. Revisões ortográficas e gramaticais no meio de tantas idéias serão feitas algum dia quando da reeleitura dos textos que não aguento nem olhar mais!

                                                Walter Mignolo

 

 

UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ANTROPOLOGIA SOCIAL

 

 

RESENHA CRÍTICA E PROPOSITIVA: Outras antropologias são possíveis.

 

                  “A tempestade na/da Antropológi(c)a, Processing…”

Atividade como requisito para o cumprimento de créditos na Disciplina Epistemologia da Antropologia (Teoria Antropológica a partir de 1980) no Programa de Pós – Graduação em Antropologia Social do Dan/UnB ministrada pelo Profº  Drº Paul E. Little.
 

 

 

João Paulo Aprígio Moreira

 

 

 

A TEMPESTADE NA/DA ANTROPOLÓGI(C)A, “PROCESSING”…

                                                                                 “A antropologia ainda não morre”                    

Manuela Carneiro da Cunha

A antropologia tem conseguido dar muitas explicações, mas todas elas retrospectivas. Nas últimas décadas, passou muito tempo explicando até seu próprio passado. O futuro da disciplina, esse, ninguém sabe. Ela foi declarada em estado grave há umas duas décadas, mas até agora não vi atestado de óbito.” (Folha de São Paulo. São Paulo, domingo, 17 de dezembro de 2006 ).

 

A primeira resenha que aqui se segue, “Writting against culture” de Lila Abu-Lughod, com um nome já bastante sugestivo, indica com muita acuidade, uma perspectiva para o problema que vamos nos dedicar nos próximos quatro textos, qual seja: A “crise?” da Antropologia na pós – modernidade. Apresentaremos uma resenha de cada um dos autores focando, principalmente, no de Walter Mignolo e o de Lila Abu-Lughod. Tenciona-se problematizá-los a partir de uma determinada perspectiva que é diretamente correspondente à proposta por nós esboçada, resultado da formulação de uma crítica que fosse propositiva.

Todavia, acredito que, devido à extensão do trabalho, este não deve ser tratado sob o aspecto de uma resenha apenas, pois trata-se, antes de tudo, de fichamentos de textos que foram primeiramente traduzidos, preconizando desta forma, uma analítica densa. A seguir tem-se a tentativa de um dialogo intertextual que toma como eixo a crise epistemológica na(da) antropológi(c)a, especialmente a partir da Déc. de 80, que teve como conseqüência, não só nesta disciplina mas em outras também, a fragmentação. È possível perceber uma discussão sobre a prática etnográfica de maneira problematizada em perspectiva “conflituosa” no próprio discurso como, por exemplo, as críticas dos Cultural Studies ( Cult Studies como destaca Sahlins:2001 o termo tratado por Tom Frank), versando sobre a questão de identidade ou o que eu chamaria de supressão epistemológica, narrada no texto de Mignolo na forma de oposição entre paradigma decolonial e o paradigma do noveloso. Como se vê, poderíamos falar de uma crise de representação, que vai desde um nível teórico a feitura do próprio texto como os problemas colocados por Abu-Lughod e seu debate da significância da teoria feminista para a teoria antropológica quando problematiza o tipo de disposição das forças na relação “eu” e “outro” automaticamente ajustada em nível epistemológico através do conceito de cultura na Antropologia de maneira hierarquizadora ao “marcar diferenças”, chegando ao final a sugerir estratégias textuais.

Por outro lado, a perspectiva disciplinar é retomada por Graeber ao propor uma Teoria Antropológica anarquista, ou seja, que passe a tratar de problemas relevantes ao movimento como a questão da autoridade. Simultaneamente isto é feito no caminho inverso pela formulação de respostas antropológicas/históricas que fundamentem o Anarquismo a partir da Teoria. Questões teóricas da antropologia como os modos de vida de outras sociedades, a construção do estado-nação, noções de poder, cosmologias, capitalismo, teorizações são colocadas como “respostas” aos problemas das relações sociais a partir de uma lógica anarquista. Fechando com a necessidade da utopia de Krotz em “La Otredad Cultural entre utopia y ciência” como acréscimo na prática antropológica, esvaziada desta na busca de uma objetividade científica (positivista, evolucionista) com a qual a antropologia em seus tempos de fragmentação estabeleceu uma relação crítica, para não dizer desconfiada. Com exceção de Graeber, todos os outros dividem uma crítica com frente anti-colonialista, cada um falando da “mundialização”* de um forma própria e da necessidade de posição política na prática antropológica. Deve-se considerar o caráter ensaísta de alguns dos textos, que nesses tempos se tornam densos e um tanto quanto confusos e que embora tratem de problemas semelhantes, a disparidade dos locais de “fala” levam os argumentos à uma variação de matizes quase que babilônicos (torre de babel), o que nos força a ponderar a dificuldade de um diagnóstico preciso que esperamos, até por nossa formação – História -, o tempo como mediador consiga “aclarar”, não totalmente, mas pelo menos ajudar no entendimento. Toda questão no calor do momento tende à se complexificar. Talvez, seja essa a grande dificuldade quando se fala de política etnográfica, e na política tudo é mais confuso quando não se crê em nada, daí a necessidade de “utopias” como chama a atenção Krotz ou; se crê em muitas coisas diferentes com necessidade de consenso. A antropologia encarnou todos esses problemas como nenhuma outra disciplina. Assim, conciliar o “eu” e o “outro”, talvez seja a questão mais relevante em tempos de “paz” e de “guerra”, como o que vivemos.

Por último, tento um exercício mais livre de proposição de uma nova antropologia como possibilidade, tratada a partir da vocação meta-reflexiva (Cardoso de Oliveira, 1988.) da disciplina no que diz respeito a uma etnografia do conhecimento. Em outras palavras, como o método etnográfico pode ser proveitoso para fornecer uma disposição específica para com a própria História da Antropologia sendo ela mesma iluminada criticamente pela prática etnográfica utilizada como auxilio na problemática da História da Ciência.

Com isto podemos tomar a fragmentação da própria disciplina Antropologia como um problema-caso. Essas questões  são divididas dentro de várias outras disciplinas, como no caso da Epistemologia das ciências humanas (no sentido interno), sociologia do conhecimento, história da ciência ( no sentido interno e externo), e tantas outras, que neste caso particular, se propõem a pensar as mudanças teóricas de uma disciplina específica, que no nosso caso é a Antropologia. Faremos uma breve apresentação dos autores por ordem de exposição.

O primeiro texto com que vamos trabalhar, e desde logo já chamo atenção para nossa proposta inicial esboçada anteriormente, é ” Writting Against Culture” publicado em “Recapturing Anthropology: Working in the Present, ed. Richard Fox. Santa Fe, NM: School of American Research” de Lila Abu-Lughod.

Lila Abu-Lughod é Professora na Columbia University. Seu trabalho publicado em 1986: “Veiled Sentiments: Honor and Poetry in a Bedouin Society. Berkeley: University of California Press.” conferiu-lhe o título de PhD. em Antropologia pela Harvard University, entrando também para a lista dos 21 melhores livros dos estudos conhecidos como “Middle East Studies”, cuja figura de peso é Edward Said com seu clássico Orientalism. Seu campo foi em uma comunidade Beduína no Egito, onde trabalhou com os temas emoção, poesia e gênero sob uma perspectiva de crítica ao conceito de cultura. Seus interesses maiores são políticas feministas no mundo Árabe e pós-colonialismo.

O segundo autor a ser tratado é Walter Mignolo é professor de Literatura na Duke University em Durham nos Estados Unidos e tem estudos focados na área de semiótica, de analise do discurso e teoria literária. Seus livros estão dentro de uma tradição de crítica ao que se pode entender como caminhos para um pós-ocidentalismo mediado pela contribuição de um paradigma da coexistência, fruto da experiência dos povos que foram colonizados, sobre a perspectiva do América Latina.

Já David Graeber é um “anarquista, antropólogo e professor associado da Universidade de Yale. Esta universidade, no entanto, se negou a recontratá-lo após o término de seu contrato em junho de 2007, assunto em torno do qual se apresentam controvérsias e cartas de apoio ao professor e de repúdio à decisão da diretoria da universidade. Autor de Fragments of an Anarchist Anthropology e Towards and Anthropological Theory of Value: The False Coin of our Own Dreams, Graeber realizou extensos trabalhos antropológicos em Madagascar, escrevendo sua tese de doutoramento (The Disastrous Ordeal of 1987: Memory and Violence in Rural Madagascar), a respeito da reprodução das divisões sociais entre descendentes de nobres e escravos.”

E por último Esteban Krotz, antropólogo da Universidade Autônoma de Yucatan, cujo os texto  “Crecimiento y fragmentación de la antropología” e “El perfil de una nueva pregunta antropológica” são reflexivos sobre as origens , o desenvolvimento e a reorientação da antropologia na sua relação com a diferença cultural.

Os dois primeiros tomaremos com mais por menor na necessidade de situar a problemático em que os demais também estão em diálogo o que nos interessa é mostrar as diversas propostas presentes nos textos e acrescentar alguns comentários que nos possibilite pensar uma outra antropologia possível. Primeiramente comentemos o texto de Abu-Lughod.

Problematizando o conceito de cultura em sua essencialidade e naturalidade como ocorrido com o conceito de raça anteriormente, Abu-Lughod chama à atenção para os dilemas impostos à prática etnográfica recentemente, mas a partir de uma reflexão interna na Teoria Antropológica. Em um primeiro momento, a autora argumenta sobre a relação de ingratidão da Antropologia com a escola feminista. Falando de Writting Culture de Clifford, a autora utiliza uma estratégia textual para a resolução de um problema que a priori é teórico. A saída para um problema conceitual (cultura) a partir de uma questão de representação refletida na escrita dos textos antropológicos. Conhecido sob o rotulo de crítica da autoridade etnográfica, a autora chama atenção para uma perspectiva específica: fazendo uma crítica do conceito de cultura, e as relações hierárquicas que estão implícitas no trato antropológico do mesmo, questionando o poder. O ponto de crítica é a convergência, e isso no texto aparece sob a forma de uma querela teórica em relação à contribuição do feminismo para antropologia. Fala-se das críticas feministas à representação, como ocorrida em seus grupos, e das críticas pós-colonialistas da relação ocidente e não-ocidente, como tratada pelos problemas dos Halfies. O que é bom salientar é o local donde saem suas críticas, como já mencionado anteriormente seu campo foi no Oriente Médio, palestina, a autora é formada nos Estados Unidos, e essa relação conflituosa é vivida cotidianamente por lá, um exemplo o fato extremo resultado com o Atentado de 7 de setembro às torres gêmeas. Não que coloquemos os fatores históricos como determinantes dos problemas teóricos, mas o que se pode perceber é que esta relação conflituosa (velada) do cotidiano norte-americano refletiu diretamente nos problemas teóricos da Antropologia por lá feita, o que não seria nenhuma novidade.

Entretanto, o grande marco defendido pela autora no texto é além de uma crítica ao conceito de cultura ou a autoridade etnográfica – e outras até então já tinha sido feitas – considerar a “virada histórica”, para os problemas de falta de historicidade nas mudanças culturais o que a autora trabalha sobre as noções de “coherence, timelessness, and discreteness” (Abu-Lughod, p. 147: 1991) -, dar ênfase na questão do poder, das relações assimétricas contidas na oposição do olhar antropológico presentes na dicotomia “Eu” e o “Outro”. Não obstante, a partir de noções foucaultianas, mais do que uma crítica a autoridade etnográfica, a autora avança refletindo sobre inovações na escrita etnográfica que tentam implodir esta noção de oposição assimétrica contida no conceito de “cultura”.  Desta maneira é que coloca as possibilidades oferecidas em trabalhar com as noções de prática e discurso, as conexões históricas da relação antropólogo e grupo estudado, não sob uma perspectiva existencial, mas sim das relações históricas entre os dois grupos relacionados no “experimental moment” ( Abu – Lughod apud Marcus and Fischer 1986) e, com uma maior ênfase, na etnografia do particular, que diz respeito à uma estratégia de pesquisa que visa escrever experiências individuais no tempo e no espaço a fim de captar as contradições internas presentes na perspectiva “micro”, que fazem confluência com o padrões que são tido como únicos na perspectiva “macro”.

Da contribuição do feminismo à Antropologia, mesmo a despeito da ingratidão para como a mesmo por parte da Antropologia, a autora passa para uma crítica do humanismo, mostrando que a própria reflexão da autoridade etnográfica pode se configurar como uma tática, sendo a própria “crise” um resultado e uma resposta para a Antropologia.

Com relação às respostas vindas por perspectiva teórica, substantiva, ou textual; a primeira referente aos conceitos de discurso e prática, a outra abordagem substantiva dizendo respeito às conexões históricas, e a última a textual, dessas três abordagens exploradas pela autora contra o conceito de cultura em sua reificação, a que sustenta toda sua argumentação, com um diálogo com a Teoria Antropológica no que diz respeito à contribuição histórica do feminismo, é a saída Textual.

A etnografia do particular como estratégia textual dispõe um modo de escrita e observação etnográfica que, ao mesmo tempo em que combate o conceito de cultura, tem a vantagem de posicionar politicamente o pesquisador redimindo-o das criticas postuladas para o relativismo de um lado, ou para a neutralidade positivista do outro, transformando um problema de agenda política em um problema teórico, que por conseguinte, cria uma disposição metodológica para a pesquisa antropológica.

Teoria etnográfica enriquecida por técnicas de observação novas, e estratégias de escritas novas respondendo ao problema da autoridade etnográfica colocado por Clifford. Ainda assim, essas mudanças são frutos além de respostas à problemas teóricos da disciplina como bem tratado argumentivamente pela autora e sim, também, resultados de uma conjuntura histórica específica que não foi recuperada, sendo este o ponto fraco do texto por nos deixar sem muitas explicações. Se observamos, todas as críticas ao conceito de cultura nas relações ocidente e oriente envolvem questões políticas que têm que ser contextualmente localizadas.

 E para não ficarmos somente na crítica histórica encerremos com uma citação de Marshall Sahlins à guisa de ilustração:

                                                                                             “Heráclito x Heródoto

 Um dos argumentos correntes contra a coerência das culturas e a possibilidade de se realizar qualquer tipo de etnografia sistemática é que, como um certo rio filosófico de renome, as culturas estão sempre mudando. O fluxo é de tal natureza que jamais se pode mergulhar duas vezes na mesma cultura. E, todavia, a não ser que alguma identidade e consistência sejam simbolicamente impostas às práticas sociais, como também aos rios, não apenas pelos antropólogos mas também pelas pessoas em geral, a inteligibilidade, ou mesmo a sanidade, para não falar na sociedade, seriam impossíveis. Pois, parafraseando John Barth, a realidade é um lugar para se visitar (filosoficamente), mas ninguém nunca morou lá.” (Sahlins, p.19:2003)

 

Mignolo com uma crítica também à epistemologia ocidental ao invés de tratar questões de método e até por seu universo ser o da crítica literário nos chama à atenção para uma versão latino-americana do problema no lugar de uma da questão oriente – ocidente como trata Abu-Lughod. Porém, é interessante observar que os dois falam do mesmo local, ambos de formação em Universidade Norte-americanas e de lá escrevem seus textos.

Os livros de Mignolo tratam de questões dos Estudos Pós-coloniais. Este tema é uma reatulização a partir da experiência da globalização, já que no pensamento social latino americano sempre esteve presente uma narrativa à contra apelo da ocidentalização. O que se tem de diferente, portanto,  é a retomada de um debate a partir de uma experiência histórica especifica. Os processos de independência dos países latino-americanos e a construção dos estados – nações na América ainda sobre forças imperialistas estão dentro de outro processo histórico que não o de onde surgiram os primeiros debates pós-coloniais de tintas africana e asiática. O caso Indiano, ou dos países africanos são muito mais recentes do que o ocorrido na América Latina que é datado a partir do Sec. XIX. Isto configura uma especificidade que deve ser levada em conta problematicamente para o caso Latino Americano neste debate.  Os projetos de descolonização e utopistas existem em toda a história da América, ou seja, estamos tratando de um projeto específico já adiantando os que reclamam da falta de uma agenda política.

O pós-colonialismo Disputa política nas academias norte-americanas a partir do rotulo de “cultural studies” divide o saber a partir de uma geografização do conhecimento tendo como critério classificatório regiões identificadas culturalmente, em detrimento a problemas de fronteiras disciplinares. È neste contexto que conceitos como “fronteira” e “território” passam a caracterizar a política, produzidos num contexto de constantes fluxos migratório e que comungam uma experiência globalizante, acompanhada explicitamente pelos movimentos migratórios de ex-colônias para os países do centro, só que agora em um sentido diferente do que em outras épocas. Este fluxo nos Estados-Unidos, por exemplo, se reflete diariamente nas ruas e não só, mas também nos departamentos das universidades onde aparecem intelectuais como este materializando teoricamente o conflito, mas creio não de uma perspectiva reflexiva, mas muito mais “vivida”, o que dá o teor de “política” e ao mesmo tempo de dificuldade nas ciências sociais. Algo bastante experimentado em sua prática de pesquisa que é dar versão aos fatos cotidianamente vividos.

A noção colocada em questão por Mignolo é a de um estado multicultural  em detrimento a um estado pluricultural que não consideraria apenas uma cosmologia válida. Situa-se aí a critica ao multiculturalismo, que engendra o projeto intelectual do qual Mignolo propõe. O caso da “Pluri-versidade” de Amawtay Wasi é expressivo neste ponto através de ataque às instituições universitárias que não tem os povos indígenas estudando assuntos que sejam de seu próprio interesse. O que não coloca em cheque à tradição ocidental e sim: “reproduzir esta prática significaria atuar segundo a lógica ocidental trocando apenas os conteúdos e não os termos em que se produz o conhecimento,”(Mignolo, 2007 ). Esta troca significa para Mignolo um reordenamento na produção do conhecimento o que ele especifica pela expressão uma mudança na “geografia da razão”.

Interculturalidade não faz par à multiculturalidade que segundo Mignolo significa que os princípios hegemônicos do conhecimento, a educação, as noções de Estado e governo, a economia política e a moralidade, entre outras questões são controladas pelo Estado, e que a partir deste controle, somente assim que as pessoas têm a “liberdade” de seguir adiante com sua “cultura” sempre que não põem em risco os “princípios epistêmicos” que sustentam a política, a economia, e a ética estatal (Mignolo, 2007 ). Não obstante, a interculturalidade segundo Mignolo dá conta de cosmologias diferentes: a ocidental e a indígena, por exemplo. E em sentido amplo como o mesmo Mignolo, interculturalidade se refere aos povos indígenas que reclama seus “direitos epistêmicos”, que não é o mesmo que “direitos culturais” (Mignolo, 2007 ). Fica claro pensando a partir destes conceitos a posição hierarquizada de certos grupos que tem concedidos à sua existência limitadamente seus direitos, e um problema ainda fica mais grave se pensarmos em países em que a maioria da população não responde as categorias ocidentais. 

Assim, é deste mesmo embate que surge as teorias de aculturação como amplamente solfejadas na política indigenista do Brasil até a Déc. de 70. Levantamos uma objeção acerca da participação destes indivíduos mesmo que de maneira mitigada na construção destes próprios Estados. Estes não são os termos colocados por Todorov, os casos do sincretismo religioso das religiões afro-brasileiras? Se nestes casos temos exemplos históricos de resistência “cultural”, não haveria aí uma tática de resistência política especifica e, portanto, começa daí a participação destes próprios na construção do estado-nação, entendendo-o como comunidade imaginada conforme nos mostrou Benedict Anderson?

Segundo Mignolo a noção de interculturalidade foi introduzida em princípios dos anos 90 por intelectuais e lideres indígena e estava ligada a projetos de educação bilíngüe na (CONAIE) – Confederação de nacionalidades Indígenas do Equador -. A noção de fronteira tomada como substituição do sentido ideológico implícito no termo território como colocado por Simon Bolívar e Thomas Jefferson é um conceito fundamental para Walter Mignolo. Principalmente, no que se refere a uma nova categoria para se pensar o lugar da “América” através de uma postura crítica em um mundo globalizado. Esta é uma das possibilidades aventadas por Mignolo em seu projeto intelectual de crítica epistemológica através de noções como a de interculturalidade. Trata-se de uma proposta fruto de práticas institucionais específicas como exemplificadas no texto: Associação Caribenha de Filosofia, (CONAIE), Amawtay Wasi (Universidade Intercultural das Nações e Povos Indígenas), o Levantamento Zapatista de Chiapas “Los Caracoles”, Fórum Social Mundial, Fórum Social da América, entre outros.

Mignolo também exemplifica os usos da expressão América Latina nas políticas de identidade, tanto usado por estado-unidenses, intelectuais, sul-americanos, caribenhos, europeus, e como o termo aparece em diferentes usos de acordo com o contexto político a que está submetido. A proposta do paradigma da coexistência substanciado a partir da noção de interculturalidade como contribuição da experiência sofrida na “ferida colonial” como crítica à hegemonia ocidental.

A proposta de Walter Mignolo tem por foco principal A ênfase na discussão decolonial a partir do pressuposto da unidade de um projeto imperial ou decolonial que não pressupõe “diferenças” subjetivas, mas que leve em consideração, estritamente a questão da relação opressão/exploração. Aí está uma diferença básica em seu eixo de reflexão com relação às “políticas de identidade”. Estas mesmas que em um primeiro momento na confluência da “bagunça pós-moderna”, aparece acusada de profundo alheamento político tendo em vista o ceticismo “pós – moderno”. Assim a proposta decolonial coloca-se como uma alternativa política, levando-nos a refletir sobre a questão anterior.

Alguns apontamentos são passíveis de uma reflexão mais acurada em termo críticos: Quando a proposta de Walter Mignolo começa a debater a partir de “políticas de identidades” tomando como centro o que o autor chama de “ferida colonial”, sob o encalço de uma geopolítica também corporal está a selecionar um pressuposto que fundamenta o agir e o pensamento dos grupos envolvidos neste processo. Vale ressaltar, então, se não está sendo colocado um “falso” problema, como a questão: ler ou não ler Kant e Heidegger em detrimento a um pensamento autêntico? E aqui se faz a pergunta: o que tomar como autentico? Tal disposição teórica nos leva a indagar sob até que ponto uma radicalização de postura – esta que se estende até uma crítica à tradição do Pensamento Social Latino Americano, que segundo o autor remete diretamente ao crioulismo, e que, efetivamente, não dá conta de todas as identidades reinvidicadas atualmente. A situação é mais complicada pela aparição de um maior espaço para grupos atuarem politicamente, tendo em vista os constantes encontros, as facilidades dos meio técnicos de comunicação, entre outros, que levam a aparição de um maior número de interesses em jogo.

Temos assim diferentes propostas políticas reivindicadas por diferentes grupos no tempo histórico. Atualmente, a de Mignolo é fruto de práticas institucionais localizadas, e a proposta que coloco aqui é o levantamento histórico como perspectiva crítica dos diversos grupos e interesses envolvidos nos debates colocados, não com o intuito de um apoliticismo gratuito ou interessado como alguns poderiam supor, mas sim na tentativa de compreensão mais profunda, que não toma a reflexão a partir do caráter de “manifesto” como colocada por Mignolo. A partir daí pode-se fazer com auxilio da História uma Antropologia mais compreensiva, já que estamos diante de reinvidicações locais em contextos globais, de diferentes matizes culturais. A proposta fica assim então mais reflexiva do que prática, porém não assumindo uma postura desmerecedora da prática, mas levando em consideração a teoria como fruto de reflexão juntamente com a prática que não necessariamente implica “militância”. A questão que  no texto de Krotz é tratada como utopia reflete muito bem este problema acerca da necessidade de utopia na prática cientifica, que no meu entender não é nada mais do que necessidade de prática militante acreditando em um fim, e por isso mesmo sempre revolucionária. 

Parodiando uma conhecida música brasileira “cavalo manco”, assim é a antropologia que tomou a prática militante como projeto dominante. No meu entender, a disciplina não deve se fazer apenas utopicamente na prática militante, pois por mais revolucionaria que seja esta maneira, tal postura acaba por nos levar a perder os detalhes da estrada, de onde falamos? Porém, não se deve polarizar a situação para o lado contrário também, pois, ao mesmo tempo, a antropologia não deve nunca olhar para trás de forma exagerada (história), sob peso de se tornar meio de políticas conservadoras.  E, para completar, não deve permanecer parada atenta somente aos detalhes.  À antropologia cumpre refletir e agir considerando sempre o movimento em que está submetida, e é neste momento que a etnografia do conhecimento com sua vocação meta-reflexiva e a história da disciplina se tornam excelentes instrumentos para uma auto-reflexão. Com Mariza Peirano: “Onde está a Antropologia?” Ela está nesse exato momento respondendo: “Que barulho é esse o dos pós-modernos?” – citando Wilson Trajano – na antropologia.

 

 BIBLIOGRAFIA

 

Abu-Lughod, L. (1991). “Writing against culture”. In: Recapturing anthropology: working in the present, . Santa Fe: Richard Fox.

Anderson, B. (2005). Comunidades Imaginadas – Reflexões Sobre a Origem e a Expansão do Nacionalismo . Lisboa: Edições 70.

Graeber, D. (2004). “Blowing up walls” e “Tenets of a non-existent science”. Fragments of an anarchist anthropology. Chicago: Prickly Paradigm Press.

Krotz, E. (1994). La Otredad Cultural Entre utopía y Ciencia: Um estudio sobre el origen, el desarollo y la reorientacion de la antropologia. México: Fondo de Cultura Econômica.

Mignolo, W. (2007). La Idea De América Latin: ” La herida colonial y la opcion decolonial”. Barcelona: Gedisa Editorial.

Oliveira, R. C. (1982). Sobre o Pensamento Antropológico. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro.

Peirano, M. (1997). “Onde está a antropologia?”. A teoria vivida e outros ensaios de antropologia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar .

Sahlins, M. (2003). Esperando Foucault, ainda. São Paulo: Cosac e Naify.

Todorov, T. (1982). A Conquista da América: A Questão do Outro. São Paulo: Martins Fontes.

 

 


 

  *Aqui chamo atenção para o termo “mundialização”  no sentido da crítica de Abu-Lughod, Krotz e Mignolo, guardado suas respectivas diferenças, como o processo de globalização tomado conceitualmente apenas como a expansão da cultura ocidental ( Europa, Estados Unidos). Isto através de uma política imperialista em detrimento de uma categoria que seja útil para pensar o processo histórico recente do estreitamento de relações das ex-colonias a partir de fluxos migratórios e pelo avanço técnico cientifico que resulta no estreitamento das fronteiras que tem como corolário uma hierarquização  “norte” e “sul”, “leste” e “oeste”, “centro” e “periferia”.

Alguns comentários sobre o texto do cientista político Jarbas Medeiros:  “Ideologia Autoritária no Brasil (1930 -1945)”. Trata-se de uma apreciação da obra de Oliveira Vianna. Segue-se também um breve esboço da leitura do clássico de Oliveira Vianna de [1918] publicada em 1920. “Populações meridionais do Brasil”

Uma breve biografia fornecida por Ricardo Vélez Rodríguez será o suficiente a título propedêutico.”O pensamento sociológico de Oliveira Vianna constituiu junto com as propostas estratégicas de Lindolfo Boeckel Collor (1890-1942), o referencial teórico que serviu a Getúlio Vargas para elaborar a sua proposta modernizadora do Estado e da sociedade brasileira, ao longo da década de 30 do século XX.  A sociologia de O. Vianna constituiu o marco conceitual que abriu as perspectivas ao jovem deputado Getúlio Vargas, para compreender o alcance nacional da problemática social, superando o vezo provinciano que o jovem castilhista tinha herdado da sua formação no Rio Grande do Sul. Lindolfo Boeckel Collor e Oliveira Vianna representaram, também, o aspecto liberalizante das reformas de Vargas, que encontraram, de outro lado, elementos definidamente autoritários que influíram de forma marcante nos rumos absolutistas do Estado Novo, proclamado em 1937.


“Francisco José de Oliveira Vianna nasceu em Saquarema, na antiga Província Fluminense, em 20 de julho de 1883, na Fazenda do Rio Seco, e faleceu em Niterói, no Estado do Rio de Janeiro, em 27 de março de 1951. Seu pai, fazendeiro, era a encarnação do paterfamílias. A propósito, frisa o biógrafo de Oliveira Vianna, Vasconcellos Torres: “A incontrastável autoridade do paterfamílias dava tons sublimes ao patriarcado. O núcleo larário tinha muito de templo. Um ambiente doméstico para melhor sobressair a solidariedade. A sociedade era a fazenda, a família e os agregados, cujos interesses fora do círculo parental eram ardorosa e fraternalmente defendidos pelo patrão” [Torres, 1956: 19]. Em que pese a sua natural inclinação pelo estudo da matemática, o jovem Oliveira Vianna viu frustrados os seus planos de ingressar na Escola Politécnica do Rio de Janeiro. Cursou, então, a Faculdade de Direito, tendo-se bacharelado em 1905. Integrou, a seguir, o corpo docente do Colégio Abílio, de Niterói, como professor de matemática. Já desde os últimos anos de estudos universitários colaborou ativamente no jornalismo: escrevia no Diário Fluminense, no jornal A Capital, e logo em outros em A Imprensa, O Paiz e a Revista do Brasil, de São Paulo. Praticamente não exerceu a profissão de advogado, tendo preferido se dedicar ao estudo dos problemas nacionais. “

Os temas a serem tratados seguirão a ordem de exposição do texto de Jarbas Medeiros que é a seguinte:

A) – A OBRA DE OLIVEIRA VIANNA COMO UMA VISÃO PARCIAL DA “CRISE MODERNA” BRASILEIRA

B) – ANTILIBERALISMO E AUTORITARISMO

C) – ESTADO NACIONAL, ESTADO MODERNO, ESTADO DEMOCRÁTICO, ESTADO AUTORITÁRIO E ESTADO CORPORATIVO.

D) – A “QUESTÃO SOCIAL”: ‘A INCORPORAÇÃO DO TRABALHADOR NO ESTADO’

E) – RACISMO E ELITE

F) – RURALISMO E URBANISMO

G) – ‘PROGRAMA ECONOMICO’

H) – FONTES TEÓRICAS E DOUTRINÁRIAS DO PENSAMENTO SOCIOLÓGICO DE OLIVEIRA VIANNA

A OBRA DE OLIVEIRA VIANNA COMO UMA VISÃO PARCIAL DA “CRISE MODERNA” BRASILEIRA

 

Por se tratar de um fichamento darei ênfase aos conceitos utilizados por Oliveira Vianna no intento de captar a dinâmica histórica de categorias como: conservadorismo, liberalismo, socialismo. Busco demonstrar as variações possíveis destas categorias a partir da trajetória intelectual deste autor, evitando desta maneira conceitos estanques que a priori visam mais congelar o pensamento do autor do que absorvê-lo dentro de seu contexto histórico. Tem-se assim o contexto do processo de implantação do capitalismo brasileiro a partir da perspectiva de classe.

O resultado é uma interpretação do Brasil, a partir de uma perspectiva histórica e sociológica. Oliveira Vianna como mostra Jarbas Medeiros, apresenta mais continuidade em seu pensamento do que rupturas, mesmo a despeito da extensão de sua obra.

No campo do Pensamento Social Brasileiro a interpretação histórica sempre foi cara como recurso heurístico para explicação do Brasil. Profundamente marcado pelas experiências das duas grandes guerras, Oliveira Vianna, interpreta o processo histórico a partir da necessidade da formação dos estados-nações. Há desta maneira de se considerar as doutrinas remanescentes do Séc. XIX; conservadorismo, liberalismo e socialismo como balizas teóricas de um programa político próprio do autor. O contexto histórico como analisado pelo autor se divide em uma perspectiva macro e micro, importante para fundamentar o projeto nacionalista de Oliveira Vianna dentro de marcos históricos como a ascensão do Estado Liberal em alguns países, dos Estados Totalitários-fascistas e dos Estados Socialistas. Todavia, estas perspectivas são sempre contrastadas para a formulação de um programa político próprio para o Brasil, do qual a partir de uma perspectiva nacionalista, o processo histórico político brasileiro assume a frente central de sua justificação programática, a partir de uma crítica que busca ser contundente.

Para tanto, o ator alude a uma perspectiva que dá ênfase a uma proposição pragmática de organização e construção do Estado. Esse viés valoriza a iniciativa técnica e administrativa como principal via da construção da nação que deve ser dirigida por um poder executivo forte. Este apontamento tem como justificação o lapso temporal no processo de desenvolvimento do Brasil causado por uma amorfia utópica. Segundo o autor o processo de modernização do Estado Brasileiro foi mal conduzido pela predominância do pensamento liberal na política da Republica Velha e que era remanescente desde 1870. Assim, a política criticada pelo autor levou a cabo uma profunda degradação das instituições políticas através do entreguismo à políticas localistas (federalismo) que não tinham como meta a centralização estatal indo, por conseguinte, na contramão da história.

Em um contexto onde a soberania, territórios, economia se faziam a exemplo do plano do New Deal, de intervenção do Estado na política econômica, à emergência das “questões sociais”, Oliveira Vianna preocupa-se com a aplicação de um programa político específico ao país com tendências nacionalistas. Estes programas não estavam em questão apenas no Brasil, mas representavam um processo de interiorização do desenvolvimento econômico a nível nacional, considerando um imperialismo global que se espalhava por todo mundo. Ao mesmo tempo em que a proposta de Oliveira Vianna mostra uma necessidade de mudança, seu estatuto ideológico está amplamente ligado às elites dirigentes do patronato brasileiro. O que vale considerar é que mesmo sendo critico deste mesmo patronato, o maior problema de fundo para Oliveira Vianna é justamente a “modernização” através de uma reeducação das elites dirigentes.

Contexto: República Velha, Primeira Guerra Mundial, Movimento Tenentista, Revolução de 30, Revolução Paulista de 1932, Estado – Novo, Segunda Guerra Mundial.

ANTILIBERALISMO E AUTORITARISMO

Como reflexo do nacionalismo de Oliveira Vianna sua política social refletia uma questão básica e seus três desdobramentos, que segundo Medeiros representavam suas preocupações fundamentais: a unidade nacional – compreendida em sua dimensão territorial, política, social e econômica. Essas três variantes se desdobram em projetos que pensam a soberania, a política da república velha, donde o liberalismo como doutrina fomentadora sofre profundas crítica (processo eleitoral inclusive). No âmbito político um resgate do paternalismo, tendo em vista a dominação “natural” via explicação cientificista e racista da legitimação dos “Senhores de Terra” como os únicos descendentes dos povos brancos, com ascendência européia e do qual o projeto civilizatório seria provado pela história como o mais oportuno. Sobre o social a dificuldade de leitura de doutrinas outras que não consideravam a realidade sociológica e histórica do Brasil pela ausência de viés classistas ou por falta de classes efetivamente organizadas. Quanto ao caráter revolucionário sua critica incindia sobre o grau de solidariedade entre o povo e as elites, que no Brasil se daria a partir de relações sociais extremamente harmoniosas. E por último, o aspecto econômico, tencionava uma proposta de diversificação da economia, tendo em vista a volubilidade de uma economia latifundiária e monocultura vítima das oscilações internas, assim preconizando uma união de interesses por parte dos industriais em pró de um sentido comum, que seria a nação.

Também é proposta de Oliveira Vianna uma modernização institucional, que nas palavras de Medeiros seria “sinônimo de corporativismo, sobretudo administrativo” e por fim, e consequentemente, a conciliação das classes sociais, sendo sua falta justificada pela ausência do Estado (República Velha) nas questões sociais, cabendo a este a organização dos interesses.

È interessante mostrar como no pensamento de Oliveira Vianna ser concilia uma ideia de democracia com o autoritarismo. Para este o autoritarismo, impunha-se como o recurso “natural” tendo em vista a soberania da nação. Democracia aos moldes liberais soava artificialismo para Oliveira Vianna, inautenticidade oriunda da importação de idéias exógenas da realidade Brasileira. Sua questão era como pensar uma democracia sem povo. Neste caso, a via autoritária a partir do Estado centralizado seria a única solução contra um liberalismo importado da Europa que jamais esteve efetivamente enraizado entre nós. A importação de idéias faz jus à separação de um Brasil “real” – o sertanejo do interior versus um Brasil “bacharelesco” do litoral que se devaneava em idéias estrangeiras de referencias utópicas. É a partir desses apontamentos que fica claro como segundo Medeiros: “seria artificial a interpretação que qualificasse Oliveira Vianna como um conservador tradicionalista e empedernido do status quo”. Mesmo que muitas vezes o autor sustente posições desta natureza. É esta ambigüidade que torna o pensamento de Oliveira Vianna entendido em sua dinâmica histórica. Alterando suas posturas de comprazia aos “grandes líderes” conservadores, que segundo o autor foram os que em momentos decisivos da História do Brasil, foram os únicos que capazes de uma atitude séria, mesmo a despeito das estruturas políticas nas quais atuavam. No entanto, se faz um ferrenho crítico das instituições sociopolíticas tradicionais que engendram suas propostas de reformas “modernizantes”.

Como caracterizado as estrutura do Poder por Oliveira Vianna ficavam em uma oscilação entre “Poder local – latifundiário autocrático e semi-autárquico – e o Poder central. Segundo o autor as mazelas de nossa história são reflexos de um pendor para o primeiro, a partir desta premissa é que se faz ferrenho defensor do segundo”.

O conceito de Estado Moderno unificaria um Governo “forte” intervencionista, aí entendido o Executivo Federal, seria assim a forma de um Estado que seguisse as tendências históricas, conciliando as tendências exteriores com a realidade Brasileira. Sua crítica ao liberalismo é que: “Entre nós, liberalismo significa praticamente, e de fato, nada mais do que caudilhismo local ou provincial”. Tal posição reflete claramente a apropriação do público pelo privado, ocorrência sempre autoritária de nossas elites que nunca tiveram um sentimento de liberdades da coisa pública. É neste contexto que ele propõe uma disciplinarização das elites. Segundo Oliveira Vianna, as três instituições que teriam capacidade de influenciar o Estado na condução desta tarefa, eram as “forças armadas”, os “clube dos escoteiros” e a “Igreja Católica”.

Contra a doutrina liberal que aqui equivaleria a um projeto de nação – deve-se observar que esta questão era fundamental para época –  em contraposição ao que chamavam de anarquia, desintegração e a morte. “Desta catástrofe tremenda nos salva o espírito conservador” (Medeiros Apud P.M.B. p. 267, 321, 324, 341,357). Chama então os exemplos históricos de Feijó, dos Vasconcelos, dos Uruguais, dos Paranás, dos Caxias e de Dom Pedro II. Que tinham segundo o autor: “espíritos gloriosos de ‘reacionários’, claras mentalidades de tipo realista e objetivo, que tiveram a compreensão exata e lúcida da missão de autoridade e do Poder Central numa nacionalidade em formação, como a nossa.” (Medeiros, apud P.O.P. D p. 135). Paladinos do contra separatismos, regionalismos, particularismos ensejados pelo pensamento liberal.

O grande problema de um pensamento democrático republicano e liberal, segundo Oliveira Vianna para o Brasil seria a ausência de  povo, a inexistência de solidariedade social e espírito público, e um regime representativo não vingaria, assim, sem uma opinião pública.

A partir de 1927 as críticas de Oliveira Vianna eram dirigidas, principalmente, ao programa da Aliança Libertadora e do Partido Democrático de São Paulo. Não obstante, voltava sempre à crítica dos partidos políticos da Republica Velha, como uma democracia dos coronéis, inaptas ao governo e que representava tão somente “frações de clãs feudais, parentais e eleitorais”. Sua crítica perfaz a distancia do Direito elaborado pelas elites, e o Direito costumeiro do povo massa, construindo uma dicotomia entre o Brasil legal e o Brasil real. “Conclui: Nós, na verdade, nunca , nunca tivemos Governo praticamente democrático… o nosso povo-massa… realmente nunca governou: sempre recebeu de cima, do alto… a lei, o regulamento, o código, a ordem administrativa, a cédula eleitoral, a chapa partidária.” ( I.P.B. v2, p,211)

Pelo processo histórico brasileiro, que segundo a analise de Oliveira Vianna, a democracia liberal é fruto de estágios como: Estado-Aldeia, Estado-Imperial e Estado-Nação.  O Brasil não tendo o primeiro estágio, nascendo diretamente como Estado-Imperial, apesar do determinismo analítico, Oliveira Vianna fundamenta o autoritarismo sobre essas bases. Desta forma, então, o liberalismo sempre é visto como ameaça por Oliveira Vianna. Seu projeto é de reafirmação do Poder Central mediante uma modernização institucional, sendo este, o lócus de produção de uma sociabilidade ajustada pela política da conciliação de classes, com o objetivo único de construção do Estado-Nação.

 

ESTADO NACIONAL, ESTADO MODERNO, ESTADO DEMOCRÁTICO, ESTADO AUTORITÁRIO E ESTADO CORPORATIVO.

 

Democracia nacional em detrimento à democracia federativa como questão de um problema de teoria política norte – americana, estava aí a problemática sócio – política brasileira em que o autor fazia opção pela primeira. Democracia nacional representaria a solidariedade social e espírito público necessários ao desenvolvimento da nação levando em consideração nosso histórico. O conceito de Estado Nacional representava a ênfase no poder central, tendo em vista o projeto liberal efetivo no republicanismo liberal da Primeira República, que somente em nível econômico foi superior ao Império; a política de construção da Nação via fragmentação do poder pela opção federalista, acabou por não lograr êxito, resultado da ineficácia institucional que culminariam nas revoltas da década de 20.

Segundo Oliveira Vianna, o problema da organização política brasileira não estaria no voto, e sim na organização da opinião. Isto se daria pela organização das classes, que segundo o autor não existiam no Brasil. Essas classes não estariam realmente organizadas, exceto as forças armadas. “Essas grandes classes populares – que são os órgãos principais da elaboração da opinião britânica – não têm aqui organização alguma, ou têm uma organização rudimentar, sem eficiência apreciável sobre os órgãos do Poder, dada a enorme dispersão demográfica do país: e é a classe agrícola, a classe industrial, a classe comercial, a classe operária. Todas essas classes vivem em estado de semiconsciência dos seus próprios direitos e dos seus próprios interesses, e de absoluta inconsciência de sua própria força. São classes dissociadas de tipo amorfo e inorgânico, sem qualquer influencia direta nos órgãos do Poder… Não existe sentimento de interesse coletivo.” È neste quadro que os partidos políticos são esvaziados de interesses, representando no lugar de associações: comerciais, industriais, etc…regionalidades, como o PRP e o PRM, que no fundo estão representando verdadeiros políticos profissionais em relações clãnicas, e não de interesses coletivos. Propõe assim uma profunda transformação de nossos costumes políticos.

Assim seu modelo político termina no elogio do Estado coorporativo, que segundo Medeiros são de influencia doutrinaria da Igreja Católica e do modelo de intervencionismo estatal do New Deal rooseveltiano. A separação do corporativismo das instituições autoritárias, como sua preocupação, se fundamenta no fato de que o corporativismo “referia-se, sobretudo ao ‘ método corporativo de administração pública”. Autarquias e Institutos eram, assim, entes corporativos. Originando assim as atividades de planejamento institucional. “Estado moderno, Estado autoritário, Estado corporativo, Estado Nacional, para ele seriam expressões das novas sociedades de massas”. Assim a substituição de uma política que tenta garantir a liberdade dos indivíduos – liberalismo – deveria sim ser substituída por uma que garanta a liberdade de grupos, trazendo desta forma um deslocamento do individuo para o grupo organizado de acordo com o interesse do Estado Nacional. Isto não apenas no nível das idéias, mas também, no plano sentimental. Assim a práxis política seria alterada por meio dos conselhos administrativos que atuariam na definição das políticas públicas, não mais personalizadas em frações partidárias “caducas” e que perfazem toda história do Brasil do Império à Revolução de 30. Marco fundamental para Oliveira Vianna.

É a partir de 30 que Oliveira Vianna assume um cargo no Ministério do Trabalho recém criado pelo governo de Getúlio Vargas e trabalha pela modernização das instituições citando aí: a Justiça Eleitoral, o Estatuto dos Funcionários Públicos, a Legislação Social Trabalhista.

 

A “QUESTÃO SOCIAL”: ‘A INCORPORAÇÃO DO TRABALHADOR NO ESTADO’

 

A questão da solidariedade entre as classes é a forma como trata Oliveira Vianna a questão social. Sempre com referência ao conceito de raça como fundamentador das desigualdades sociais. Mas que no Brasil fora tratada, segundo o autor analisando historicamente, como não preocupante. Oliveira Vianna destaca a bondade natural do senhor de escravos para com os negros, e que moralmente a relação piedosa dos senhores sempre foi uma peculiaridade de nossa formação racial. Levando em consideração as teorias antropológicas racista do começo do Séc. XX, então em voga para explicar a superioridade do branco, fazendo dele o principal agente de uma política moralmente alicerçada. Para ele, no Brasil nunca tivemos uma aristocracia de castas ou de classes, a aristocracia teria sido aqui uma aristocracia natural da inteligência e da riqueza. O senhor então nunca foi tido como inimigo ou opressor, a prova histórica disso está amparada nas relações de compadrio, por exemplo. Dizendo que: “o homem do povo-massa esteve sempre só e isolado sem o senhor de terra”.

A aplicação de uma política social, a qual estaria presente na legislação trabalhista posterior, perpassava um caráter conciliatório. Neste contexto que a importação de teorias seja elas, liberal ou socialista, se esvaziam no contexto brasileiro.  A última levando em consideração que o proprietário de terra não era vista como inimigo, a idéia de uma revolução como a bolchevista aqui seria vazia. Outro fator seria a disponibilidade de terras que amenizariam o conflito social, se fossem levados em conta, programas de desenvolvimento de regiões inabitadas, com gerência do Estado para arbitrar os interesses individuais.  A questão social deve ser tratada a partir de orientações sindicalistas, sem objetivos revolucionários, colocando o governo central a disposição das demandas trabalhistas em conciliação com os interesses dos burgueses em pró do bem com que é o Estado nacional. Pelo desenvolvimento do espírito de cooperação e solidariedade. Assinalando a diferença do sindicalismo por ele exposto do sindicalismo doutrinário da Itália, da França ou Espanha que era radical, dinamiteiro e subversivo. O programa assim legalizava a luta de classes que anteriormente era tratada com “porrete”, mas colocando na mão do Estado o responsável pela a organização dos conflitos sociais.

A postura a favor de uma industrialização no lugar de um primitivismo comunista, maximalista ou soviético se apoiava diretamente na necessidade de crescimento econômico e não apenas em reformas políticas. Outro ponto importante é sua proposta de integração das classes produtoras na estrutura do Estado, a partir dos conselhos técnicos – tema que segundo Medeiros desenvolverá até chegar ao Estado Coorporativo. A diferença entre este corporativismo e os de Estados Totalitários, estaria na identificação das corporações administrativas ao modelo norte-americano de agencies, boards, coorporations e as commissions. Desta forma, para Oliveira Vianna como ressalta Medeiros, os conflitos trabalhistas, a luta de classes, as greves, as sabotagens, a “desordem geral, enfim eram características do estado Liberal, intrinsecamente “absenteísta” nessas questões”. Propondo assim uma solução nacionalista, moderna na gerencia institucional a partir de leis trabalhista, de um poder Executivo forte e de um Judiciário também forte, autoritária e coorporativa, que coloca os interesses afinados a um bem comum, que é a nação dirimindo destas foram os conflitos a partir de uma atuação mais eficaz do Estado.

A passagem que sintetiza tal posição de um capitalismo social seria a identificação de duas fases do capitalismo: “a inicial de um capitalismo ‘selvagem’, da ‘desumanização’ do trabalho, o capitalismo do ‘supermundo dos ricos e do inframundo dos pobres’, fase esta que corresponderia, de certa forma, ao Estado Liberal, ao laissez-faire; e a fase ‘moderna’, característica da ‘mentalidade do Séc. XX’ – do moderno Estado corporativo – da ‘nova política social’, inspirada diretamente no pensamento social da Igreja Católica, visando a ‘restauração da dignidade da pessoa humana’ do operário.” Essas forças conservadoras convergem com o pensamento conservador europeu que propunha tal Estado Social em detrimento ao estrago feito pelas políticas liberais tanto em termo econômicos, como sociais visto no aumento de greves, guerras, e crises econômicas tornando a situação insustentável. O pensamento de Oliveira Vianna sistematiza essa crítica através de um programa político de mudanças para as elites, sem mudança na estrutura como um todo. O equivoco estava na forma de fazer política sem concessões já que dada à desigualdade natural dos homens (legitimada cientificamente nas diferença das raças para o autor), ter-se-ia que levantar o fundamento moral cristão como o da caridade para o estabelecimento da conciliação rompida pelos interesses egoístas travestidos no ideal de liberdade liberal.

Este pensamento se desdobra na política de Getulio Vargas a partir do viés da colaboração com o desenvolvimento do Estado, que representaria o interesse de todos. As medidas tomadas como a filiação dos sindicatos a partidos políticos bem como a organizações internacionais como a da III Internacional Comunista, mostravam o caminho de um corporativismo reformista para a época. Cabia dessa forma ao Estado organizar a estrutura produtiva do país de maneira justa.

RACISMO E ELITE

O processo histórico é interpretado por Oliveira Vianna à luz das teorias antropológicas racistas que colocava o projeto de civilização perpetrado pelos ‘arianos’, como os mais desenvolvidos e explicado a partir das desigualdades raciais. Essas desigualdades estavam ligadas tanto à inteligência, como a cultura, moralidade, entre outros. A partir destas noções Oliveira Vianna interpreta que o processo histórico brasileiro seria de uma regressão lastimável senão fosse à presença de nossa “alta classe rural” representante do arianismo. Colocando assim a “elite” como representante indiscutível de nossa mentalidade coletiva. Assim, defende a ação arianizante das seleções étnicas através do processo de ‘clarificação’ dos brasileiros, como saída para o nosso desenvolvimento. Era contra a mestiçagem que segundo teorias correntes degradava a raça, tornando o povo mais fraco. O espírito aventureiro dos bandeirantes herdado do aventureirismo português era um valor ao qual a nacionalidade brasileira deveria ser apegar. Desta forma, o autor interligava a superioridade das raças com as classes sociais dirigentes.

Lamenta, segundo Medeiros, o desinteresse científico para com o conceito de raça, ocorrido a partir dos anos trinta, tomando como justificativa a América como um lugar onde este tema teria profunda relevância. Para tanto, procurava recolocar a etnologia sobre bases cientificas com auxilio de disciplinas como a psicologia social, biometria, psicometria, e biotipologia. Oliveira Vianna ia, assim, na contramão das tendências que se tornariam então dominantes e que refletiram na obra de Gilberto Freyre, a partir da transição mediada do conceito de raça para o de cultura, sob forte influência da Antropologia Cultural norte – americana, fruto das críticas de Franz Boas ao conceito de raça que elevava o aspecto cultural como tema principal.

Esta postura racista se reflete, diretamente, em Populações Meridionais para explicar a riqueza da região centro-sul em detrimento ao restante do país, onde se formou uma política eugenista das matrizes de nossas elites dirigentes.

RURALISMO E URBANISMO

 

INTERPRETAÇÃO DAS REVOLUÇÕES BRASILEIRAS

 

(falta revisão e continuação dos tópicos)

Revista Ameríndia

Writting Against Culture” publicado em “Recapturing Anthropology: Working in the Present, ed. Richard Fox. Santa Fe, NM: School of American Research” de Lila Abu-Lughod.

Lila Abu-Lughod é Professora na Columbia University. Seu trabalho publicado em 1986: “Veiled Sentiments: Honor and Poetry in a Bedouin Society. Berkeley: University of California Press.” conferiu-lhe o título de Phd. em Antropologia pela Harvard University. Entrou para a lista dos 21 melhores livros dos estudos conhecidos como “Middle East Studies”, cuja figura de peso é Edward Said com seu clássico Orientalism. Seu campo foi em uma comunidade Beduína no Egito, onde trabalhou com os temas emoção, poesia e ideologia de gênero sob uma perspectiva de crítica ao conceito de cultura. Seus interesses maiores são políticas feministas no mundo Árabe e pós-colonialismo.

Writting against culture estabelece um dialogo direto com Writing Culture (Clifford and Marcus 1986). Relata o papel de grupos tratados sem grande ênfase pelo livro – feministas e “halfies”*. Problematizando um dilema fundamental presente na Antropologia Cultural: a distinção entre o “eu” e o “outro”. Halfies como tratados no texto são pessoas cuja identidade cultural ou nacional é múltipla em virtude de fatores como migração, educação estrangeira ou filiações. Segundo nota da autora este termo foi tomado emprestado de Kirin Narayan. A autora explora como a prática antropológica de algumas feministas e halfies ajudaram a fazer enxergar na dicotomia da distinção do “eu” e “outro”, presente no conceito de cultura, as relações de poder neles presentes. Daí ser necessário escrever contra a “cultura”. O argumento da autora é de que o conceito antropológico de “cultura” tende a reforçar separações (“eu” e “outro”) que, inevitavelmente, desembocam em construções de relações hierárquicas. Desta forma a autora propõe, tomando como tática humanista, uma estratégia textual que visa reduzir os efeitos desta divisão hierárquica através de estratégias, dando enfase a uma em especial, pela qual a autora se refere como “etnografias do particular” – ethnographies of the particular.

O primeiro ponto a ser tomado vem de considerações de Marilyn Strathern (1985, 1987a). Esses pontos referem-se a uma relação de ingratidão entre a antropologia e o feminismo, e isto após pontuar a relação de diferença com o “outro”; ambas constituindo os seus “eus” em relação ao “outro”- tanto a teoria feminista na qual o “outro” é visto como opressor, quanto a antropologia que não o considera como tal. Se nas escolas feministas, o que vale também é “marcar a diferença”, nessa marcação de diferença o “outro” aparecesse como opressor, ao contrário do que acontece na prática antropológica, este “outro” não é visto como um opressor. Continuando as implicações das relações entre o “eu” e “outro”, implícitas no conceito de cultura como tratado pelos antropólogos, Abu-Lughod chama atenção para o fato de que a disciplina antropológica foi construída na oposição ocidente e não-ocidente, e de que isso resulta no seguinte fato: quem é tratado como o “Outro” é o não-ocidente e o ocidente como o “eu”. Assim, quando do encontro etnográfico, essas vozes (ocidente e não-ocidente) são dispostas nestas configurações que implicam relações de dominação por parte deste “eu” sobre o “outro”. Tal relação delineia um caso concreto, diametralmente oposto ao colocado por Marilyn Strathern com relação à posição das feministas e a antropologia, onde o “outro” aparece como opressor.

Há de se somar a este problema, a questão da representação. O exemplo usado pela autora é o da crise da Teoria Feminista. Quem é a mulher? A representação preconizada inicialmente estava ligada à mulher norte-americana, branca, de classe média. Esses movimentos passaram a ser questionados pelo “padrão” colocado do que era ser mulher, por lésbicas, negras, etc. A resolução teórica foi a de deslocar a categoria “mulher”, para “mulheres” e gênero preocupando-se com a não-essencialiazação e naturalização dessas representações como acontecia anteriormente quando os referentes eram fixos. Desta crise a teoria feminista ofereceu para a antropologia dois pontos importantes, segundo a autora: “First, the self is always a construction, never a natural or found entity, even if it has that appearance. Second, the process of creating a self through opposition to an other always entails the violence of repressing or ignoring other forms of difference. (ABU-LUGHOD, p. 140, 1991.). Essas questões perpassam a problematização da noção de cultura com representante da distinção entre o “eu” e o “outro” e as relações de poder aí envolvidas. Logra-se uma importante constatação na prática etnográfica, feministas e Halfies – segundo Abu-Lughod-, estão numa situação de bloqueio da habilidade de assumirem confortavelmente a posição de “eu” na antropologia. Este fato abre o flanco da discussão para três outras questões que a autora considera como crucial: a posição, audiência e o poder inerente nas distinções do “eu” e “outro” antropológicos.
A rigor, a autora sugere a crítica na relação de poder que o antropólogo tem sobre seus informantes, no que diz respeito à construção textual, a idéia é “levar o outro a falar”, fazendo um texto dialógico ou polivocal, o que a autora coloca como uma descolonização em nível textual.

O problema do conceito de cultura

Segundo Abu-Lughod, sendo o conceito de cultura a principal ferramenta de se construir o “outro” , e como um discurso profissional elaborado pelos antropólogos busca elaborar e explicar a diferença cultural, consequentemente a antropologia constrói, produz e mantém esta mesma diferença a partir deste conceito. Isto através das implicações da separação entre os grupos, ainda produzida com um ar auto-evidente. O que se sabe, segundo a autora, é que esta diferença é construída, não é natural, essencializada. Ocorreu com o conceito de cultura na História da Antropologia, o que houve com o conceito de raça e etnia anteriormente, diferenças dadas como naturais, e não como historicamente produzidas nas relações entre os grupos. No entanto, como diz a autora o maior avanço sofrido neste conceito em relação aos precedentes é o fato de ter removido a diferença entre o real e o natural e inato. A cultura é aprendida e pode ser mudada. A grande questão colocada e que assume uma significação fulcral para teoria pós-colonial é o fato de a despeito do intento anti-essenssialista obtido mediante a relativização do conceito, o conceito ainda retém a capacidade de congelar a diferença e, consequentemente, oferece os problemas discutidos anteriormente. O exemplo utilizado pela autora é bastante clarificador da questão: Said mostra em Orientalism como o discurso do Orientalismo foi construído através da distinção entre ocidente e oriente, e como no séc. XIX, a diferença cultural, e não raça, ao dar ênfase em aspectos culturais, tais como religião e língua, foram os principais conceitos utilizados para entender diferenças econômicas, de governo, caráter e tudo o mais. O interessante é pensar que a mesma noção de cultura tomada como essencializada, justifica o aparecimento de Gandhi, o grande líder espiritual da Índia, comparando o materialismo e a violência do ocidente, e os mulçumanos comparando um grande apego na fé em detrimento à imoralidade e corrupção do ocidente. Ambos os fatos, como escritos no texto de Abu-Lughod, tomam os termos essencialistas como os da Escola Orientalista: “the preserve the rigid sense of difference based on culture (1991: 144)”

Outro ponto colocado como problemático no conceito de cultura segundo a autora, é sua relação com a etnografia. Este recaí em uma ênfase no fator coerência. Para colocar o problema Abu-Lughod cita Clifford com a seguinte colocação: ” the discipline of fieldwork-based anthropology, in constituting its authority, constructs ans reconstructs coherent cultural others and interpreting selves (Apud Clifford 1998b:112)” e ” diverse experience and facts are selected, gathered, detached from their original temporal occasions, and given enduring value in a new arrangement (Apud Clifford 1988a:231)”. Como então ficaria a etnografia se se compromete como mostrado nesse emaranhado de problemas referentes à representação discursiva, oriunda de um conceito central para a análise da realidade social de determinados grupos? Utilizando o conceito de cultura como principal ferramenta analítico-explicativa, ou os que queiram interpretativas, com vista a dirimir a problemática hierárquica implícita na produção deste conhecimento sobre o outro? Tendo todos esses problemas em mente, é que a autora vai, a seguir, propor “três maneiras de se escrever contra cultura”.